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O farsante Marcelo (Wagner Moura) encarna a figura do líder da banda Legião Urbana, Renato Russo, em um bordel em Cuiabá | Divulgação
O farsante Marcelo (Wagner Moura) encarna a figura do líder da banda Legião Urbana, Renato Russo, em um bordel em Cuiabá| Foto: Divulgação

São Paulo - Frank Abagnale Jr. fingiu ser médico, advogado e copiloto para aplicar golpes milionários. Mas o falsário interpretado por Leonardo DiCaprio em Prenda-me Se For Capaz (2002), de Steven Spielberg, não chega aos pés do maringaense Marcelo Nascimento da Rocha.

Preso em 2001, o maior mentiroso do país teve sua carreira de "ator na vida real" interrompida após fingir ser o filho do proprietário da companhia aérea Gol, Henrique Cons­­­tantino, para farrear por quatro dias no Recifolia, o pré-carnaval pernambucano, onde se exibiu ao lado de celebridades, gastou mais de R$ 100 mil e manteve à sua disposição um jatinho e um helicóptero.

"Ele (Abagnale) não pilotava aviões como eu", gabou-se Marcelo, em entrevista recente à televisão. E tampouco encarnava com tanta sinceridade as 16 identidades que o brasileiro assumiu em 29 anos de picaretagem. "Quem dera eu conseguir ser tão honesto ao interpretar meus personagens", brincou o ator Wagner Moura em entrevista à Gazeta do Povo, em São Paulo, na última segunda-feira (21). Ele vive três das identidades inventadas por Marcelo no longa-metragem VIPs (confira trailer, fotos e horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza), dirigido pelo paulista Toniko Melo, que levou as estatuetas de melhor filme, ator (Moura), ator coadjuvante (Jorge D’Elia) e atriz coadjuvante (Gisele Fróes) no Festival do Rio.

A interpretação do ex-Capitão Nascimento certamente não vai agradar ao estelionatário, não porque não esteja à altura de sua própria capacidade de convencimento, mas porque o ator baiano preferiu nem sequer conhecê-lo para criar seu personagem. "O Marcelo que me agradou não é o que vi na televisão, dando entrevistas, mas o do roteiro, que conta a história de um menino em busca de si mesmo. Podia ser um filme sobre um falsário, um 171, mas fizemos uma opção estética", diz.

Toniko Melo faz questão de frisar que não fez uma cinebiografia. Mesmo porque narrar a trajetória de Marcelo seria narrar golpes e mais golpes, o que tornaria o filme "tedioso" e iria contra a sua intenção de fazer um filme de viés psicológico, que investiga as motivações de um jovem que muda de personalidade como muda de roupa, uma forma de se alienar da própria vida. "Ele não inventa só para os outros, mas para si mesmo, para sobreviver à própria realidade", diz Bráulio Mantovani (Tropa de Elite), que assina o roteiro com Thiago Dottori.

O adolescente Marcelo, apelidado pelos colegas de Bizarro, não quer ser um Zé Ninguém como teme sua mãe (Gisele Fróes), dona de um salão de beleza com as paredes forradas de fotos de celebridades. "A superficialidade dela contribuiu muito para construir a sua maneira de lidar com a própria identidade. Ele está sempre tentando corresponder às expectativas dessa mãe", analisa Wagner Moura. Disposto a realizar seu sonho de ser piloto de avião, ele foge de sua cidade, provavelmente no interior do Paraná, para trabalhar em um hangar em Cuiabá.

Lá, se transforma em Carrera, piloto de um traficante de armas, tempos antes se "tornar" Henrique Constantino e, já preso na penitenciária de Bangu, um líder do PCC. "Para o ator, é tentador querer fazer os três papeis de formas bem diferentes. Cuidei para não cair nessa armadilha porque eles não são três personagens, mas um só, o Marcelo, um cara que vai se experimentando", diz Wagner Moura.

A repórter viajou a convite da produção do filme

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