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Berlim – Desde seu primeiro filme – Doze Homens e uma Sentença,hoje um clássico do cinema –, Sidney Lumet muitas vezes enveredou pelos gêneros policial e de tribunal em títulos como O Veredicto, Sérpico, Um Dia de Cão e Sem Lei, Sem Justiça, entre outros. O cineasta retorna ao tema com um novo trabalho, Find Me Guilty, exibido na quinta-feira na mostra competitiva do 56.° Festival de Berlim.

O veterano diretor concorre ao Urso de Ouro com jovens ainda consolidando carreira e até com estreantes. Seu nome, no entanto, já bastou para lotar todas as sessões do filme e provocar uma corrida em busca de ingresso para a prestigiada noite de gala, com a presença dele e parte do elenco.

Find Me Guilty, escrito por Lumet e os estreantes roteiristas T. J. Mancini e Robert McCrea, trata da vida real do mafioso Jack DiNorscio. O filme abrange o período de 1987 a 1988, quando aconteceu seu julgamento – e de 19 outros membros da família mafiosa Luchese –, que se transformou no mais longo caso criminal na história da Corte distrital dos EUA.

Pressionado para entregar seus chefes, o mafioso, sem querer ser chamado de delator e nem trair a ira de ex-companheiros, arquiteta um plano para defender a si próprio ao invés de contratar um advogado. Arquiteta, executa e ganha. DiNorscio é vivido por Vin Diesel, para cujo papel Joe Pesci (Os Bons Companheiros) tinha sido cotado. Mas quando as negociações chegaram a um impasse, Lumet pressionou e conseguiu que o papel fosse de Diesel.

"Vi a interpretação dele em O Primeiro Milhãoe fiquei entusiasmado", disse Lumet na coletiva, da qual participou a reportagem do Caderno G. "Acho que a carreira dele vai disparar",complementou. Diesel devolveu dizendo que o melhor de tudo foi poder se "entregar" completamente a Lumet. "Ele me dizia por onde ir e para mim foi uma benção trabalhar com um diretor que eu estudei e admirei por tantos anos", afirmou.

O ator – mais conhecido por filmes de ação – acha graça de tantas perguntas quanto às razões de, desta vez, ter atuado em um drama. "No início de minha carreira, eu fui até leão de chácara e gastei muita sola de sapato procurando emprego, inclusive no off Broadway. Portanto, não é estranho aceitar o convite para atuar num filme de drama, até porque o que me atraiu foi o personagem, não o gênero", contou, discorrendo sobre sua identificação com DiNorscio, que morreu quase ao fim das filmagens. "Eu tinha muita vontade de conhecê-lo e ele veio me ver no set, de cadeira de rodas. Ele morreu no dia em que filmávamos a morte de sua mãe, que, na vida real, ocorreu durante o julgamento", contou o ator.

Respondendo a uma pergunta acerca do motivo de realizar tantos filmes sobre tribunal, Lumet disse que não tem idéia de porque sente essa atração pela justiça." Eu era garoto, durante a época da depressão, e a primeira pessoa que conheci e gostei foi um policial. Pode ser isso, mas na verdade eu faço meus filmes por instinto. Faço porque amo o cinema, tanto quanto amo minha mulher e meus filhos. Sinceramente, eu relaxo fazendo um filme, muito mais do que quando estou em férias", revelou.

Lumet dirige com mão firme seus personagens, que são pessoas vivendo dilemas ou marginalizadas, tendo que superar obstáculos de si mesmas ou da sociedade que as cerca. Do alto dos seus 82 anos, o consagrado cineasta mostra uma vitalidade e um frescor difícil de encontrar em diretores de sua geração e até mais jovens. No ano passado, Lumet ganhou um Oscar honorário pelo conjunto da obra, mas seus filmes são ainda tão cheios de energia que nos levam a pensar na precocidade desse prêmio, normalmente oferecido para diretores em fim de carreira. Não é, definitivamente, o caso do cultuado diretor.

Bolsa de apostas

Até o momento, os favoritos ao Urso de Ouro 2006 são A Prairie Home Companion, de Robert Altman, seguido de Grbavica, de Jasmina Zbanic, e The Road To Guantanamo, de Michael Winterbottom. Altman pelo seu resgate nostálgico e emocionante do lendário show de rádio de Garrison Keillor. Grbavica principalmente pelo seu lado emocional, já que o longa é sobre mulheres que durante a guerra civil da Iugoslávia perderam maridos e filhos. The Road..., por sua vez, pela crítica feroz ao governo americano e o forte impacto causado com a história de quatro amigos britânicos de origem paquistanesa, presos na base aérea de Kandahar, onde sofrem agressões físicas, abusos e torturas.

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