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Guilherme Weber conta que irá dirigir o filme Deserto no ano que vem | Divulgação
Guilherme Weber conta que irá dirigir o filme Deserto no ano que vem| Foto: Divulgação

Ele é um excelente ator, gosta de orientar outras pessoas com quem divide o palco e cria espetáculos ao lado de Felipe Hirsch desde o começo dos anos 1990, quando a dupla montou Baal Babilônia em Curitiba e fundou a Sutil Companhia de Teatro. Mas alguma coisa estava faltando e, aos 35 anos, o curitibano Guilherme Weber descobriu o que era: dirigir um espetáculo próprio. Para isso, escolheu o dramaturgo americano Nicky Silver, em cuja obra a Sutil já habia se baseado quando fez Os Solitários e Pterodátilos. Nesta entrevista à Gazeta do Povo, Weber falou sobre esse seu novo empreendimento, Os Altruístas, que só chega em Curitiba no ano que vem:

Você se afastou da estética da Sutil?A estética da Sutil é a minha, porque fundei a companhia muito novo, junto com o Felipe. Fica difícil dizer o que é do repertório de cada um. Uma coisa em Os Altruístas que é muito forte é o trabalho corporal: gosto de marcações retas, geométricas, muito inspiradas na técnica de view point, de marcar quase como que numa coreografia. Levar a disciplina ao auge para atingir o virtuosismo.

E você? Por que precisava dirigir algo sozinho?Na Sutil eu nunca dirigi, mas assino a criação junto com o Felipe [Hirsch]. A vontade vinha de muito tempo, numa reunião de várias vontades. Uma delas é que sou absolutamente apaixonado por atores e queria estar mais em contato com eles, poder guiá-los de maneira mais plena. Tinha essa vontade artística e intelectual de dirigir integralmente sozinho, passar a entrar em contato com áreas das quais ficava um pouco afastado, como a trilha sonora, a iluminação, que eram muito assumidas pelo Felipe.

Você vai continuar com projetos na companhia?Para o ano que vem teremos outra versão de Hamlet, que já abordamos em Estou Te Escrevendo de Um País Distante, e vamos rever um pouco dele, mas será uma criação inédita. Também vou filmar neste mês Corpo Fechado em cima do conto de mesmo nome de Guimarães Rosa, com direção de Luiz Henrique Rios – é o primeiro longa dele. E ano que vem filmo meu longa Deserto, inspirado no romance mexicano Santa Maria do Circo, de David Toscana.

O que lhe atrai tanto em Nicky Silver?Sou bem fascinado pelos códigos dele. Silver tem um timing para comédia especialmente sedutor, com uma dicção muito própria. O que é essencial nele é que trata-se de um grande criador de personagens, e os diálogos são escritos para serem encenados como metralhadoras giratórias.

Como você aproveitou isso em Os Altruístas?Conduzi o elenco como se estivessem fazendo uma comédia clássica americana dos anos 1940. Pedia que eles se lembrassem da Katharine Hepburn e de outros atores que tinham um ritmo hipnótico como eu queria. Eu gostei do texto e da possibilidade de adaptá-lo, de dilatar mais a obsessão violenta e verborrágica.

Por que essa história é hipnótica?Um grupo de altruístas pretensamente radicais, disposto a derramar sangue em busca da paz, surge como retrato do mal. Todo coletivo tem a tendência de aviltar ou decantar seu próprio bem. E a virtude não pode ser anunciada por um indivíduo. A ironia é que, na peça, esse grupo é mantido pelo salário de uma diva de televisão à beira de um ataque de nervos. É um retrato intimista do imaginário que temos dos levantes do século 20.

E essa diva é Mariana Ximenes...Quando a Mariana me pediu para dirigi-la, fiquei seduzido pela metalinguagem quase "tarantinesca" [em referência ao cineasta Quentin Tarantino] de ter uma atriz de televisão representando esse papel.

De onde vem esse fetiche por um ator representando um ator?Desde Chaplin até Almodóvar, é muito sedutor ver alguém construir um universo a partir do seu próprio ofício. Nesse caso, com um humor bem politicamente incorreto, a Mariana acabou castigando seus próprios costumes, rindo deles. Ela cria uma paródia, uma farsa em cima do próprio trabalho. A Mari é minha amiga pessoal, e questionei se ela queria entrar nesse espaço negro e doloroso do texto de Silver, mas ela adora se desafiar e estava procurando sair do lugar comum.

Como se deu a escolha por uma música de Brecht?Fiquei seduzido por "A Balada da Dependência Sexual" quando escutei a versão do Carlos Careqa, assinada por Marcelo Marchioro e Celina Alvetti. Tinha tudo a ver com os personagens, que estão todos buscando o amor desesperadamente. E todos confundem sexo fantástico com amor verdadeiro. Tudo gravita muito em torno do fator sexual, então a música me pareceu ideal.

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