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Gloria (Oprah Winfrey) e Cecil Baines(Forest Whitaker) são personagens fascinantes | Divulgação
Gloria (Oprah Winfrey) e Cecil Baines(Forest Whitaker) são personagens fascinantes| Foto: Divulgação

US$ 115 milhões foi a arrecadação do filme nas bilheterias dos cinemas nos Estados Unidos, onde o longa fez muito sucesso.

Não é tarefa muito fácil falar mal de O Mordomo da Casa Branca. O filme de Lee Daniels (do premiado Preciosa – Uma História de Esperança) é tão forrado de qualidades, da reconstituição de época ao elenco, que seria quase natural que resultasse em um filme acima da média. Mas não é o que acontece. Talvez porque a produção seja vítima de um dos defeitos mais fatais quando se trata de narrar a vida de um personagem da vida real: o excesso de didatismo ao tentar dar conta das missões e, ao mesmo tempo, oferecer um personagem complexo, verossímil, e enfocar de forma não enciclopédica os acontecimentos históricos que o circundam e o definem.

Sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, onde rendeu cerca de US$ 115 milhões, O Mordomo da Casa Branca tem um argumento extraordinário: a vida de Cecil Gaines, um homem que saiu de um regime de semiescravidão, no sul dos Estados Unidos, e graças a muito esforço superou a miséria e foi contratado, na década de 1950, para servir em Washington o presidente Dwight Eisenhower (Robin Williams), cujos dois mandatos se estenderam de 1953 até 1961. Durante sua permanência no cargo de mordomo da residência presidencial, Baines teria contato direto, e diário, com sete outros chefes de Estado, entre eles John Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon e Ronald Reagan.

Sutileza

Forest Whitaker (de O Último Rei da Escócia) brilha ao optar pela sutileza para construir um personagem nada simples. Seu Cecil é um homem digno, devotado à família e ao seu ofício, mas um tanto dócil demais, quase subserviente, o que lhe impede perceber as transformações que o cercam. Por muito tempo, vê no filho Louis (David Oyelowo), que se torna um engajado militante na luta pelos direitos civis, um rebelde ingrato. E inconsequente.

Com a mulher, Gloria (Oprah Winfrey, forte candidata ao Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2014), Gaines também tem uma relação de altos e baixos. De personalidade mais exuberante, emocionalmente instável, e com problemas de alcoolismo, ela espera que o marido a surpreenda. Mas ele é um homem previsível, ainda que honesto e dedicado. Há muito amor na relação, mas falta, em muitos momentos, a paixão que ela tanto anseia.

Costurar

O maior problema de O Mordomo da Casa Branca está em não conseguir costurar a vida privada de Gaines a sua rotina fora do lar, na Casa Branca, onde é testemunha ocular, e involuntária, de momentos-chaves do século 20, como o assassinato de Kennedy (James Marsden), em 1963; o escândalo Watergate, que culminou com a renúncia de Nixon (John Cusack), em 1974; a relutância de Reagan (Alan Rickman) em condenar o regime do apartheid na África do Sul, em fins da década de 1980.

Todos esses acontecimentos passam pela tela de forma muito superficial, e os presidentes e suas primeiras-damas entram e saem de cena sem que tenham, de fato, se transformado em personagens de carne e osso. São pouco mais do que manequins falantes. Chega a ser risível que uma atriz da estatura de Jane Fonda seja desperdiçada em um par de sequências como a polêmica Nancy Reagan – vale lembrar que os republicanos ficaram enfurecidos que uma estrela sempre tão crítica ao partido tenha sido escalada para viver o papel de um ícone da direita norte-americana.

Obama

Ao fim dos 132 minutos de duração de O Mordomo da Casa Branca, que culminam com a eleição de Barack Obama, sobram boas intenções, mas também a sensação de termos feito uma viagem histórica panorâmica, mas sem o direito a um mergulho mais aprofundado que uma vida tão incrível como a de Baines merecia. GG1/2

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