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Atacante holandês Van Persie marcou na vitória do Manchester | Phil Noble/Reuters
Atacante holandês Van Persie marcou na vitória do Manchester| Foto: Phil Noble/Reuters

Serviço

Senhor Lambert

Sempé. Tradução de Mario Sergio Conti. Cosac Naify, 64 págs., R$ 32.

Senhor Lambert é um homem pacato que almoça sempre no mesmo restaurante, Chez Picard, num horário que não costuma variar muito. No máximo, ele chega até meio-dia e meia. Nunca depois disso.

Ele almoça com três amigos, todos mais velhos que ele.

Um dia, sem avisar ninguém, Lambert não aparece. No restaurante, todos ficam preocupados, da garçonete ao cliente mais discreto. "Então, parece que o Lambert deu o cano em vocês, não?", alguém pergunta.

O ponto de partida de Senhor Lambert, criado pelo desenhista francês Jean-Jacques Sempé, um senhor simpático e octogenário, é essa virada na rotina do jovem Lambert e como ela afeta todos os que convivem com ele mais diretamente – no caso, os três companheiros de almoço.

O livro é ilustrado, mas o ambiente ao longo das páginas é o mesmo: o restaurante com suas mesas e cadeiras.

Lambert reaparece no dia seguinte, mas, por educação, os colegas não falam nada, não perguntam nada. E a rotina segue a mesma, aparentemente.

O fato é que o jovem parece distante. Ausente. Ele também parece feliz. Enquanto os outros três conversam sobre Copa do Mundo e as vitórias e derrotas da França – e o fazem com dedicação –, Lambert descansa a cabeça nas mãos com os cotovelos apoiados na mesa.

De repente, ele diz: "Maravilhosa! Ela é maravilhosa!".

Todos param para responder ao que ele disse. É a comida que ele achou maravilhosa? O que se passa? Ele disse maravilhosa, não disse?

Lambert está apaixonado! E a revelação lança os outros três homens da mesa em uma série de memórias de quando eles também estavam apaixonados.

É como se Sempé estivesse falando sobre o movimento da vida. As histórias pessoais de cada um e a maneira como elas se influenciam mutuamente. As pessoas se apaixonam, se envolvem e às vezes a relação pode dar certo, às vezes, não.

Depois, bem mais tarde, parece dizer Sempé, as experiências viram memórias e algumas são boas e outras são ruins, mas servirão para animar outros momentos.

A história é de uma delicadeza peculiar, uma característica que casa com o traço de Sempé, que é também delicado de um jeito muito próprio, passando várias informações com pouquíssimos detalhes.

Mas o desenhista tem uma forma incrível de atrair nossa atenção. A primeira imagem do livro é a mesa com as quatro cadeiras: ele apresenta as peças em que devemos prestar atenção porque é exatamente a mesa que será ocupada por Lambert e seus amigos.

A imagem seguinte ocupa duas páginas. A cena urbana é apenas esboçada, com rabiscos que indicam prédios e carros. É como se tudo estivesse fora de foco. Tudo menos um lugar: o restaurante Chez Picard. É um jeito genial de fazer o ponto de vista caminhar tal qual uma câmera que se aproxima da fachada, se a história fosse um filme.

Além dos balões com as falas dos personagens – semelhante a uma história em quadrinhos, mas não tão certinhos –, há uma legenda no pé de cada página, como se um narrador conversasse conosco e assistisse à ação ao nosso lado.

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