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Jello Biafra concorreu a prefeito de São Francisco em 1979 | Elizabeth Sloan/Divulgação
Jello Biafra concorreu a prefeito de São Francisco em 1979| Foto: Elizabeth Sloan/Divulgação

Trajetória

Saiba mais sobre a carreira de Jello Biafra:

Dead Kennedys

Jello Biafra começou sua carreira musical em 1978, com a banda Dead Kennedys.

Selo

Fundou em 79 seu selo Alternative Tentacles e lançou os discos do Dead Kennedys até janeiro de 1986, quando a banda acabou.

Projetos

Em 1988 montou a Lard com membros da banda Ministry. Fez participações em outros grupos, como D.O.A. e o canadense Nomeansno, além de fazer a letra de "Biotech Is Godzilla" para a banda brasileira Sepultura e tocar com a banda Melvins até 2005.

Atualmente

Seu mais novo projeto, The Guantanamo School of Medicine, foi criado em 2008 com Billy Gould, do Faith no More, no baixo.

Não há como falar de punk e ativismo sem mencionar o nome de Jello Biafra. O ex-líder do grupo californiano Dead Kennedys que estará em Curitiba amanhã, no Espaço Cult, com sua nova banda Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine, não apenas manifesta suas opiniões políticas em sua música, mas também em discursos e aparições públicas. Biafra, porta-voz dos inconformados e filiado ao Partido Verde americano, inclusive se candidatou de brincadeira a prefeito de São Francisco em 1979 e terminou em quarto lugar, "só para obrigar o verdadeiro prefeito e seu rival a se enfrentar em um segundo turno".

"Quando comecei a fazer discursos, recebi o conselho: mantenha-se louco. Isso nunca foi difícil pra mim", conta Biafra em uma entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, sobre seu talento para a retórica e para liderar grandes movimentos. Na entrevista a seguir, ele fala sobre sua carreira, a cena musical da Califórnia e o show em Curitiba.

Um dos grandes hits do Dead Kennedys, "California Übber Alles", era uma crítica ao governador Jerry Brown, que concorria à presidência em 1984. Hoje em dia ele é governador da California novamente. A música se desgasta?

Eu acho que estava errado em pintar Jerry Brown como o grande fascista. Eu tinha minhas razões na época, mas comparado ao que veio depois – Reagan –, Brown não era ruim mesmo em muitas áreas. Por isso, a música foi mudada em 1981 para "Ronald Reagan", e outras bandas também fizeram suas versões. Attila the Stockbroker fez uma versão com a Margaret Thatcher, Michael Franti, antes de entrar para o Spearheads, fez sobre o Pete Wilson, que foi governador da Califórnia, e obviamente, eu fiz a versão para o Schwarzenegger. Mas acho que ele desistiu de se tornar presidente agora que descobriu que ser político é muito mais difícil do que bancar o machão nos cinemas.

Como será o show de Curitiba?

Vai ser basicamente composto pelas músicas novas que eu faço com essa banda. Para mim, o punk nunca teve a intenção de ser um show retrô. Eu estou desapontado pelo conservadorismo que algumas pessoas têm por isso, só querem as mesmas bandas de sempre e não se pode tentar nada novo. É exatamente o oposto da época em que o Dead Kennedys começou, em que a pressão no underground era para nenhuma banda soar como a outra. E eu gosto dessa ideia. Terá também algumas músicas do Dead Kennedys e algumas músicas novas que ainda não foram lançadas e que estarão no nosso próximo álbum. Não sei quando vou lançá-lo, gostaria de fazer isso antes das eleições desse ano, mas eu trabalho devagar, vou tentar fazer o possível. Mas estou quase certo de que o título será White People and the Damage Done, lançado pelo meu selo, Alternative Tentacles.

O seu selo, inclusive, já lançou discos do Brasil, não é?

Lançamos um disco do Ratos de Porão [Feijoada Acidente? – Internacional, de 1995]. Estamos falando com o Boca [baterista do Ratos de Porão] para ver se lançamos outro. Eu os vi no Brasil em 1992 e fizemos amizade naquela época. Eles já eram uma instituição antiga no Brasil, mas nos Estados Unidos eles ainda são um pouco underground, e a música deles está ainda mais extrema agora do que naquela época.

Como você balanceia o seu ativismo musical e seu ativismo político com discursos e aparições públicas?

Eu gosto de fazer rock, e é por isso que eu não me encaixo muito bem na cena política. E acho que se aplicam ao espírito punk essas atividades políticas radicais, mesmo que seja um professor de história que ensina a seus alunos de uma maneira diferente pela influência do punk, ou um advogado que processa as corporações ao invés de trabalhar para elas. Não sei quando vou fazer outras apresentações de spoken word [performance artística falada] de novo porque a banda consome muito tempo, e claro que agora seria a época de fazê-los. Eu estive em poucos acampamentos do movimento Occupy e eu sinto que deveria estar mais lá, mas também percebo que grande parte da influencia desse movimento é a minha arte, então fico mais tranquilo. É uma corda bamba e eu faço o melhor que posso.

Como você descobriu o seu talento para a retórica?

Na escola. Um professor de debates me pediu para fazer um discurso sobre como eu deveria respeitar a lei, e isso foi logo depois que o Nixon foi pego no escândalo de Watergate. Então se ele não respeita a lei, por que eu deveria? E esse foi meu discurso. E a próxima coisa que eu lembro é que eu fiz um discurso para a escola inteira numa solenidade e o prefeito e outras pessoas estariam presentes. E eu pensei "que m***!", mas eu fiz. Todos estavam tentando me empurrar para uma linha mais intelectual e acadêmica, mas eu queria ser um músico do rock.

Serviço: Jello Biafra and The Guantanamo School of Medicine. Abertura com a banda No Milk Today. Espaço Cult (R. Dr. Claudino dos Santos, 72), (41) 3353-6626. Dia 25, às 19 horas. R$ 60 (1º lote), R$ 80 (2º lote), R$ 100 (na hora do show). Classificação indicativa: 16 anos.

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