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Polêmicas comprovadas

"Os sistemas de obtenção de dados processados eletronicamente nos possibilitam reunir tudo de forma instantânea. Esse tipo de memória total permite-nos (…) colocar todos os livros do mundo num computador." Essa frase não foi dita por Steve Jobs, CEO da Apple, nem por Larry Page ou Sergey Brin, fundadores do Google. O autor é Herbert Marshall Mc Luhan (1911–1980), que na década de 60 descreveu a comunicação desta forma inusitada para a época e com considerações que sobreviveram aos anos e podem ser aplicadas à atualidade.

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McLuhan de A a Z

Alfabeto

O órgão dominante da orientação sensorial e social nas sociedades anteriores ao alfabeto era o ouvido: "ouvir para crer." O alfabeto fonético obrigou o mundo mágico do ouvido a ceder terreno ao mundo neutro do olho. O homem trocou o ouvido pelo olho. A História ocidental foi modelada durante três mil anos pela introdução do alephbet fonético, um meio que depende apenas do olho para a compreensão.

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Quando Herbert Marshall McLuhan nasceu, em 21 de julho de 1911, em Edmonton, no meio da pradaria canadense, o mundo ainda não possuía as ferramentas de comunicação que ele iria analisar tão brilhantemente. Quando morreu, aos 69 anos, em 31 de dezembro de 1980, o mundo já estava cansado de ser a "aldeia global" que McLuhan descrevera em 1962. Nesse mesmo ano ele já previa a internet: "Um computador como instrumento de comunicação poderia realçar a recuperação, obsolescer a organização maciça das bibliotecas, estender a função enciclopédica do indivíduo e reverter a uma linha privada de dados velozmente costurados e de natureza vendável." As palavras em itálico fazem parte do conceito da tétrade de McLuhan. O polêmico professor não era um filósofo tão pop como o pintam. Em contrapartida, apesar da formação acadêmica, estava longe de ser "careta". McLuhan era um mestre no uso das palavras e em criar imagens de compreensão instantânea. Foi ele quem inventou e popularizou o uso do termo "surfar" para descrever um movimento rápido, irregular e multidirecional através de um corpo heterogêneo de documentos ou de conhecimentos, como em sua frase "Heidegger surfa a onda eletrônica tão triunfalmente como Descartes viajava na onda mecânica".

É dele o famoso lema do psicodelismo, atribuído a Timothy Leary: "Turn on, tune in, drop out./Se ligue, entre na onda, caia fora." Só em 1988 Leary admitiu que McLuhan lhe deu de bandeja o slogan durante um almoço em Nova York, nos anos 60. Profundo conhecedor e professor de literatura, ele também era, como Shakespeare e Joyce, adepto de trocadilhos cultos, como no título de seu best seller The Medium Is the Massage — massage com os significados múltiplos de "massagem", "mensagem" e "era da massa".

Os três Ms que fizeram a cabeça dos jovens rebeldes — Marx, Marcuse e McLuhan — foram chamados de o "McDonald’s espiritual dos anos 1960". Em contraste com as vibrantes aventuras culturais que viveu e desencadeou, McLuhan teve uma vida pacata em meio a escolas, universidades, palestras e simpósios. Com pai metodista e mãe batista, na juventude escolheu o agnosticismo e refugiou-se na literatura. Seria também sua ocupação principal, como professor de literatura inglesa, depois de se formar na Inglaterra pela Universidade de Cambridge. Foi lá que se converteu à Igreja Católica Romana e passaria o resto da vida ensinando em instituições católicas. Embora considerasse a religião uma questão de foro íntimo, McLuhan admitiu certa vez que tinha na Virgem Maria um guia espiritual. Aos 18 anos, casou-se com a professora e aspirante a atriz Corinne Lewis, com quem teve seis filhos: dois homens (o primogênito e o caçula) e quatro mulheres, incluindo gêmeas.

Nos anos 1950, McLuhan iniciou seus seminários de Comunicação e Cultura na Universidade de Toronto e sua reputação ensejou convites de outras universidades, mas a de Toronto garantiu sua permanência criando para ele um Centro para Cultura e Tecnologia em 1963. Em 1951, publicou seu primeiro livro, A Noiva Mecânica, um exame do efeito da publicidade sobre a sociedade e a cultura.

Foi a partir de 1962, com A Galáxia de Gutenberg, que McLuhan iniciou a publicação da série de livros que o faria famoso: Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (1964), em que divide os meios de comunicação em "quentes" e "frios"; O Meio É a Mensagem (1967); Guerra e Paz na Aldeia Global (1968), inspirado pelo Finnegans Wake, de James Joyce; e Do Clichê ao Arquétipo (1970) — os três últimos repletos de fotos, ilustrações, manchetes e legendas, mimetizando a linguagem jornalística para facilitar a compreensão e atrair o grande público.

As despesas com a grande família o levaram a trabalhar em publicidade e aceitar frequentes convites para dar consultorias e palestras a grandes corporações, como a IBM e a AT&T. No final dos anos 1970, a Universidade de Toronto tentou fechar seu centro de pesquisas, mas recuou devido a protestos maciços, um deles feito por Woody Allen no filme ga­­nhador do Oscar Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977). Numa fila de cinema em Manhattan, um acadêmico chato discute com Woody as teorias de McLuhan. De repente, o próprio McLuhan entra em cena e diz ao chato: "Você não entende nada da minha obra!" Era a frase clássica com que costumava rechaçar aqueles que discordavam dele.

Em setembro de 1979, Mc­­Luhan sofreu um derrame que afetou sua capacidade de falar, ler e escrever. Nunca mais se recuperou e morreu enquanto dormia, nas primeiras horas de 31 de dezembro de 1980.

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