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“Acho que contar histórias, falar de personagens, é algo que me caracteriza. Dá estilo, identidade. Até tentei dar outro enfoque para as canções, tirá-las do lugar cômodo, mas continuo sendo o mesmo compositor em processo de amadurecimento.” Rodrigo Campos, músico | José Miguel Neto/ Divulgação
“Acho que contar histórias, falar de personagens, é algo que me caracteriza. Dá estilo, identidade. Até tentei dar outro enfoque para as canções, tirá-las do lugar cômodo, mas continuo sendo o mesmo compositor em processo de amadurecimento.” Rodrigo Campos, músico| Foto: José Miguel Neto/ Divulgação

Lançamento

Bahia Fantástica

Rodrigo Campos. YB Music. R$ 23. MPB.

Em 2010, Rodrigo Campos se encheu de São Paulo e debandou para a Bahia. Hos­­pedou-se em um hotel que incorporou a antiga casa de Vinicius de Moraes. Nos dez dias em que ficou em Salvador, contemplou a escultura de um bumbum – em alto relevo – e se esbaldou em uma banheira que havia no terraço: mimos do Poetinha. O que ele não sabia era que a experiência em respirar aquele ar serviria de inspiração para o seu segundo disco, Bahia Fantástica, que já pode entrar na lista dos melhores lançamentos nacionais em 2012.

A inspiração não é novidade. Dorival Caymmi quis saber o "O Que É Que a Baiana Tem?", Gilberto Gil encheu o peito para cantar "Eu Vim da Bahia" e Vinicius de Moraes, mesmo não sendo soteropolitano, falou sobre a faceta invisível da boa terra ao lembrar que lá é, também, uma terra de todos os santos. Mas Rodrigo Campos, nascido no interior de São Paulo e criado na periferia da maior cidade do Brasil, fez diferente. Ele mesclou experiências reais, e o que se poderia chamar de ficção musical, ao inventar personagens para suas canções.

"Tenho preconceito com compositores que falam sobre coisas das quais não têm um profundo conhecimento. Mas me senti tocado, mesmo sem ter esse tal conhecimento. Quando estive lá, era um espectador, daquele tempo e de tudo que aquela terra representa para o Brasil", explica Campos, que conhecia Salvador só de passagem.

De certa maneira, o mote do novo disco contradiz o de São Mateus Não é Um Lugar Assim Tão Longe (2009). Em seu primeiro álbum, também relevante, Campos vira um cronista urbano, e retrata com olhos atentos a região em que passou a infância e a adolescência.

A Bahia que Campos encontrou não foi a da Praia de Itapuã. O clima das músicas tem algo de sombrio e se vale da riqueza dos arranjos (com referências que vão de afro beat à soul music brasileira dos anos 70) para funcionar perfeitamente. As letras são como minicontos, que, enxutos, falam no mesmo volume sobre a finitude ("Morte na Bahia"), sexo ("Beco") e sincretismo religioso ("Capitão").

Em boa companhia

Para melhorar, há participações essenciais de Criolo – que assume os vocais de "Ribeirão" – e das cantoras Juçara Marçal e Luíza Maita, que colaboram em duas outras faixas. Tudo isso com a ajuda de parceiros quase indissociáveis, que formam o grupo mais prolífico da música brasileira atual. O disco Passo Torto, lançado no fim do ano passado, é o maior – e melhor – exemplo.

Pois olhe quem dá as ca­­ras em Bahia Fantástica: Thiago França (Metá Metá, MarginalS, Criolo e Sam­­banzo), Kiko Dinucci (Metá Metá e Passo Torto), Marcelo Cabral (Passo Torto, Rômulo Fróes, Criolo, Sambanzo e MarginalS), Maurício Fleury (Bixiga 70 e Veneno Sound System) e Maurício Takara (Hurtmold, Bodes & Elefantes e SP Underground). É quase uma coisa só.

"É difícil comentar isso porque estou dentro da história. Mas, para nós, o que vale é a vontade de fazer, de produzir. Temos uma grande afinidade nesse sentido", diz o compositor de 35 anos.

E mesmo dentro do grupo, Campos consegue encontrar sua individualidade. Pois, se Rômulo Fróes é o compositor experimental e o academicista, Kiko Dinucci é o guitarrista que busca suas raízes e Thiago França o homem dos sopros virtuosos, Campos encontra seu lugar como cronista de seu tempo, levando em consideração tanto sua inspiração fantástica quanto seu olhar cotidiano.

Bahia Fantástica também serve para separar este grupo de artistas de outro, mais popular e também em destaque, formado por Karina Buhr, Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz.

"Acho que são coisas distintas mesmo. Mas há convergência. Estamos em São Paulo, respirando um ar poluído, mas atualmente muito criativo. Estamos vivendo um momento de combustão musical e todos acabam se influenciando de alguma maneira", diz Rodrigo Campos. E ele acredita: "Quem ganha somos nós".

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