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O longa-metragem Carlota Joaquina – Princesa do Brazil (1995), da cineasta e atriz carioca Carla Camuratti, traça um retrato caricato, senão cruel, de D. João VI, esposo da tresloucada personagem-título, encarnada por Marieta Severo. Na pele de Marco Nanini, o monarca português foi visto na tela como um sujeito glutão, letárgico e flatulento. Uma visão injusta, mas acima de tudo perigosa em um país sem memória, onde imagens equivocadas podem valer mais no imaginário popular do que dezenas de livros, monografias e teses de historiadores.

Com a intenção de resgatar a figura do príncipe-regente que viria a se tornar rei de Portugal (após a morte da mãe, D. Maria I) durante sua passagem por terras brasileiras, a Prefeitura do Rio de Janeiro vem preparando há um ano e meio uma extensa programação de eventos culturais sob o título de D. João VI no Rio – 1808 – 2008, em comemoração ao bicentenário da chegada à cidade da família real, que fugia das invasões napoleônicas e transferiu a sede da corte portuguesa de Lisboa para o Rio.

Segundo o presidente da comissão constituída para a elaboração e execução das comemorações, o embaixador Alberto da Costa e Silva, a celebração dos 200 anos da chegada de dom João ao Brasil é uma excelente oportunidade para que se faça uma tentativa de dar ao monarca o lugar que ele merece dentro da História do país, oferevendo às novas gerações a chance de compreender sua relevância. Para Costa e Silva, está mais do que na hora de a caricatura ser substituída por uma visão mais justa e complexa de um homem que foi responsável por profundas e valiosas transformações não apenas na cidade do Rio de Janeiro, mas da nação brasileira. Mudanças que ainda ecoam depois de dois séculos.

Entre os inúmeros feitos de d. João (leia quadro ao lado), estão desde a fundação do Banco do Brasil até a criação da Impressão Régia do Rio de Janeiro e da Escola de Cirurgia, passando pela abertura da Real Biblioteca e pela instituição do primeiro jornal da cidade, a Gazeta do Rio de Janeiro. "Mais do que isso", assinalou o diplomata, "d. João conseguiu transformar um povoado no fim do mundo numa excelente cidade – e em 13 anos. Não há instituição brasileira que olhe para seu passado e não veja o legado inestimável de d. João VI", disse Costa e Silva, também historiador, ensaísta e poeta.

Programação

A proposta de D. João VI no Rio – 1808 – 2008 é, ao longo dos próximos 13 meses – cada um representando os anos de permanência do monarca em terras brasileiras – , realizar uma série de eventos (veja quadro abaixo) que consigam dar aos brasileiros, sobretudo aos cariocas, uma visão multidisciplinar da passagem de d. João pelo país.

As comemorações vão culminar com a entrega à população, em março de 2008, de Igreja de Nossa Senhora do Carmo (leia reportagem na página 3), também conhecida como Capela Real ou Sé, que serviu não apenas de templo religioso, mas de importante centro de convívio social durante a passagem da família real pela cidade.

As comemorações do bicentenário da chegada de d. João VI ao Brasil vão incluir, ainda, o lançamento de uma revista em quadrinhos, em 2008. A prefeitura planeja imprimir cerca de três milhões de exemplares da publicação, que contará a história de forma acessível, mas sem concessões, a saga da corte portuguesa em terras brasileiras. Os exemplares serão distribuídos em toda a cidade do Rio de Janeiro e enviados também a bibliotecas e escolas públicas de outras cidades brasileiras, garantiu a comissão organizadora dos festejos. Ainda de olho no público infanto-juvenil, a celebração inclui um concurso de redação e de desenho para os estudantes das escolas públicas do município.

Além disso, está previsto o lançamento de livros e manuscritos da época, entre eles o estudo inédito do historiador Kenneth Light sobre os diários de bordo das embarcações da comitiva real, em agosto deste ano.

Kenneth Light é membro do British Historical Society of Portugal e director da Sociedade de Amigos do Museu Imperial de Petrópolis, cidade a 70 quilômetros do Rio de Janeiro, onde a família imperial passava as férias de verão.

Ainda segundo o calendário de eventos, será lançado em julho de 2008, em cinemas de todo o Brasil, um filme sobre d. João VI e a cidade do Rio de Janeiro, mas que não terá o rei como protagonista. O enredo terá como personagens centrais dois meninos, um português – que chega ao país com a comitiva real – e um brasileiro, que desconhece os hábitos e costumes europeus. O confronto entre dois mundos será o mote da produção, que será dirigida por Ricardo Nauenberg, do documentário Sete Pecados do Capital.

A comissão calcula que as festividades envolverão gastos na ordem de R$ 30 milhões, a serem custeados pelos cofres da Prefeitura do Rio.

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