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Filmografia selecionada

O Sétimo Selo (1957)

A Fonte da Donzela (1960)

Gritos & Sussurros (1972)

Morangos Silvestres (1957)

Noites de Circo (1953)

Sonhos de Mulheres (1955)

Cenas de um Casamento (1973)

Através de um Espelho (1961)

Luz de Inverno (1962)

Fanny e Alexander (1984)

O Silêncio (1963)

Persona (1966)

Todos disponíveis em vídeo e DVD no Brasil

No diálogo de Antonius Block com a Morte na obra-prima O Sétimo Selo (1957), a figura de manto negro e foice, personificada pelo ator Bengt Ekerot, aparece para o cavaleiro de Max von Sydow e pergunta: "Você está pronto?". A resposta de Block é desconcertante: "Meu corpo está pronto, mas eu não estou".

Quando escreveu esse diálogo, o cineasta Ingmar Bergman não tinha 40 anos. Ontem, aos 89, ele morreu na ilha sueca de Faro, na costa do Mar Báltico. A notícia foi dada por Astrid Soderbergh Widding, presidente da fundação que leva o nome do diretor que dedicou a vida ao cinema e ao teatro, realizando mais de 50 filmes e uma centena de peças.

"É um legado ético o de Bergman. De seriedade frente a certas coisas que parecem banalizadas hoje em dia", diz o dramaturgo Hugo Mengarelli, professor de Teatro e Cinema da Universidade Federal do Paraná. Ao tratar de temas ligados ao amor, ao sexo e à morte, criou uma obra coerente como poucas outras. Uma espécie de tratado sobre o ser humano em todas as suas incoerências e vulnerabilidades.

"Falar sobre Bergman tem a ver com a minha vida", admite Mengarelli, ilustrando o tipo de paixão que o cineasta criou no público por meio de histórias sobre a relação entre homens e mulheres (Cenas de um Casamento), o embate do ser humano com a morte (O Sétimo Selo), a doença (Gritos e Sussurros) e a velhice (Morangos Silvestres).

"Não conheço ninguém que consiga colocar em imagens o que se passa no interior de uma pessoa – no seu íntimo e na sua alma – da forma que Bergman conseguiu", afirma o crítico de cinema Marden Machado. Para ele, Persona é o filme-síntese de todas as questões que orientaram sua produção por mais de meio século.

Mengarelli considera O Sétimo Selo a obra-prima bergmaniana indesviável. Aliás, poucos nomes do cinema se transformaram em adjetivos. "Bergmaniano" se refere a uma obra introspectiva, profunda e, de certa forma, complexa. Ele é, com freqüência, taxado de "difícil", "hermético" ou, simplesmente, "chato".

"Não se deve ver um filme de Bergman sem se ter repertório", acredita Machado. Ele lembra que seu primeiro contato com o diretor e escritor sueco foi com Sonata de Outono, aos 14 anos. "Eu não tinha a vivência necessária para entender o que ele estava dizendo." Hoje, na condição de crítico e de cinéfilo, Machado compreende que Bergman foi sempre muito preciso tanto no ritmo quanto no uso da música, das cores e das sombras. Sua obra compõe um conjunto de referências, idéias e preocupações recorrentes sem igual na história do cinema.

"O poeta com a câmera" é a referência que abre o longo obituário publicado ontem pelo jornal The New York Times, escrito por Mervyn Rothstein. Bergman recebeu nove indicações ao Oscar nas funções de diretor e roteirista e nunca venceu. Mas seus trabalhos conquistaram várias estatuetas, inclusive a de melhor filme estrangeiro, três vezes: A Fonte da Donzela (1961), Através de um Espelho (1962) e Fanny e Alexander (1984). Este deveria ter sido seu último trabalho. Bergman acreditava que nada se compararia à satisfação que teve dirigindo o longa-metragem inspirado nas memórias de sua infância. Manteve-se longe do cinema, mas continuou trabalhando no teatro e realizou várias produções para televisão, inclusive Saraband (2003), espécie de seqüência de Cenas de um Casamento.

Nascido em 14 de julho de 1918, Ernst Ingmar Bergman se casou cinco vezes – Ingrid Kalerbo, sua quinta mulher, morreu em 1975 – e teve pelo menos nove filhos. Em torno de si, manteve um grupo de atores extraordinários, formado por Max von Sydow, Erland Josephson, Ingrid Thulin e Bibi Andersson. Com sua maior musa, Liv Ullmann, teve uma filha e sustentou uma relação de décadas que nunca foi oficializada.

O dramaturgo Hugo Mengarelli lembra que, para Bergman, um suposto ateu, a única salvação possível para a humanidade é por meio da arte e do amor – das relações que se estabelece ao longo da vida.

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