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America Ferrera interpreta "Uggly Betty" | Divulgação
America Ferrera interpreta "Uggly Betty"| Foto: Divulgação

Festivais ajudam ou atrapalham?

Uma das idéias para aproximar o público da música contemporânea é a de criar festivais especializados nesse gênero. É o que defende o maestro Osvaldo Colarusso, por exemplo. "Festivais como a Bienal de Música Contemporânea, do Rio de Janeiro, e o Festival de Música Nova, de Santos, são um caminho viável para diminuir a distância entre os dois lados", afirma Colarusso, fã e divulgador de compositores contemporâneos.

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Quem vê o guitarrista Gilson Fukushima no palco, junto com sua banda ultra-pop Denorex 80, dificilmente vai imaginar. Mas o fato é que ele faz parte de uma outra tribo musical de Curitiba. Curiosamente, talvez a única tribo que não faz a menor questão de sucesso. Pelo contrário: é a única em que os músicos já começam a compor e tocar sabendo que estão destinados a audiências pequenas e reconhecimento quase nulo do público.

Fukushima é um dos jovens músicos saídos da Escola de Música e Belas Artes que optaram por seguir o caminho da música erudita contemporânea. Quando não está se dedicando a seu trabalho pop, está em casa compondo partituras em que pode ser mais criativo, mas que serão ouvidas por bem menos gente. "Não dá para viver disso", fala. Mesmo assim, ele – como dezenas de colegas de curso – não desiste da lida.

Música erudita contemporânea, para a maior parte das pessoas, parece ser uma contradição em termos. A música erudita que as pessoas conhecem é a de Bach, Mozart, Beethoven e Debussy. Depois que a música pop e a indústria cultural dominaram a cena, a impressão é que todo um outro mundo virou coisa de museu. Uma das tarefas desses músicos é provar o contrário: a música erudita está viva e passa muito bem.

E Curitiba é uma das cidades brasileiras em que essa cena é mais ativa. Além de compositores de renome nacional que moram por aqui, como Harry Crowl e Maurício Dottori, a cidade vem produzindo jovens talentos ano a ano. Fukushima, que decidiu ter uma banda, talvez seja o único mais conhecido. Outros, que preferem seguir no caminho acadêmico, dando aulas para sobreviver, passam ao largo do reconhecimento público.

E o caso de Márcio Steuernagel. Aos 24 anos, ele acaba de sair da Belas Artes. Faz parte do mesmo grupo que Fukushima, o Entrecompositores – um time de autores que decidiu se reunir para fazer espetáculos e concertos conjuntos. Embora já tenha vencido alguns concursos e seja considerado pelos seus professores como um dos mais promissores músicos da nova geração, Márcio sabe que não vai poder viver de suas composições. Por isso, já decidu fazer mestrado para, mais tarde, poder entrar numa universidade e dar aulas. As composições, como quase sempre acontece, ficam para o tempo livre e para as encomendas.

"Na verdade, público até tem", comenta ele. "O que falta é as pessoas acreditarem mais, investirem. No nosso concerto de formatura, quando tivemos uma assessoria mais profissional e empenho de todo mundo, quase lotamos o Guairinha", afirma. Mas os compositores sabem que o tipo de música que fazem não é mesmo destinado a ser popular.

Muitas vezes, o experimentalismo acaba faltando a quem não está acostumado a ouvir música erudita. E, durante um bom tempo, a experimentação radical foi regra no mundo da música erudita. No entanto, nas últimas décadas, muitos músicos vêm amainando esse ímpeto, até em busca de mais comunicação com o público. "A beleza intelectual é importante, mas é preciso não abrir mão da beleza sensível", diz o jovem Steuernagel.

Outro caminho possível é buscar as fronteiras entre o erudito e o popular. É o que faz Tato Taborda, músico que atualmente mora no Rio de Janeiro mas nasceu e viveu um bom tempo em Curitiba. Aluno de Koellreuter, uma das grandes influências de Hermeto Pascoal, ele criou um mega-instrumento, a "Geralda", com que se apresenta pelo país. A mistura de música percussiva e eletrônica, popular e erudita tem rendido bons resultados. E até bom público. "Mas quem entra nessa profissão sabe que não pode viver só disso", confirma. "No meu caso, trabalho como produtor de eventos", diz. Mas sempre que pode, Tato pega a sua Geralda e bota a música contemporânea para viver.

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