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Um dos inúmeros trabalhadores retratados por João Roberto Ripper em 35 anos de fotografia | João Roberto Ripper
Um dos inúmeros trabalhadores retratados por João Roberto Ripper em 35 anos de fotografia| Foto: João Roberto Ripper

Premiado

Saiba mais sobre o fotógrafo João Roberto Ripper:

Cores

Na mostra Imagens Humanas, há somente fotografias em preto e branco. Mas João Roberto Ripper produziu ao menos 10% de sua produção em cores. "No PB, ele diz que se sente mais a vontade", conta o amigo e curador Dante Gastaldoni.

Digital

Há alguns anos, Ripper dediciu comprar um equipamento digital. "Uma Canon digital, poderosa, com lentes grandes", conta Gastaldoni. Foi para campo e ficou tão encabulado com aquela máquina grandalhona que decidiu trocá-la por uma Laica menorzinha, para transitar mais a vontade e não parecer tão invasivo.

Prêmios

O fotógrafo recebeu, entre outros, os prêmios Interpressphoto, Waldimir Herzog, o Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte e do Instituto Nacional de Fotografia, o Agenda Latino-Americana, João Canuto – Homenagem da organização Humanos Direitos e o Prêmio Marc Ferrez.

Debate

Hoje, pouco antes da abertura da mostra, fotógrafo e curador participam do debate A Fotografia a Serviço dos Direitos Humanos, às 19 horas, no Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280). A entrada franca e os ingressos serão distribuídos na bilheteria, a partir das 18 horas.

  • Criança carvoeira em fazenda do Mato Grosso do Sul, em 1988
  • Trabalhador em meio a raiz de castanheira, no Pará, em 1983
  • Índios Guarani Kaiowá ameaçados de despejo na aldeia Jaguapiré, em Paranhos, no Mato Grosso do Sul, em 1989

É inacreditável. Em 35 anos fotografando para os principais veículos de comunicação do Brasil e do mundo como os jornais O Globo, The Washington Post, The New York Times, Le Monde e as revistas Marie Claire, Caros Amigos e Veja, o premiado fotógrafo carioca João Roberto Ripper nunca havia publicado um livro com suas fotografias e nem mesmo realizado uma exposição individual.

Mas a injustiça foi reparada com uma exposição patrocinada pela Caixa Cultural lançada em 2009, no Rio de Janeiro, que já passou por São Paulo, Rio de Janeiro e agora chega à Galeria da Caixa em Curitiba. "É um reconhecimento ainda que tardio, mas fundamental, a um dos mais importantes documentaristas brasileiros, que há tanto tempo percorre os rincões do Brasil registrando o cotidiano árduo de índios, carvoeiros, sem-terra e quilombolas", diz Dante Gastaldoni, curador da mostra Imagens Humanas e coeditor do belo livro de mesmo nome ao lado de Mariana Marinho.

Ripper, de 55 anos, segue na estrada. "Ele tem cinco filhos, mas passa um mês em casa e dois viajando", brinca Gastaldoni, seu amigo há 30 anos. As idas e vindas aos mais inóspitos lugares para registrar o cotidiano de pessoas que vivem em condições precárias de vida não lhe renderam apenas reconhecimento – um dos mais recentes é o 11.º Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, da Funarte. Mais do que um fotógrafo, Ripper é um militante, um humanista. "Ele foi um dos primeiros a documentar o trabalho escravo e, com suas fotos, conseguiu que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) impusesse diversas punições".

As 70 imagens em preto e branco selecionadas por Galtaldoni de um arquivo descomunal de mais de 150 mil fotos, sintetizam os principais momentos da trajetória profissional de Ripper. Mas, no lugar de se debruçar sobre os temas do fotoógrafo, o curador preferiu dividir a mostra em quatro sentimentos que extravasam de suas imagens: amor, alegria, superação e liberdade. "Ripper privilegia a dignidade do fotografado. Embora sejam pessoas que vivem em condições adversas financeiras, de saúde ou ambientais, são guerreiros, trabalhadores, que ele sempre fotografa com muito respeito. Às vezes, ele registra momentos de profunda dor, mas em suas imagens sempre há brasileiros sofrendo, amando, resistindo", diz.

Fotógrafo apaixonado pelo ser humano e que acredita em mudanças, Ripper busca, como expressa Galtaldoni, "uma humanidade que muitas vezes é negada por condições sociopolíticas e econômicas". Mesmo tendo trabalhado na grande imprensa, na qual vivenciou a velocidade necessária à produção de notícias, Ripper recusa trabalhos em que não possa passar dias convivendo com seus retratados. "Ele é um fotografo de grandes imersões, nunca é superficial, vai conhecer os hábitos, culturas, características", conta o curador, lembrando que, após conviver com os índios Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, entre outros povos nativos, o amigo tornou-se um exímio atirador de arco e flecha.

Após alguns anos trabalhando em jornais como o Última Hora e O Globo, Ripper começou a participar das agências independentes como a lendária F4. "Ali, além de aprimorar o olhar autoral, desenvolveu a capacidade de ser senhor das próprias pautas", diz o curador. Desde 2004, também exerce seu poder de transformar a realidade pela educação. Criou a agência-escola Imagens do Povo, na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde vem formando uma legião de fotógrafos oriundos de comunidades populares, muitos deles, que já expõem e ganham prêmios. "Digo que o melhor curso do qual participo é o da Maré", diz Gastaldoni, coordenador acadêmico da agência-escola e professor de fotojornalismo na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Ali os alunos aprendem não só a fotografar, mas a refletir sobre a fotografia e a ter compromisso com os direitos humanos", conta.

Serviço:

Imagens Humanas, na Galeria da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5114. Abertura, dia 22, às 20,horas. 70 imagens em preto-e-branco do fotógrafo João Roberto Ripper. De terça-feira a sábado, das 10 às 21 horas; e domingo, das 10 às 19 horas. Até 20 de março.

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