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A diretora Larissa Figueiredo: pesquisa da cultura popular no Maranhão | João Castelo Branco/Divulgação
A diretora Larissa Figueiredo: pesquisa da cultura popular no Maranhão| Foto: João Castelo Branco/Divulgação

Carte Blanche

Confira os longas-metragens selecionados para a mostra de filmes em fase de pós-produção do Festival de Locarno, dedicada ao Brasil:

• Aspirantes, Ives Rosenfeld (RJ)

• Beco, Camilo Cavalcanti (PE)

• Nise da Silveira, Roberto Berliner (RJ)

• O Touro, Larissa Figueiredo (PR)

• Oração do Amor Selvagem, Chico Faganello (SC)

• Ponto Zero, José Pedro Goulart (RS)

• Que Horas Ela Volta?, Anna Muylaert (SP)

  • A atriz portuguesa Joana de Verona vive a protagonista, uma mulher que vem ao Brasil em busca dos tesouros de d. Sebastião

Em 2011, a cineasta brasiliense Larissa Figueiredo, hoje radicada em Curitiba, fazia uma pesquisa sobre cultura popular no interior do Maranhão, estado de origem da família de sua mãe, quando ouviu, na pequena cidade de Cururupu, uma lenda popular que a fascinou. O rei português d. Sebastião, que teria desaparecido no século 16, no Marrocos, durante a batalha de Alcácer-Quibir, sem que seu corpo jamais fosse encontrado, não teria sido morto em combate na cruzada. Mas, sim, se refugiado, de posse de seus tesouros, em uma das ilhas do litoral maranhense, onde teria decidido criar um reino encantado, apos fincar sua espada em um pedaço de terra, do qual teria surgido à ilha de Lençóis.

O monarca teria guardado seus tesouros sob as dunas insulares, cujos atuais moradores, em torno de 400 pessoas, seriam descendentes do rei, que até hoje, reza o mito, vaga, em noites de Lua Cheia, sob a forma de um touro com uma estrela na testa.

A história teve tamanho impacto sobre Larissa que acabou lhe servindo como base para a criação do roteiro do longa-metragem O Touro. O filme será exibido hoje no Festival de Locarno, que termina amanhã na Suíça, dentro da mostra Carte Blanche, dedicada a obras em fase de pós-produção e que neste ano tem o Brasil como país convidado.

Ao todo, sete títulos nacionais foram selecionados (confira quadro nesta página). Os longas serão projetados para distribuidores, programadores de festivais e entidades financeiras de cinema. Também disputarão um prêmio em dinheiro equivalente a 10 mil francos suíços, ou R$ 24 mil, de auxílio para finalização, recursos oriundos da Agência Suíça de Cooperação e Desenvolvimento e do Ministério das Relações Exteriores do país europeu.

Na fronteira

O Touro é um híbrido de ficção e documentário. A ação gira em torno de uma personagem imaginária, chamada Joana, uma portuguesa que vem ao Brasil rumo a Lençóis, onde pretende recuperar as riquezas que um dia pertenceram a seu país.

Para viver a protagonista, Larissa escolheu Joana de Verona, atriz portuguesa que trabalhou com diretores como o franco-chileno Raúl Ruiz (em Mistérios de Lisboa) e Marco Martins (em Como Desenhar um Círculo Perfeito). Atualmente, ela está participando de As 1001 Noites, sob a direção de Miguel Gomes (de Tabu).

Quem intermediou o contato com a artista foi o diretor de som Vasco Pimentel, que havia sido professor de Larissa na Haute École d’Art e de Design (Head), em Genebra, na Suíça, onde a diretora estudou entre 2009 e 2011, depois ter se formado em cinema na França. Quando apresentou o projeto a Joana, a atriz ficou muito entusiasmada. "Eu não sabia que ela havia nascido, de pais portugueses, justamente no Maranhão, de onde saiu com oito meses, e nunca mais havia voltado. Essa busca da personagem acabou sendo, de certa forma, também dela. Tanto que acabaram tendo o mesmo nome", contou a realizadora.

O diálogo com o cinema documental se dá no filme porque, embora a premissa seja ficcional, a atriz interage ao longo da narrativa com personagens da vida real, em situações desencadeadas pelo filme, mas não previamente roteirizadas.

Prêmios

Quando ainda estava no papel, o projeto de Larissa contou para o seu desenvolvimento com o prêmio do 9.º Concurso de Roteiros Rucker Vieira, organizado pela Fundação Joaquim Nabuco (de Recife), destinado a filmes que buscam veicular uma imagem menos estereotipada e mais problematizada do Nordeste e de sua cultura. Dessa mesma ideia, nasceram o curta-metragem O Rei, já finalizado e ainda inédito, e seu desdobramento, O Touro.

Recentemente, o filme recebeu, para sua finalização, o prêmio do fundo suíço Visions Sud Est que, anteriormente, apoiou projetos importantes como A Teta Assustada (Claudia Llosa, Peru), vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, e Cães Errantes (Tsai Ming Liang, Malásia), ganhador do Grande Prêmio do Juri no Festival de Veneza.

Larissa, de 26 anos, é casada com o cineasta curitibano Rafael Urban, diretor dos premiados curtas Ovos de Dinossauro na Sala de Estar e A Que Deve a Honra da Ilustre Visita este Simples Marquês?. Ele produziu de O Touro, ao lado de João Castelo Branco, que também assina a direção de fotografia do longa, que deve estrear em 2015.

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