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Literatura

O universo de Dalton

Em textos enxutos, que dialogam com ilustrações, o escritor escreve sobre Curitiba e os curitibanos. Sua obra ganhou o mundo

Ilustração: Poty Lazzarotto |
Ilustração: Poty Lazzarotto (Foto: )

Os livros de Dalton Trevisan têm uma espécie de sinal particular. Seu universo tem limites geográficos bem definidos e seus personagens pertencem a um mesmo grupo: são curitibanos. Esse foco no particular nunca atrapalhou a aceitação da obra de Dalton fora dos limites da cidade porque a qualidade da sua literatura se impõe, ao mesmo tempo que torna irrelevante os nomes ou o sotaque dos personagens. Se fossem russos ou argentinos os machões apaixonados e as mulheres sensuais e desgarradas que habitam seus contos, ainda assim seria uma obra coerente e a linguagem, irresistível.

A história de Dalton Trevisan na literatura brasileira começou por dois caminhos distintos: ele criou e editou a revista Joaquim, que publicou textos e ilustrações de nomes importantes da cultura brasileira do Pós-Guerra, como Carlos Drummond de Andrade e Otto Maria Carpeaux. Joaquim virou um sucesso nacional e Dalton decidiu matá-lo e se concentrar na sua própria literatura. Participou de alguns concursos que começaram a chamar a atenção do mundo literário para seus trabalhos. Não parou mais. Dá para arriscar dizer que nenhum escritor brasileiro tem mantido por tanto tempo uma produção tão constante. É difícil passar um ano sem que se veja algo novo da lavra do Vampiro.

Contista em tempo integral, ele surpreendeu quando lançou um romance, A Polaquinha. Espécie de romance de formação de uma curitibana de origem humilde, virou peça de teatro e é até hoje uma de suas obras de maior repercussão. Recentemente, ele lançou Mirinha, que coloca outra moça curitibana como heroína de um mundo machista e conservador, em que sexo e amor causam confusão nas vidas de quem ousa desfrutá-los. Para quem quer se iniciar no universo de Dalton Trevisan, A Polaquinha e Mirinha são portas de entrada tão nobres quanto o pioneiro Cemitério de Elefantes.

O zelo do escritor em eliminar de seus textos toda palavra desnecessária vem sendo testada continuamente. Chegou a enveredar pelo caminho dos haicais e histórias curtíssimas, que publicou em livros e em revistinhas que ele mesmo edita e distribui para os conhecidos.

O filho de uma família de imigrantes italianos que se instalou na região de Colombo e Almirante Tamandaré desenvolveu um gosto refinado pela ilustração. As capas de seus livros, muitos deles ilustrados pelo amigo Poty Lazzarotto, refletem o preciosismo de Dalton. Em seguidas colaborações para a Gazeta do Povo, fez páginas cuidadosamente pensadas para promover a simbiose entre textos e imagens.

Em se tratando de Dalton Trevisan, cada palavra, cada imagem que aparece no papel é a expressão mais genuína e reveladora do escritor que evita formas mais óbvias de dizer o que pensa.

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