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"– Jess? A voz da mãe ecoou no corredor, tão incorporada ao mofo em volta que quase dava para sentir seu cheiro. Para Jess, sentada dentro do roupeiro, seu nome soou estranho, trêmulo, deformado, como se ela estivesse dentro de uma garrafa, ou de uma pedra de gelo, talvez, e mamãe estivesse do lado de fora, batendo."

Assim começa A Menina Ícaro (Tradução de Adalgisa Campos da Silva. 304 págs., R$ R$ 39), livro que está sendo lançado no Brasil pela Intrínseca e que marca a estréia literária de uma jovem mulher nascida em 1984. Helen Oyeyemi (faça as contas, ela tem apenas 21 anos) é daqueles jovens recebidos pela mídia como gênios singulares, capazes de produzir obras arrebatadoras apesar da pouca idade.

Filha de pai inglês e mãe nigeriana, nasceu na África e foi para a Inglaterra aos 4 anos. Ganhou fama entre os colegas de escola como uma garota quieta e introspectiva, que ficava boa parte do tempo debruçada sobre livros e cadernos, escrevendo. Produziu A Menina Ícaro em sete meses, enquanto estava no equivalente inglês para o ensino médio brasileiro – que compreende a faixa entre 15 e 17 anos. Antes de terminar o romance, apresentou partes do texto para a Bloomsbury (editora da qual faz parte Liz Calder, criadora da Festa Literária de Parati) e conseguiu fechar um contrato milionário.

Espécie de ensaio sobre a solidão de uma criança de 8 anos, A Menina Ícaro narra a história da amizade de Jessamy Harrison com Titiola, garota de presença fantasmagórica que a protagonista (e o leitor) não sabe se é verdadeira. A narrativa mostra que o universo infantil não é sempre divertido e colorido. Há também momentos cheios de terror e assombro.

A edição brasileira tem belo projeto gráfico de Raul Loureiro, conhecido pelos trabalhos que fez para a CosacNaify.

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