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Visuais

Objetos retrôs de um lar impraticável

Mostra no Solar do Barão exibe objetos do passado materializados no traço hiper-realista de Brugnera e fotografias de uma fábrica em ruínas captadas pela argentina Stine Eriksen

A velha Remington do artista Luiz Carlos Brugnera é um dos objetos que comporão o interior de uma casa impraticável | Walter Alves/Gazeta do Povo
A velha Remington do artista Luiz Carlos Brugnera é um dos objetos que comporão o interior de uma casa impraticável (Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo)
Pavilhão de fábrica abandonado retratado por Stine Eriksen |

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Pavilhão de fábrica abandonado retratado por Stine Eriksen

Assim que se aproxima para examinar as ranhuras da velha máquina de escrever Remington, o espectador se dá conta de ter sido iludido. O que parecia uma fotografia em sofisticado preto e branco de um objeto ultrapassado é, na verdade, um desenho hiper-realista feito com lápis e borracha sobre superfície de MDF. Simples assim. Ao lado, um telefone de discar, também em versão monocromática, completa a cena em uma das salinhas de paredes amarelo-claras do Museu da Foto­­gra­­fia, no Solar do Barão.São amostragens de uma série que começa a fervilhar no cérebro inventivo do artista gaúcho, radicado em Cascavel, Luiz Carlos Brugnera – que já realizou mostra individual no Museu Oscar Niemeyer e tem trabalhos nos acervos do Museu D’Art Moderne de La Ville (Paris), Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires, Camden Arts Centre (Londres) e Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro).

As obras foram feitas no tempo recorde de dez dias para compor a pequena exposição organizada pelo Instituto Paranaense de Artes – Ipar, que reúne ainda algumas obras – essas, sim, fotografias – da série Desautorizado, da artista argentina radicada em Berlim Stine Eriksen (leia quadro).

A série terá relação com a produção anterior de Brugnera, uma "casa impraticável" formada por elementos arquitetônicos desmembrados. Há uma escada infinita, feita de espuma, impossível de ser galgada; azulejos feitos de caixinha de CDs e tinta de caneta azul; colunas ocas, de PVC, que não sustentam; assoalho grafitado onde não se pisa – muitas dessas peças foram premiadas em salões de arte de todo o país. "São objetos hiper-realistas, que enganam os olhos. Nos desenhos, isso também acontece, mas não criam a mesma ilusão. Descobri-me artista em 1994, fa­­zendo um desenho que tem essa técnica, mais próxima da realidade", conta.

Decoração

Agora é hora de decorar o interior do lar fragmentado com objetos da própria residência do artista. "Vou desenhar automóvel, vitrola, sofás, despertador, geladeira, fogão, tapetes. É a volta do desenho no meu trabalho; de tempos em tempos, retorno a ele", diz. As peças antigas, muitas de antiquário, remetem à memória afetiva e ao gosto de Brugnera – ele pretende desenhar, por exemplo, o filtro de água dos pais e o moedor de café da bisavó. "Esses objetos serão um contraponto à contemporaneidade da parte estrutural da casa", diz.

Para desenhá-los, o artista, de 44 anos parte da observação do próprio objeto na tentativa de aproximar a obra o mais perto possível da realidade. "Os desenhos têm a mesma escala dos objetos", conta. Fo­­tografá-los também ajuda. "Mas o objeto original me passa detalhes que a fotografia não captou. Não consegui observar na foto, por exemplo, o craquelado e as ranhuras da máquina de escrever." Em seguida, Brugnera cobre a tela com seis camadas de verniz automotivo e dá polimento a ela.

Os desenhos hiper-realistas devem, no futuro, coexistir com traços de intensa gestualidade. Mas Brugnera não se preocupa em explicar o que ainda virá. "Gosto de cronologia na minha produção, que o tempo explique o andamento do que o artista pensa e produz", diz.

Serviço:

Brugnera & Desautorizado, no Solar do Barão (R. Carlos Cavalcanti, 533), (41) 3321-3269. Terça a sexta, das 9 às 12 horas, e das 13 às 18 horas; sábado, domingo e feriado, das 12 às 18 horas. Até 20 de fevereiro.

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