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Richard Dawkins. | Lalla Ward/Divulgação
Richard Dawkins.| Foto: Lalla Ward/Divulgação

São Paulo - Richard Dawkins atende a ligação do jornalista, algo que não faz com frequência. Como a entrevista é para falar do livro O Maior Espetáculo da Terra, que acaba de sair no Brasil, o biólogo britânico se resigna a concedê-la. Mas se vinga do repórter pela impertinência.

Responde ora com monissílabos ("É"), ora com instruções ("Olhe no meu site"). Questionado sobre os neolamarckistas, seus adversários intelectuais, o maior divulgador de ciência vivo encerra o tema com a menos científica das atitudes: "Não quero discutir isso". No total, respondeu a 15 questões em 13 minutos. O leitor será poupado da transcrição da entrevista.

Ainda bem que Dawkins não depende de simpatia para vender livros. Seria uma pena que o público deixasse de ler O Maior Espetáculo da Terra devido à inteligência emocional do autor. Porque o livro não é só bom: é um tour de force darwinista, que vem a calhar no ano em que se celebra o bicentenário de nascimento de Charles Darwin (1809-1882), pai da teoria evolutiva, e os 150 anos de A Origem das Espécies.

Na nova obra, Dawkins desfila uma pequena (mas significativa) amostra das evidências em favor da evolução. Como Darwin, começa explicando a seleção artificial, processo pelo qual escolhas humanas são capazes, por exemplo, de criar a couve-flor, o brócolis e a acelga a partir de um único ancestral – um tipo de repolho selvagem.

Depois, põe-se a explicar como a natureza faz esse mesmo serviço, transformando as espécies em intervalos (em geral) imensos de tempo por meio principalmente da seleção de variações geradas ao acaso numa população. Todos os conceitos fundamentais do pensamento evolutivo são apresentados por Dawkins, que diz ainda como e por que os cientistas sabem que é tudo verdade.

O álibi do autor para escrever a obra é converter criacionistas. Desculpa esfarrapada: antes mesmo de publicar o anterior, o libelo ateísta Deus, um Delírio, o inglês já era o inimigo número um dessa turma. Deus, um Delírio ataca as religiões com tanta virulência que os criacionistas, se pudessem ser convertidos, não ouviriam argumentos de Dawkins.

O Maior Espetáculo da Terra traz a verve dawkinsiana em sua melhor forma (perdida no chatérrimo A Grande História da Evolução, de 2004). É uma leitura leve, em que Dawkins seduz o leitor com racionalidade e dialoga com ele o tempo todo. A certa altura, recomenda que feche o livro e só o retome se estiver descansado, porque será obrigado a explicar conceitos difíceis. Mas a explicação a seguir é tão boa que a dificuldade desaparece.

Os fãs de Dawkins notarão a ausência da rabugice característica do autor. Em vez de chamar o leitor de idiota, Dawkins faz piadas. O repórter impertinente questiona se tanto bom humor é efeito da aposentadoria, em 2008. O biólogo protesta: diz que Deus, um Delírio, é um livro bem-humorado, tá? Puxa, que bom que ele avisou.

Serviço

O Maior Espetáculo da Terra, de Richard Dawkins. Companhia das Letras, 440 págs., R$ 53.

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