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Não faz muito tempo que Regina Spektor chegou por aqui com Begin to Hope (2007), seu quarto e mais recente álbum, e conquistou espaço nas listas de músicas de fãs dos mais diversos gêneros. Não à toa, a cantora russa costuma ser rotulada como "antifolk", o que nada mais é do que uma maneira de dizer que ela não cabe em rótulo nenhum. Está mais preocupada é em fazer música sem limitações criativas.

E aí entram o pop de "Fidelity", seu primeiro hit internacional, e as influências do rock, punk, jazz e música clássica. Ou, até mesmo, da tradicional polca, como ao fim de "The Flowers", uma das faixas do álbum Soviet Kitsch, o terceiro da sua carreira, produzido por Gordon Raphael (produtor dos Strokes).

Lançado em 2004 nos Estados Unidos (onde a cantora mora desde os 9 anos), o disco finalmente chega às lojas brasileiras pelo selo Sire, da Warner. Ao mesmo tempo, Regina aparece nas prateleiras nacionais na coletânea Make Some Noise, em prol dos habitantes de Darfur (Sudão), em que interpreta "Real Love", de John Lennon.

Soviet Kitsch é um registro mais sombrio e, até certo ponto, mais homogêneo do que Begin to Hope. O piano e a voz de Regina expressam a melancolia já na primeira música, a delicada e sarcástica "Ode to Divorce", de versos agudos sobre o fim de uma relação (Eu preciso do seu dinheiro/ Ele vai me ajudar/ Eu preciso do seu carro/ E eu preciso do seu amor). Também trágica é a canção "Carbon Monoxide", outra parceria simples e acertada de voz e piano, em que Regina imagina a morte por asfixia e suplica a presença do pai, enquanto brinca com as sonoridades das palavras "dead" (morte) e "daddy" (papai).

A morte também espreita em "Chemo Limo", uma canção onírica sobre uma mãe que prefere pagar um passeio de limusine ao tratamento com quimioterapia. A compositora não poupa angústias, mas sabe que alguns dos seus melhores momentos se devem à verve espirituosa.

Em "Poor Little Rich Boy", por exemplo, as batidas de baquetas criam sons estranhos sob o piano, enquanto Regina fala de um pobre garoto rico, leitor de Fitzgerald e Hemingway, mas incapaz de amar a namorada ou a própria mãe.

A cantora aparece mais descontraída na dobradinha "*** (Whisper)" e "Your Honor". A primeira é uma espécie de introdução para a faixa seguinte. Em pouco mais de 40 segundos, Regina protagoniza um diálogo sussurrado entre ela mesma e uma personagem identificada no encarte como "Bear" (urso), que lhe pede que comece logo a próxima música. O contraste surge com a melodia de "Your Honor", mais pesada – ao som de guitarra, bateria e de vocais barulhentos – e nada ingênua.

Aos ouvidos mais atentos, Regina Spektor se torna irresistível pela combinação singular de ótimas letras, dotadas de humor, atmosfera nonsense e referências variadas (literárias, mitológicas e à origem russo-judaica), arranjos elaborados e ousadia para brincar com a voz e os tempos das músicas. Ela não escapa de ser estranha, mas é adoravelmente imprevisível. GGGG1/2

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