“Olhava para o espelho e procurava pessoas lá dentro”

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Era de se esperar. Com meia hora de atraso, Jim Carrey entrou em um luxuoso salão do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e dançou uma espécie de boogie-woogie, alternando os movimentos dos braços com o deslizar dos pés enquanto a careta na cara, sua marca mais identificável, completava o pacote que fez cerca de cem jornalistas caírem na risada antes mesmo de começar a entrevista coletiva com o ator canadense. Jim Carrey esteve no Brasil no último fim de semana para divulgar o filme Os Pinguins do Papai, que estreia amanhã nos cinemas do país.

O longa de Mark Waters (As Crônicas de Spiderwick) é baseado no livro homônimo Mr. Popper’s Penguins, e conta a história de um bem sucedido – porém solitário – empreiteiro que recebe, como último presente de seu pai, seis saudáveis pinguins. Cada um dos bichos tem uma característica própria, o que motivou a primeira pergunta. "Com qual deles você se parece, Jim?", indagou uma jornalista. "Com o mais bonito", disse o ator, sem pestanejar.

Jim Carrey parece usar sua veia humorística como escudo. É quase sempre com uma imitação, uma resposta engraçada ou uma careta que inicia suas falas. "Na verdade, me identifico com o grupo todo. Pinguins são meio peixes, meio pássaros. São estranhos, e por isso, me identifico com eles", completou o canadense, que começou no humor ao fazer encenações cômicas para os colegas de classe no colégio onde estudava.

Sardinhas nos bolsos

Animais fazem parte de seu currículo. Jim Carrey já "contracenou" com diversos deles nos filmes da série Ace Ventura (1994), já foi lambido por um cachorro em O Máscara (1994) e atuou ao lado de uma vaca em Eu, Eu Mesmo e Irene (2000). Mas conversar com pinguins gorduchos foram uma novidade em seu currículo cinematográfico, que começou com Um Debilóide sem Máscara (1981).

"Gosto de estar perto de animais e de atuar com eles. Com pinguins foi muito divertido. O que mais impressionou foram os barulhos que eles fazem. ‘Bééééééééééééé", imitou Jim Carrey, novamente levando os jornalistas aos risos. "Isso acontecia muito durante a gravação."

O ator conta que, para atrair os bichos, colocava sardinhas nos bolsos das calças. "Fiz de tudo para ficar perto deles. Pinguins parecem criaturas doces, mas não são tão amigáveis. Fui mordido várias vezes. Eles não sabem a diferença entre peixes e dedos", brincou Carrey.

Sozinho no quarto

A comédia está presente em sua vida desde sempre, mas começou de uma maneira que pode explicar o fato de Jim Carrey ter se arriscado em produções dramáticas, como O Show de Truman (1998) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004).

Quando o jovem Jim aprontava das suas em sua casa em Newmarket, no Canadá, seus pais o puniam com castigos diversos. Então, sozinho no quarto, fazia caretas e vozes para o espelho. "Esse era o meu momento mais criativo. Olhava para o espelho, fazia caras e bocas e procurava pessoas lá dentro", disse o ator.

No filme Os Pinguins do Papai, seu estilo de humor pende mais para a sutileza do que para o simples pastelão. O antigo Jim Carrey ainda está lá, com sua risada inimitável. Mas um novo ator – que mostra algumas rugas de seus 48 anos – também. "Alguma coisa eu tinha que amadurecer aqui dentro", contou Jim, que recentemente ganhou seu primeiro neto.

Quando falou do bebê, o ator imitou os trejeitos de um ancião. Disse que ser avô é algo "muito profundo" e que é uma boa maneira de descobrir algo novo em nós mesmos.

Na parte final da entrevista coletiva, Jim Carrey falou sobre sua primeira visita ao Brasil. "Fui ao Cristo Redentor hoje [segunda-feira] pela manhã, e 15 segundos já foram suficientes para tirar meu fôlego. É maravilhoso", disse Jim, que também elogiou a beleza das mulheres cariocas. Horas antes da coletiva, o ator almoçou com Rodrigo Santoro – "um rapaz muito bacana" – com quem contracenou no filme O Golpista do Ano.

*O jornalista viajou a convite da Fox Film do Brasil.