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Cineasta afeito aos temas políticos, Oliver Stone não podia ficar de fora do 11 de setembro depois de realizar filmes como "Platoon", "Nixon", "Nascido no 4 de julho" e "JFK", sempre cutucando a política imperial americana com vara curta. "As Torres Gêmeas", que entra no Festival do Rio sabe-se lá porque, já que estréia no próximo dia 29, faz uma abordagem política cautelosa dos atentados. Não há patriotada em excesso, muito menos uma demonização da Al Qaeda, a não ser pela reação de alguns personagens, mas não a ponto de ser uma posição do diretor.

Quando se lê as críticas da imprensa americana no site "Rotten Tomatoes", fica claro o tom emocional que o tema tem para o país. No caso de Oliver Stone, heroísmo e terrorismo são mostrados na dose certa, mas o filme se concentra numa situação que é o clichê dos clichês, no caso de pessoas presas em destroços que podem ser de um navio afundando, de um grande desastre de carros, de um túnel ou de um prédio que desabou e que sobrevivem apesar das chances em contrário.

A história é dos guardas portuários John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Pena), resgatados dos destroços da primeira torre após 12 horas de agonia. Todo mundo sabe que foi um episódio de final feliz em meio a uma gigantesca tragédia, mas a narrativa não difere de dezenas de filmes com o mesmo tema, a agonia das famílias à espera de notícias, o desespero dos soterrados e seus delírios em relação a episódios da vida familiar.

A bilheteria na América foi de US$ 68 milhões, o que supera o orçamento de US$ 65 milhões, mas não cobre os gastos de marketing. Tampouco afasta o fantasma do fracasso retumbante de filmes recentes de Stone, como "Alexandre", uma produção de US$ 155 milhões que conseguiu ralos US$ 34 milhões na bilheteria americana.

Michael Pena é Will JImeno, também soterradoPara rechear tudo isso, Stone apela a um farto material jornalístico da época do atentado com imagens dos momentos posteriores ao atentado que casam com a cuidadodsa reconstituição feita para o longa. O momento exato em que os aviões batem nas torres, a imagem mais saturada do episódio, não é mostrado. A mobilização imediata de equipes, a entrada nos prédios para a impossível tarefa de retirar todo mundo e até um toque para mostrar que nem todos foram tão corajosos assim. Quando McLoughlin pede voluntários para entrar na primeira torre, apenas mais quatro se apresentam. Dos cinco que entraram, apenas McLoughlin e Jimeno sobreviveram.

O começo é primoroso. Stone mostra a cidade acordando no dia do atentado a partir de McLoughlin, que se levanta quando ainda está escuro e vai entrando em Manhattan com os primeiros raios de sol, que iluminam de leve o perfil das torres gêmeas. As ruas desertas vão se enchendo de gente a caminho do trabalho com óbvia ênfase nas cercanias do World Trade Center, até para mostrar a surpresa e a perplexidade das pessoas que jamais pensaram em algo daquela dimensão fora de uma produção de Hollywood.

Não há grandes interpretações no elenco, talvez a que mais chame atenção seja do ex-sargento dos fuzileiros Dave Karnes (Michael Shannon), tomado por um fervor patriótico-religioso, que bota o uniforme e se infiltra nas equipes de salvamento para ajudar. A tarefa de Nicolas Cage e de Michael Pena não é fácil. Eles têm que representar a maior parte do tempo imobilizados nos escombros, Cage ainda mais, apenas com o rosto de fora e cheio de poeira, enquanto Pena tem uma laje no peito e os braços soltos.

Os atentados de 11 de setembro quebraram a aura de intocabilidade da América, que jamais sofreu um ataque de tal magnitude contra seu solo, embora intervenha militarmente em várias partes do mundo. O país sofreu o trauma da derrota no Sudeste Asiático que criou uma Síndrome do Vietnã, com uma forte resistência da opinião pública a grandes mobilizações militares no exterior, mas Osama Bin Laden forneceu ao establishment de Washington o pretexto para invadir o Iraque e retomar a corrida armamentista aos níveis da guerra fria. O 11 de setembro ainda vai render muito no cinema. Ou não, porque nenhum dos filmes a respeito foi um estouro de bilheteria. O imediatamente anterior a "As torres gêmeas", "United 93", de Paul Greengrass, faturou apenas US$ 31,4 milhões na América.

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