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Michael Douglas e Oliver Stone: reencontro em Wall Street de novo imita a vida real | AFP
Michael Douglas e Oliver Stone: reencontro em Wall Street de novo imita a vida real| Foto: AFP

Cannes - Mais de duas décadas depois de Wall Street, Gordon Gekko está de volta em Wall Street: o Dinheiro Nunca Dorme, novamente dirigido por Oliver Stone. Os cabelos estão brancos e já não fazem tanto uso do gel, e as rugas se instalaram no rosto. Mas será que o personagem mudou, após oito anos de prisão por crimes do colarinho branco, da perda do dinheiro, da morte do filho em uma overdose e da separação da filha, que não quer vê-lo nem pintado de ouro?

A pergunta "Você prefere amor ou dinheiro?" está no centro da nova produção, apresentada em sessão de imprensa na manhã de ontem (14), no 63.º Festival de Cannes. "Esta é uma história sobre família", disse Oliver Stone. Na trama, Gordon Gekko sai da prisão sem nada. É procurado por um jovem operador do mercado financeiro, Jacob (Shia LaBeouf), que precisa de conselhos após o suicídio de Louis (Frank Langella), seu mentor e figura paterna, no início da crise mundial. O rapaz também quer aproximar Gordon e a filha, Winnie (Carey Mulligan), que vem a ser sua namorada. Ao mesmo tempo, Jacob deseja vingança contra o ambicioso Bretton James (Josh Brolin), disseminador dos boatos que levaram à ruína de Lou.

O diretor contou que, quando foi procurado por Michael Douglas e o produtor Ed Pressman para fazer um novo Wall Street, em 2006, não queria "celebrar aquela cultura da riqueza". Tudo mudou depois da crise financeira mundial. "Foi como um ataque cardíaco massivo. Era tempo de voltar a isso." Douglas, por sua vez, acha que o roteiro não repete o original. "Meu personagem não tem dinheiro, não pode negociar, está separado de sua filha, perdeu seu filho, era um grande arco para explorar", disse.

Os dois disseram ter ficado atônitos ao descobrir que Gordon Gekko tinha virado ídolo para operadores do mercado financeiro apos o filme de 1987. "Ele era um vilão muito bem definido, e as pessoas sentem-se atraídas pelo vilão. De repente, havia todos esses estudantes e jovens dizendo que eles queriam ser como Gordon", afirmou o ator. "Aí pensamos que todas aquelas pessoas hoje devem estar dirigindo os bancos de investimento. A ganância virou legal. É uma oportunidade de ir a fundo. Será que Gordon mudou?", completou.

O diretor acha que muita coisa mudou em 23 anos. "Tudo se multiplicou." Ele disse não saber para onde vai o capitalismo. "Estou confuso se o capitalismo pode funcionar do jeito que está, parece que não. Mas não sei. Nós nos embebedamos. Em 1987, eu achei que o sistema ia se corrigir. Mas ficou pior", afirmou. "O abismo entre os pagamentos a quem de fato produz com os que fazem dinheiro ficou enorme, gerando tremendo desequilíbrio e injustiça."

Louis Zabel, personagem de Frank Langella, é uma testemunha da mudança do jogo. "Mas ele é um monstro como os outros, só está mais velho e não consegue mais. Seu tempo passou", disse o ator. Josh Brolin concorda que a derrubada das regulamentações do mercado financeiro alterou as coisas. "O teto é muito mais alto agora", disse ele, que chegou a ter um negócio de operação de ações. "Nunca trabalhei com altas finanças, eles falam de bilhões de dólares. Eu vendi uma propriedade e comecei um negócio, na época em que minha carreira andava devagar, mas foi por causa da necessidade, não de diversão."

O jovem Shia LaBeouf teve de fazer um estágio para aprender sobre o mercado. "Fui até onde me deixaram, e eles deixaram muito porque eram fãs do primeiro Wall Street", afirmou o ator, que contou ter ficado um pouco intimidado com o elenco. "Só para você ter uma ideia, sou o único aqui que nunca esteve no Oscar. Isso diz muito sobre esse grupo de pessoas", afirmou. "Fiquei nervoso, mas Oliver foi minha rocha."

Ao contrário do últimos filmes do cineasta – Alexandre, As Duas Torres e W. –, que tinham uma narrativa truncada e caíam na pieguice, Wall Street: o Dinheiro Nunca Dorme consegue manter o equilíbrio entre a crítica aos excessos do capitalismo e da acumulação do dinheiro e os dramas pessoais e familiares dos personagens, em sua maioria bem sólidos. O elenco talentoso também ajuda bastante.

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