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Informações sobre o projeto Terrinha Cultural no www.facebook.com/terrinhacult.
Partindo do centro de Bocaiúva do Sul, são mais ou menos 10 quilômetros por uma estrada de chão, cheia de curvas fechadas, até se enxergar a primeira placa que indica o caminho para o Terrinha Cultural. O projeto leva arte e cultura para crianças da Escola Rural Jacob Porkote, na cidade da Grande Curitiba, e acontece na chácara da família do artista, músico, bonequeiro e educador Renato Perré.
O trabalho, que existe informalmente há nove anos e formalmente, como ONG, desde 2010, é voluntário: Perré tira do bolso o que precisa para confeccionar os cenários, e conta com a ajuda da comunidade. Até agora, o Terrinha não conseguiu ser contemplado por nenhum edital. A prefeitura de Bocaiúva dá apoio logístico com um ônibus sem isso, as crianças de faixa etária de 7 a 14 anos (cerca de 200 atendidas por ano), não conseguiriam chegar.
No Terrinha, a ideia é unir cultura com sustentabilidade e valorização da vida rural. Para isso, Perré leva as crianças por trilhas, apontando a rica biodiversidade local, e as integra na confecção dos cenários dos espetáculos, encenado uma vez por ano para a comunidade, sempre na primavera. A festa no barracão é simples (batizada de Festa da Biodiversão), e cada um traz seu prato de salgado ou doce para saborear após o espetáculo. Neste ano, as crianças apresentaram as Cavalhadas, com cavalos com cabeça feitas de caixa de leite.
Ensaio
Não é fácil controlar a ansiedade das crianças. Com um apito para marcar o ritmo dos tambores com a encenação, Perré precisa se dividir constantemente entre diretor de teatro e educador. É "ajeita o cavalo" para cá, "olha para ela" para cá e "silêncio", a palavra mais frequente. No meio das árvores e do canto dos passarinhos, as crianças se sentem em um imenso palco no pequeno quadrado de concreto, no centro de uma imensidão verde. Durante o ensaio, as meninas, principalmente as que interpretariam as princesas, estavam ansiosas para o grande dia vestiriam um vestido "rodado até o pé."
Mesmo assim, ainda foi preciso lutar com a impaciência de alguns, doidos para voltar para a escola. No dia do ensaio, havia uma atração para competir com o projeto: uma cama elástica. A professora Regina Berton, que labuta para dar conta das classes multisseriadas, diz que as atividades do Terrinha ajudaram a "favorecer as ideias" das crianças, além de promover a perda da timidez. Em uma observação breve, entretanto, é difícil acreditar que o "elenco" sofra do problema.
Perré busca com o projeto algo ainda maior: promover um crescimento pessoal e de autoestima nas crianças, cuja cultura camponesa continua bastante atrelada ao trabalho. O Terrinha Cultural é, portanto, um espaço de abstração e de contato com a sensibilidade, o que é promovido pela arte. "O projeto faz com que a criança faça um contato consigo mesma, com uma sensibilidade individual", acredita.
Por meio de atitudes sutis, a intenção também é fazer com que o morador da zona rural valorize a riqueza que o permeia. "Senão, a gente vai virar uma população que sairá daqui para o consumo. Enquanto isso, o morador da cidade já está percebendo que está consumindo demais. Nessa consciência, a zona rural está atrasada."
Militância
Carioca radicado em Curitiba há 30 anos, e ex-morador de comunidade hippie, Renato Perré disseminar em Bocaiúva do Sul a semente plantada por sua mãe, a bonequeira Maria Tereza Carvalho Silva, pioneira em trabalhos com a comunidade. Ela ensinava teatro para jovens e confecção de máscaras de papel machê. Depois que Maria Tereza morreu, em 2003, Perré começou a sistematizar a ONG, e criou o projeto dois anos depois.
Além de atender a Jacob Porkote e outras escolas que volta e meia o procuram, Perré é um militante: quer instituir um conselho de cultura na cidade, o que facilitaria a vinda de recursos. Também age junto com a comunidade em problemas na escola. Recentemente, evitaram que uma professora fosse transferida de uma escola rural, situação que pioraria ainda mais o atendimento às crianças, que estudam em turmas multisseriadas, sem projeto pedagógico para tal. Perré sempre foi crítico e vê a arte como uma ferramenta de transformação. "A gente tem uma função como artista, que está disposto a melhorar esse mundo."
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