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Quem olha para a foto de Inês Pedrosa, com seus olhos claros e sorriso discreto, pode imaginá-la tímida e carinhosa, alguém de voz suave que fala de maneira muito calma. Ao ler seus livros, descobre uma voz poderosa, capaz de criar imagens contundentes e frases reveladoras.

"As mães têm normalmente uma vantagem sobre os pais: precisam menos dos filhos do que do exercício do amor que os filhos lhes proporcionam. Dedicam-se às crianças como os marinheiros antigos se dedicavam ao mar: com susto, surpresa e doidice", escreve a certa altura do romance de estréia, A Instrução dos Amantes (Planeta, 168 págs., R$ 35), publicado há 14 anos e recém-lançado no Brasil. Uma definição precisa de maternidade por alguém que, à época ainda não era mãe. Mas viria a ser.

"A maternidade e a paternidade influenciam natural e necessariamente o nosso quotidiano e a nossa forma de amar, ou seja, aquilo que somos. Mas não deixei de ser a pessoa que era por passar a ser mãe", diz a escritora, na entrevista que concedeu ao Caderno G por e-mail.

Estranhamento

Os leitores brasileiros devem experimentar uma espécie de inversão cronológica, pois já conhecem os outros dois romances de Inês Pedrosa, ambos respeitados pela crítica e estrondosos sucessos de público: Nas Tuas Mãos (1997) e Fazes-Me Falta (2002). Mas ler A Instrução dos Amantes conhecendo as obras subseqüentes pode gerar algum estranhamento?

"Admito que sim", diz Inês, "hoje já não escrevo da mesma forma que escrevia em 1992, quando o romance foi publicado. A Instrução dos Amantes tem provavelmente uma inocência – não confundir com ingenuidade ou candura, embora também possa tê-las... – que hoje me é mais difícil atingir, mas, por isso mesmo, eu preciso dele na minha história. Sem inocência não se descobre nada de importante sobre coisa nenhuma."

O que moveu a escritora lisboeta em direção ao seu livro de estréia foi o desejo de colocar no papel tudo o que havia experimentado na sua vida até então. "Senti a necessidade imperiosa de escrever sobre o que aprendera durante a minha adolescência, talvez porque, com a aproximação dos trinta anos, temesse perder o essencial dessa aprendizagem."

Talvez por excesso de autocrítica ou mesmo vergonha, existem escritores que não gostam de retornar ao passado e falar sobre seus trabalhos anteriores. Inês não está entre eles. Responder perguntas sobre um livro que escreveu há quase 15 anos não representa problema algum. "Só não tem passado quem já não está vivo... Tenho até um carinho muito especial por este romance, porque guarda a sensação irrepetível de uma iniciação."

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