Os bons companheiros da trajetória de Raul de Souza

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DVD

O Universo Musical de Raul de Souza

Raul de Souza. Selo Sesc SP. R$ 35 (à venda na Loja Virtual Sesc, em lojasesc.org.br). Instrumental.

A música que abre o DVD ao vivo O Universo Musical de Raul de Souza revela logo de início o teor da celebração dos 60 anos de carreira do trombonista carioca.

"Spiritual", de John Coltrane, é uma homenagem ao "mentor" de Raul, e a primeira referência aos músicos que marcaram a vida do trombonista no repertório.

Pouco depois, Raul e banda passam por "A Flor e o Espinho", de Nelson Cavaquinho – que, na década de 1950, encontrou o então João José Pereira de Souza em um bar e o recomendou que participasse do programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional. Foi ali que o jovem trombonista ganhou o nome de Raulito.

A lembrança às suas primeiras gravações com a lendária Turma da Gafieira, entre 1955 e 1957, vem com uma participação que se tornou uma homenagem póstuma: o flautista e amigo Altamiro Carrilho, morto em agosto de 2012, participa de "Vou Vivendo" (de Pixinguinha, outra referência seminal), "Urubu-Rei" (de autoria do flautista) e "Funky Man" (de Raul).

"Foi a primeira vez que ele improvisou sobre um funk, por sinal", conta o trombonista, aos risos, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Ele estava doente, mas conseguiu pegar o avião com uma enfermeira. Veio para o show [gravado no Sesc Vila Mariana em novembro de 2011] e tocou maravilhosamente", diz.

Jobim, que Raul conheceu por volta de 1963, é lembrado em "Ela É Carioca" – que tem participação de Hector Costita, saxofonista que tocou ao lado de Raul no grupo Bossa Rio, de Sérgio Mendes, com o qual excursionou pelos Estados Unidos e Europa.

Carreira internacional que, é importante lembrar, foi necessária para que Raulzinho se tornasse Raul de Souza, hoje com 78 anos. Nos Estados Unidos, o trombonista ganhou não apenas o nome pelo qual ficaria lembrado, mas uma importância da qual sua geração era privada no Brasil.

"Sempre fui um músico que improvisava. Mas isso era proibido. Os caras condenavam. Ninguém entendia nada, ninguém prestava atenção", conta Raul – que menciona João Donato, também presente no DVD, como um dos instrumentistas que enfrentavam essa dificuldade. "Éramos expulsos de todo lugar", lembra.

Da dificuldade em se manter como músico no Rio de Janeiro e em São Paulo veio a necessidade de seguir carreira militar. Foi quando Raul veio para Curitiba, e tornou-se comandante da Aeronáutica no Bacacheri entre 1958 e 1963.

O período rendeu histórias boêmias na noite curitibana, dos concertos na Praça Osório à famosa serenata para o búfalo no Passeio Público.

Remonta a esta época sua ligação com a capital paranaense, onde Raul tem três filhos, quatro netos e uma bisneta, além da sua banda de apoio há cerca de sete anos – o grupo NaTocaia, do qual foram destacados Glauco Sölter e Mario Conde para o show.

"Passar a ser reconhecido como um dos melhores do mundo foi muito importante para mim e para os músicos bons que o Brasil tem. Agarrei a bandeira e levei comigo", diz Raul, lembrando os mais de 15 anos que passou nos Estados Unidos, onde gravou com Herbie Hancock, Airto Moreira e Sonny Rollins, entre outros.

"Estou carregando a bandeira de novo. Dando força aos músicos bons."

CDDisco de inéditas Voilà vem encartado no DVD comemorativo

O CD de inéditas Voilà, gravado em Curitiba, em 2010, por Raul de Souza e o grupo NaTocaia, de Glauco Sölter, Mario Conde, Jefferson Sabbag e Endrigo Bettega, vem encartado no DVD Universo Musical.... Trata-se do mesmo time que gravou o álbum Jazzmim, em 2006.

Além das composições de Raul, o disco traz novamente temas de Sölter ("Todas as Tribos") e Conde ("10 Minutos").

"É como se o Raul fosse um cara da nossa idade, apesar de ser mais velho e ter vivido muita coisa", diz Sölter, sobre como é trabalhar com um instrumentista com tal importância e pioneirismo na música brasileira. "Ele mantém a jovialidade, tem abertura para ideias. Acho que representa uma escola de música brasileira que vai sempre se renovando", diz o baixista.

A soma, de acordo com Sölter, resulta em uma "alquimia" nova – a matriz "fusion" do NaTocaia e a história viva de Raul. "Num primeiro momento foi assustador: ‘será que daria conta?’ Mas depois você vai se aproximando e entendendo como se expressar musicalmente. A comunicação musical é muito rápida", diz Sölter. (RRC)