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Sabe por que Juscelino Kubitschek tinha mania de tirar os sapatos debaixo da mesa? Porque quando ainda era um moleque travesso de Diamantina e adorava brincar de capa e espada, um dia deu um golpe errado e um armário caiu em cima do pé dele, quebrando seu dedo mindinho. O médico, Dr. Matta Machado, receitou antiinflamatório, mobilizou o pé, mas avisou ao futuro presidente do Brasil:

— Este dedo vai te incomodar para o resto da vida.

Intimidades deliciosas como esta, do homem que construiu Brasília e proporcionou ao Brasil uma era de ouro, vão ao ar a partir de hoje na minissérie "JK", de Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral, sob direção de Dennis Carvalho. Como bom mineiro, ou melhor, diamantinense, como prefere a autora, JK ( que na minissérie será interpretado por Wagner Moura e José Wilker) era um trabalhador incansável. E tinha um lado boêmio, galante, brincalhão, que puxou do pai, o caixeiro viajante João César de Oliveira, na minissérie interpretado por Fábio Assunção.

— Depois do expediente ele sempre se cercava de gente divertida. Trabalhava à noite no telégrafo, estudava medicina de dia. E aprendeu a tirar sonecas curtas, de 20 minutos mais ou menos, que o deixavam sempre em forma — conta Maria Adelaide.

Historiador ajudou os autores

JK adorava jabuticaba, macarronada e comida mineira. Dona Sarah ( que na minissérie será vivida por Deborah Falabella e Marília Pêra), toda cerimoniosa, mandava preparar sempre um serviço à francesa no Palácio das Laranjeiras, mas o que dava um prazer especial a Juscelino era ir até a cozinha e cheirar a comida preparada por Etelvina antes das refeições.

— Era um brasileiro comum e acho que é por isso que sempre foi tão reverenciado por todos — diz Alcides Nogueira.

Os autores foram assessorados pelo historiador Ronaldo Costa Couto, um mineiro contador de "causos", que adora lembrar as mineirices dos políticos dos anos 50. Como quando Juscelino se candidatou a governador de Minas Gerais pelo PSD, por exemplo, seu principal adversário era Gabriel Passos, candidato pela UDN . A curiosidade é que Gabriel era casado com a irmã de Dona Sarah.

— Sabe o que os mineiros diziam? A gente não sabe quem vai ser o governador, mas já sabe quem vai ser a sogra — conta Couto, divertido.

Um excelente pé-de-valsa

Os bastidores dessa eleição serão contados na telinha. JK acompanhava a votação pelo rádio e, segundo as primeiras apurações, perdia feio para o Passos. Chateado, o futuro presidente resolveu parar de escutar as notícias e convidou alguns amigos para fazer uma serenata e afogar as mágoas. O resultado virou a favor dele. JK foi eleito governador, e o chororô virou uma festa.

Juscelino não era homem de beber muito. Gostava de champanhe rosé e de uísque.

— Ele se divertia era com o barulho do gelo batendo no copo — diz Alcides Nogueira.

Era um excelente pé-de-valsa, adorava dançar tango, e isso o deixava com uma cotação altíssima junto às mulheres. Uma faceta que será contada com cuidado pelos autores, para não serem deselegantes com Dona Sarah e, ao mesmo tempo, preservarem a imagem de Maria Lucia Pedrosa, a grande paixão de Juscelino durante 18 anos, que fez questão de ler o perfil de sua personagem, interpretada por Letícia Sabatella.

— Ele não era assediador, deselegante como o Jânio Quadros. Mariza ( a personagem de Letícia) será uma mistura de outras três paixões que não serão citadas — diz a autora Maria Adelaide.

O encontro com Mariza será totalmente ficcional. A moça será filha de uma mulher que fora ajudada em 1932 pelo médico e por isso tem verdadeira adoração por ele. Os dois vão se encontrar casualmente durante a campanha, num baile, onde será apresentado a ela, uma moça lindíssima, miss Primavera da época. Ficou o registro nos dois, ela viajou para o Rio para tentar a carreira de modelo e sempre acabavam se esbarrando. Ele vai ficando cada vez mais encantado, até que ela se declara a ele:

— Não tiramos do Juscelino a imagem presidencial. Ela é uma mulher irresistível, e ficou em conflito. Desenvolvemos isso com a delicadeza que o assunto merece — revela Nogueira.

Vaidoso, JK não desprezava uma tintura no cabelo para não deixar os fios brancos tomarem conta. Místico ( ver texto ao lado) , era um devoto de Nossa Senhora da Luz e, depois que a mãe morreu, nunca deixou de ir ao cemitério "conversar" com ela antes de tomar qualquer atitude muito séria. Ativo, acordava todos os dias às 6h e despachava pelo telefone, antes de sair de casa.

—Ah, e ele tinha também mania de pontualidade. Não se conformava quando era obrigado a se atrasar para um compromisso e achava um desrespeito quando alguém se atrasava — diz Costa Couto.

Juscelino era um otimista e amava o Brasil. Mesmo no exílio, inconformado com o fato de não poder voltar, segundo relatos conseguidos no diário do presidente emprestado aos autores pelo jornalista Elio Gaspari, ele não perdeu seu viço e alegria.

— Conversamos muito com o Dennis ( Carvalho, diretor) e ele se incumbiu de passar para os atores essa característica do comportamento do presidente. JK tinha, sobretudo, muita leveza para conduzir assuntos explosivos — diz Alcides Nogueira.

Coisa de mineiros, como diriam os patrícios do presidente. Já que é assim, não custa terminar esta prosa com uma lição de mineirice. Dizem que em abril de 1964, em conversa no Congresso Nacional, Tancredo Neves avisou aos amigos próximos, entre eles JK, que não daria o voto a Castello Branco por questão de princípio, compromisso com a democracia. Juscelino, então, teria feito um apelo:

— Mas, Tancredo, o Castello é um militar diferente, estudou na França, é um sorbonniano, um intelectual como você, já leu centenas de livro.

E Tancredo replicou

— É verdade, Juscelino. Mas ele leu os livros errados.

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