
Quando as indicações ao Oscar forem anunciadas na próxima terça-feira (25), é bem provável que na lista de concorrentes a melhor diretor estejam nomes que há dez anos, ou menos até, eram considerados alternativos e independentes demais para figurar entre os mais cotados pelos estúdios de Hollywood. A crítica e os cinéfilos já os havia descoberto, mas a indústria ainda não tinha encontrado lugar para o que faziam.
À medida em que a geração de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas e outros realizadores da mesma safra se aproxima ou já passou dos 70 anos, é natural que outros nomes comecem a se impor. O interessante é perceber que, mesmo em projetos realizados dentro do esquema do chamado cinemão, e portanto destinados a um público bem mais amplo e menos exigente do ponto de vista estético, vários deles vêm conseguindo manter os traços autorais.
Favorito ao Oscar 2011, David Fincher, 48 anos, disse, ao receber o Globo de Ouro de direção por A Rede Social, no último domingo, que seu nome era mais identificado como o de um autor de filmes sobre sociopatas e serial killers, e não parecia destinado a se tornar habitué das festas de premiações. Enganou-se.
De fato, dois dos melhores longas-metragens de Fincher, Seven Os Sete Crimes Capitais e Zodíaco giram em torno das investigações de crimes cometidos por assassinos em série. E um de seus títulos mais autorais e cultuados, O Clube da Luta, tem como protagonista (Edward Norton) um sujeito bipartido pela esquizofrenia.
Já com O Curioso Caso de Benjamin Button, baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, Fincher se aproximou mais do que a indústria espera de "um filme de prestígio". Tanto que foi indicado a uma penca de Oscars. Mas, se prestarmos atenção, a fábula sobre um homem que nasce velho (vivido por Brad Pitt) para rejuvenescer ao longo da vida e morrer na primeira infância, mas sofrendo de demência senil, vamos encontrar uma marca evidente que permeia a obra do diretor: a atração por personagens marginais, sempre em diálogo com o grotesco.
Portanto, A Rede Social não é tão estranho assim dentro do corpo da filmografia de Fincher. A trajetória de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, é usada como metáfora para falar de um mundo no qual relacionamentos virtuais, possibilitados pela revolução digital, encurtaram as distâncias geográficas, mas também têm desumanizado a natureza desses elos frágeis. Zuckerberg (Jesse Eisenberg) é retratado com um jovem misantropo, ensimesmado e capaz de passar por tudo e todos para atingir o sucesso.
Do ringue ao balé
Outro diretor que deve estar entre os cinco concorrentes ao Oscar, e pela primeira vez, é o norte-americano Darren Aronofsky, de 41 anos. Em 2008, o cineasta ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e ressuscitou a carreira do errático ator Mickey Rourke com O Lutador. Do submundo da luta-livre, e de uma abordagem direta e realista, Aronofsky deu uma pirueta em direção a seu novo longa.
Cisne Negro, que estreia 4 de favereiro no Brasil, recebeu dez indicações ao Bafta (Oscar da Grã-Bretanha), incluindo as de melhor filme e direção, e deu a sua protagonista, Natalie Portman, o Globo de Ouro de melhor atriz de drama. A jovem estrela já é apontada como franca favorita ao Oscar por seu elogiado desempenho como a bailarina Nina Sayers, que ganha o papel principal (o do Cisne Branco) duma produção de O Lago dos Cisnes, mas aos poucos vai perdendo a razão em um surto psicótico, e, simbolicamente (ou não, conforme a interpretação do espectador), se transformando em sua irmã gêmea e má (o Cisne Negro).
Festejado por sua originalidade e ousadia formal, Cisne Negro reaproxima Arnofsky de um cinema mais simbólico e metafórico, que vasculha o inconsciente labiríntico dos personagens, algo que já explorou com sucesso em Pi, sobre o complexo mundo da matemática, e Réquiem para um Sonho, mergulho angustiante e expressionista no universo dos consumidores de drogas.
Blockbuster
Dentre os possíveis indicados ao Oscar, o britânico Christopher Nolan, aos 40 anos, é o que fez a transição mais óbvia do cinema independente para as superproduções. Responsável pela reinvenção da franquia Batman (ele está prestes a iniciar a rodagem do terceiro longa), Nolan chamou a atenção no início dos anos 2000 com Amnésia, filme noir festejado pela crítica por conta do roteiro não linear, que como um quebra-cabeças, exige do espectador a disposição de construir a trama a partir de seus fragmentos desorganizados.
Esse desafio, de certa forma, também está em A Origem, grande êxito comercial em 2010, assim como foi Batman O Cavaleiro das Trevas, uma das maiores bilheterias da história do cinema.
Em A Origem, um roteiro original de Nolan, o diretor fala sobre a possibilidade concreta de penetrar no mundo dos sonhos, por onde trafega seu angustiado protagonista, interpretado por Leonardo diCaprio.
Acusado de fazer um cinema cerebral, com mais forma do que conteúdo, o diretor inglês é hoje um dos (senão "o") mais cortejado pela indústria, que nele vê sinônimo de sucesso e inovação.






