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Nader e Simin, a Separação: retrato do Irã contemporâneo | Divulgação
Nader e Simin, a Separação: retrato do Irã contemporâneo| Foto: Divulgação
  • Kevin Spacey, por Margin Call, está entre os favoritos a melhor ator

Berlim - Logo mais à noite serão anunciados os vencedores do Urso de Ouro da 61.ª edição do Festival de Berlim, marcada pelo apoio ao cineasta Jafar Panahi e pelo forte protesto pela prisão do diretor no Irã. Por isso, ele foi impedido de vir à Berlinale como convidado especial para integrar o júri da mostra competitiva.

Isso deve ser um fator a mais para ajudar que o Urso de Ouro vá para o, já por si só, excelente, Nader e Simin, a Separação, do iraniano Asghar Farhadi.

O filme, por trás da história de um casal que está se separando, vai fundo nos conceitos de moral, justiça e verdade na sociedade iraniana.

Como disse Farhadi, ele colocou no filme todas as preocupações que tinha em relação ao momento que o Irã vive hoje. Mas, em Nader e Simin, tais questões são levantadas mais pelo que é sugerido do que pelo que é dito e mostrado em cena, sutileza que deve ter ajudado na liberação do filme pela censura.

Farhadi tem, no entanto, um concorrente fortíssimo: O Cavalo de Turim, do consagrado diretor Béla Tarr. Em termos de cinema, é certamente o melhor filme da competição deste ano – que, por sinal, não esteve entre as melhores – e traz todas as marcas do estilo do diretor húngaro numa história, ao mesmo tempo, apocalíptica e bela sobre a vida e os dramas existenciais do homem moderno.

Embora distantes do potencial dos filmes de Farhadi e Tarr para ganhar o Urso, outros títulos, é claro, estão competindo e cabeça de júri traz sempre uma surpresa.

Nesse caso, se for pela qualidade e aceitação da crítica especializada aqui presente, têm chances: Margin Call, do estreante JC Chandor, sobre a crise financeira de 2008, estrelado por Kevin Stacey; Sleeping Sickness, do alemão Ulrich Kohler, sobre médicos da África trabalhando contra a doença do sono; Coriolanus, que chegou cercado de grande expectativa por marcar a estreia de Ralph Fiennes na direção.

O filme de Fiennes, que traz para as telas a tragédia de William Shakespeare sobre o grande general Coriolanus – interpretado pelo próprio Fiennes – não decepcionou; pelo contrário, foi muito aplaudido e bem recebido. Mas não parece ter fôlego para concorrer com os longas iraniano e húngaro, os dois mais aclamdos até agora.

Correndo por fora, Come Rain, Come Shine, de Lee Yoon-ki, único asiático da competititva, despertou reações opostas. Para uma minoria, a história de um casal também se separando, remete ao estilo de Rohmer; para a maioria, o filme é fraco e arrastado. A unanimidade ficou em torno dos atores, com os ótimos desempenhos de Hyeon Bin (Full Autumn) e Im Soo-jeong (I´m a Cyborg, but That´s O.K.)

Decepções

Alguns filmes chegaram aqui bem cotados, mas decepcionaram a audiência. Um deles foi Um Mundo Misterioso, único representante sul-americano na competição, que teve uma recepção fria. O filme, do argentino Rodrigo Moreno, fica muito abaixo de El Custodio, que ele apresentou aqui na Berlinale, em 2006. A história cheia de metáforas sobre um homem se movendo numa sociedade paralisada e ameaçada de ruína econômica é confusa e não despertou maior interesse.

Outro que chegou aqui com muitos elogios, inclusive da organização do festival, que intensificou neste ano a parceria com o Festival de Sundance, foi o independente The Future, de Miranda July. Mas a comédia surreal da diretora em torno de um casal e um gato de rua não convenceu e teve uma das piores avaliações do júri especializado da revista Screen, espécie de termômetro dos grandes festivais internacionais.

Até o fechamento desta edição, ainda seria mostrado The Forgiveness of Blood, de Joshua Marston (diretor do ótimo Maria Cheia de Graça), sobre costumes de vingança da Albânia.

Em última análise – e conforme comentários que circulam por aqui –, talvez questões políticas prevaleçam para que o Urso de Ouro seja dado a Nader e Simin, a Separação. E o Grande Prêmio do Júri, ou o Urso de Prata de melhor diretor, vá para Béla Tarr. Ou, talvez, o contrário.

Entre os atores, não há um grande nome em destaque, mas certamente há fortes chances para Kevin Spacey (Margin Call), Ralph Fiennes (Coriolanus) e para o húngaro Janos Derzsi, excelente no papel principal de O Cavalo de Turim.

Entre as atrizes, estão sendo faladas Erika Bók, no impressionante papel da filha que acompanha o pai em O Cavalo de Turim; Leila Hatami, vivendo Simin, a esposa que quer deixar seu país no filme iraniano; Vanessa Redgrave, no papel da poderosa Volumnia, de Coriolanus; e a alemã Lena Lauzemis, que interpreta Gudrun Ensslin no alemão If Not Us, Who?, que relata as raízes da formação do grupo guerrilheiro Baader-Meinhof dos anos 60 e 70, na Alemanha.

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