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De tempos e tempos, alguém resolve ressuscitar na televisão o velho formato do "festival de MPB". A última vez foi no ano passado, quando a TV Cultura, de São Paulo, produziu a sua versão para o gênero. Entre mortos, feridos e uma ou outra canção razoável, sagrou-se campeã a dupla Danilo Moraes e Ricardo Téperman, autora e intérprete da fraquinha "Contabili-dade". "Achou!", de Dante Oz-zetti e Luiz Tatit, considerada a melhor composição do certame, ficou com o segundo lugar.

Não deu outra: como na época em que os festivais realmente mexiam com o país, o público presente no Teatro do Sesc Pinheiros entoou uma grande vaia em protesto contra a "marmelada". Mas a semelhança com os anos 60 e 70 parou por aí, porque o material escrito pelos finalistas era, no geral, chatíssimo.

Quase um ano depois, a gravadora MCD lança mais uma prova de que os jurados estavam errados. Achou!, assinado por Dante Ozzetti e a cantora Ceumar, que defendeu a canção-título no festival, já é um dos melhores discos de MPB de 2006. Idealizado a partir da música que concorreu no festival, o CD traz 12 faixas compostas por Ozzetti desde a fatídica final do evento. Ou seja: nada de releituras manjadas. Apenas canções fresquinhas, com letras de gente como Zeca Baleiro, Alzira Espíndola, Chico César, Zélia Duncan e o próprio Luiz Tatit.

"É um disco que já nasce com a empatia do público", diz Ceumar, referindo-se ao "termômetro" que foi o Festival da Cultura. Para ela, "Achou!", a música, é também a síntese do CD. "Ela tem um arranjo criativo, imprevisível. E a letra fala da possibilidade de uma nova forma de amor", explica. "Investir/ É cultivar o amor/ Se despir/ É ativar/ Resistir/ É aturar o amor/ Insistir/ É saturar", são os versos iniciais da canção.

Arranjador de mão cheia e vencedor do Prêmio Visa 2000, Dante é mais conhecido por seus trabalhos com a irmã, a cantora Ná Ozzetti. Ceumar, mineira radicada em São Paulo desde 1995, reforça a lista das intérpretes brasileiras festejadas pela crítica, mas ignoradas pelo grande público. Seus dois discos-solo, Dindinha (2000) e Sempreviva! (2002), acabam de ganhar reedições pela MCD. "No terceiro CD, que deve sair em breve, pretendo cantar composições minhas também. Tenho mostrado algumas coisas por aí e as pessoas têm gostado", avisa.

Sobre o Festival Cultura, que não anunciou uma segunda edição (por que será?), Ceumar despista – e joga a bomba no colo de Gilberto Gil. "Não questiono o resultado, talvez o formato. Essa coisa de competição sempre muda os ânimos, né? Mas acho que o desgosto maior veio de outras significações da cultura brasileira. O ministro estava lá e foi muito vaiado também, lembra?". Como não lembrar do maior arroz-de-festa do pedaço?

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