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Violência está presente ao longo da peça, regida pela imaginação de uma menina de 9 anos | Guga Melgar/Divulgação
Violência está presente ao longo da peça, regida pela imaginação de uma menina de 9 anos| Foto: Guga Melgar/Divulgação

Difícil encaixar Os Mamutes, peça carioca apresentada no Teatro da Caixa no último fim de semana, em um gênero teatral. O humor negro que perpassa tanto trama quanto encenação se mescla com o nervosismo televisivo, não chegando a sofisticar-se, e sim atirando alusões ao cotidiano, referências pop e personagens histriônicos para todo lado. A plateia vai ao delírio, se diverte com cada apelido e careta.

O que não encaixa é o uso de uma metáfora bem bolada – a corrupção e a mediocridade transformam, naquele universo, humanos em mamutes – com uma moral final abrupta, pela qual todos nós corremos o risco de sermos mortos dentro de um teatro.

A metáfora é calcada numa iniciante crítica social – o próprio autor, Jô Bilac, conta, no programa do espetáculo, ter se surpreendido com a verborragia ao reler esse seu texto inicial, escrito aos 18 anos.

Apesar do link com a realidade, a trama toda é fantástica, estimulada pela ágil encenação de Inez Viana. O mais interessante é o fato de toda ela se passar na imaginação da garota Isadora (Caroline Pismel), que rege acontecimentos violentos de dentro de seu quarto, com empolgação digna de uma Alice de Lewis Carroll. Munida de caderno e caneta, ela cria Leon (Leonardo Brício), rapaz ingênuo assediado por uma multinacional do fast food, cuja matéria-prima é carne de "mamute". O produto final, hambúrgueres.

Estimulado pelo amigo imaginário Capitão Man (Ricardo Souzedo), ele aceita a missão de abater um "mamute" naquele dia em troca de um emprego na rede alimentícia. No caminho, encontra pessoas perfeitas que logo se revelam perfeitos mamutes, além de vilões e heróis contemporâneos, como uma transexual que lidera a marcha "yankees go home".

Seguindo a linha nonsense e multirreferencial da peça, essa "puta revolucionária", chamada Frenesi (Zé Wendell) irá desbancar a garota propaganda da Mamutes Foods, Shiva Moon (Juliane Bodini), empática megera.

No desconcerto do final, fica a percepção de que a dramaturgia é uma arte que se treina e aprimora, como mostram textos mais recentes de Bilac já trazidos a Curitiba (como Rebu, Savana Glacial e Conselho de Classe).

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