• Carregando...
Zilda Fraletti em sua galeria com obras do artista Erwin Zaidowic | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Zilda Fraletti em sua galeria com obras do artista Erwin Zaidowic| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Quando tinha 23 anos, a galerista Zilda Fraletti se apaixonou pela arte – foi o que curou um rompimento amoroso. Ela estava em Londres, radicada na casa de um tio para estudar inglês, quando resolveu visitar todos os museus e galerias que podia quando suas aulas terminavam. Foi na National Gallery, onde ela passeava semanalmente, que se "formou" em história da arte. Mal sabia ela que aquele ano sabático seria decisivo em sua vida. Pouco depois, se viu trabalhando com o mundo dos quadros e pinturas, e nunca mais parou. E lá se vão 30 anos como galerista, comemorados neste ano.

Tudo o que ocorreu em Londres parecia indicar o caminho. Além do seu interesse pelos museus, conheceu o artista Carlos Eduardo Zimmermann, que lá fazia uma residência artística e é, até hoje, um de seus maiores parceiros na galeria. Mas não voltou das terras inglesas já pensando em montar um negócio, sabia apenas que não queria mais ser psicóloga (sua área de formação). De volta a Curitiba, deu aulas de inglês, e, depois, trabalhou nas Cataratas do Iguaçu.

Nesse meio tempo, casou. E foi sua mãe, Vera Beltrão, que começou o negócio, por acaso. "Ela tinha visto um consórcio na área de arte, achou legal e eu e meu ex- marido [Luiz Eugênio] ficamos entusiasmados para fazer entre amigos. Começou com um sorteio de obra por mês, era uma festa", conta. A empreitada cresceu: o casal foi para São Paulo e abriu um escritório de arte, mas voltou para Curitiba em 1995, quando Zilda decidiu que era hora de ter um espaço onde as pessoas pudessem ver as obras. "Entrei para ajudar a minha mãe e no fim a coisa ficou para mim. Digo que foi ela que fez a galeria de presente." Inaugurou o local com uma mostra que reuniu artistas como Teca Sandrini, Mazé Mendes, Juliane Fuganti e, claro, Carlos Zimmermann. "O começo foi difícil, e não tinha uma galeria voltada somente para a arte contemporânea. Mas insisti, fazer igual as outras não tinha sentido." Hoje, ela representa de 40 a 50 artistas brasileiros, e trabalha com obras consideradas de valor médio, que custam cerca de R$ 5 mil. "É algo mais acessível, mas busco sempre artistas que investem na sua profissão, não é nada apenas para decoração."

Com os clientes, procura mostrar que a arte não deve ser enxergada somente como investimento. "Creio que tem de ser vista primeiro como arte, que foi criada para mexer com a gente. É uma pessoa que criou algo que pode fazer alguém rir, chorar. Fico agoniada de ser tratada só como investimento, porque não podemos garantir que um artista vá se valorizar com o tempo."

A estrutura da galeria é enxuta: conta com um vendedor, Carlos, e Ademir, o motorista e ajudante geral. Uma das filhas (ela tem duas, Priscila e Gabriella), cuida do financeiro. Zilda se encarrega do restante dos trâmites, nunca antes de fazer a sua uma hora de ioga diária, que a mantém em excelente forma aos 60 anos. No meio das atividades, escreve sua coluna mensal para a Revista Lush – no momento, está apaixonada pela obra do hiper-realista australiano Ron Mueck, tema de seu último artigo. Mas é preciso "correr atrás o tempo inteiro", diz ela, pois as vendas são sazonais. "Começo do ano é um pânico, e o segundo semestre é sempre melhor que o primeiro. Num mês vende bem, em outro cai um monte. É uma área difícil."

Desmistificar

Zilda entende que há uma aura "intocável" na arte e nas galerias – tanto que, quando abriu seu espaço, muita gente chegava na porta e recuava. Hoje, por meio de exposições e parcerias com outros espaços, tenta deixar as obras cada vez mais visíveis. Além disso, trabalha com pelo menos uma exposição por ano com novos artistas (a última foi de Erwin Zaidowic ).

Também nunca esteve tão atenta com a arte feita nas ruas. Com o namorado, Gilberto, com quem está há dois anos, redescobriu o centro da cidade. Todos os domingos, os dois saem do bairro Cabral a pé, observam os grafites do caminho e cruzam toda a feirinha do Largo da Ordem. Em uma das paradas, pega uma caixinha de fósforo da artista Tiemi. O passeio segue até o Paço, para um café, e termina com uma cerveja no bar Stuart. "Quem não anda não vive a cidade", acredita.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]