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A morte

- Paranoid Park – Van Sant apresentou, na edição deste ano do Festival de Cannes, seu mais recente filme, Paranoid Park, em que volta a tratar da morte pelo olhar que já se tornou sua marca registrada. Um garoto se envolve em um crime sem saber ao certo o porquê. Assim como em Elefante, não interessam os motivos ou explicações reducionistas. Van Sant usa mais uma vez sua câmera para mostrar o quão insondável pode ser a alma humana. O filme já tem distribuição garantida no país e deve participar de mostras até o final do ano.

- Gerry e Elefante – Nos primeiros dois filmes da chamada Trilogia da Morte, que se completa com Últimos Dias, o diretor realiza seus experimentos cinematográficos, com planos longos e lentas movimentações de câmera. Em Gerry, não-lançado no Brasil, a câmera acompanha dois amigos que testam seus limites em uma jornada pelo deserto; em Elefante, Van Sant constrói uma releitura poética dos atentados no colégio Columbine, de Denver (Colarado, EUA).

Há tempos, o diretor Gus Van Sant pretendia rodar um filme que retratasse os últimos dias de Kurt Cobain, o mais emblemático ídolo de rock da década de 90. Depois dos introspectivos Gerry (2002) e Elefante (2003), Van Sant completou a empreitada com Últimos Dias (2005), que foi exibido no Brasil somente em sessões especiais de mostras e chega direto às locadoras pela Warner Filmes.

Mas não espere uma biografia tradicional do líder do Nirvana. Logo nas primeiras cenas de Últimos Dias, o perturbado Blake (Michael Pitt, de Os Sonhadores) percorre o pântano que rodeia a isolada mansão em que se refugiou murmurando frases desconexas. Van Sant usa planos abertos e, sem nenhuma pressa, acompanha a solidão de Blake. O músico entra em uma cachoeira, acende uma fogueira, percorre o bosque. E a câmera o acompanha de forma voyeurística, sem interferir na (não) ação.

O que se segue são intermináveis planos que se cruzam, se repetem, se complementam. Van Sant desglamouriza o rock e procura construir uma série de cenas quase aleatórias, aprofundando-se no lado decadente de Blake/Cobain. Viciado em heroína e praticamente sem se comunicar com o grupo de amigos com quem compartilha a casa, Blake passa os dias entre um estado de alucinação e semi-lucidez, quando rascunha frases em um pequeno caderno. A música – que talvez fosse fundamental em um filme baseado nos últimos dias de um astro de rock – se torna coadjuvante, com exceção da cena em que Blake toca diversos instrumentos em um ensaio de bom rock grunge, enquanto a câmera se distancia lentamente do plano. Ponto para Van Sant.

Um telefone que toca insistentemente revela que o músico está sendo procurado pelo resto da banda. Blake escuta, mudo. Mais ligações: antigos companheiros e uma voz feminina que possivelmente é a da ex-mulher do roqueiro, Courtney Love.

Apesar da afirmação, ao final do filme, de que se trata de uma obra de ficção, "parcialmente inspirada nos últimos dias de vida de Kurt Cobain", o diretor constrói um retrato impressionista do que poderia ter sido o final da carreira do músico – com o vício em estado avançado e sofrendo pressões pelo sucesso dos álbuns –, o quadro de um artista em crise.

A atmosfera – essencial na filmografia de Van Sant – é mantida pelos curtos diálogos entre os amigos de Blake, de sexualidade ambígua e sem muito o que fazer pela cidade. O filme conta também com participações "reais", como um vendedor de anúncios que realmente apareceu no set de filmagem e acabou sendo incorporado à fita e dois atores que interpretam jovens mórmons que visitam a casa. Somadas às improvisações dos atores, o resultado é um filme naturalista e sincero, com todas as suas imperfeições. GGG

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