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Nova Iorque - Os selos em homenagem aos Simpsons, lançados pelo Serviço de Correios dos Estados Unidos no início de maio, escaparam de minha atenção até o final de junho. Foi aí que um acúmulo de correspondência a ser enviada me forçou a uma passada emergencial numa agência.

Lá estavam eles, Homer, Bart, Lisa e Maggie, cada um numa clássica fotografia 3 x 4, num pequeno retângulo de cor berrante, projetando o máximo de seu poder físico e visual. Não há ação, som, enredo ou espaço auxiliando, só cor, linha, escala e muita personalidade. Esses não estão entre os melhores selos americanos de todos os tempos?

Tiremos o exagero simpsoniano de nossa época: os copos, as lancheiras, as escovas de dente. Contemplemos as esquisitices do progresso dentro do limitado formato do selo de correio e sua tendência à pompa e à miniaturização. Não sobra muito, mas os selos dos Simpsons conseguem alguma inovação. Elas saltam aos olhos. Aí vão as razões.

Primeiro, as incomparáveis expressões, definidas pelo inimitável traço de Matt Groening, são encapsulamentos de cada personagem. Homer é representado com a boca aberta e a língua agitada: é um grito de pânico, não o famoso "D’oh", expressão do personagem nos momentos de frustração. Marge faz um biquinho e parece confusa, como se pressentisse um dos esquemas fraudulentos do marido. Bart estampa seu sorriso sem graça de quem foi pego novamente. Lisa é toda bondade, eu-tentei-te-avisar. O olhar zangado de Maggie sugere que alguém pisou em sua camisola. Sua chupeta tem duas linhas de contorno, o único sinal de movimento nas estampas.

Segundo, as cores elétricas são, como sempre, extraordinárias, um pouco chocantes até, dentro do gênero selos. A paleta dos Simpsons sempre foi radical e subversiva, como as críticas sociais do programa. Em termos de arte, assemelha-se às cores inovadoras de artistas como Andy Warhol, Bruce Nauman e Matthew Barney. Cinco tons excitantes são suficientes: amarelo gema, magenta, azul, amarelo-esverdeado, lilás, algum branco (principalmente nos olhos e dentes) e toques de vermelho.

Sutis distinções tonais são alcançadas. A cabeça amarela de Homer é colocada sobre um fundo levemente mais escuro. O cabelo de Marge é de uma cor um pouco mais intensa que o painel atrás de Bart. Vermelho é só para a língua de Homer, a chupeta de Maggie, o colar de Marge e um tiquinho na camiseta de Bart.

Terceiro, menos é mais. A personalidade dos Simpsons é reduzida à sua essência, e assim são as estampas. As imagens são isentas de detalhes, exceto pelas letras USA e o número 44 (centavos). Nenhum exagero nas texturas, nenhum nome identificável. As cores podem dominar e os rostos são ressaltados. Como as esculturas de Richard Serra, só um pouco menores e mais baratos, os selos confirmam o adágio que tamanho não é documento. Com socos de David, eles golpeiam o Golias americano do analfabetismo visual.

Não é novidade que os Simp­­sons funcionam bem tanto fora quanto dentro da tela, mas esses selos surpreendem. Pa­­ralisados numa ex­­pressão, cortados e confinados, os retratos homenageiam ao mesmo tempo os memoráveis membros da família e a economia impressionante que lhes dão vida. Não sei se os colo em minha correspondência atrasada ou man­­do fazer um quadro com eles.

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