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Ralph Fiennes em cena do filme O Leitor, baseado no livro do alemão Bernhard Schlink, publicado no Brasil pela Record | Divulgação
Ralph Fiennes em cena do filme O Leitor, baseado no livro do alemão Bernhard Schlink, publicado no Brasil pela Record| Foto: Divulgação

No enredo de O Leitor, romance do alemão Bernhard Schlink, publicado em 1995, cuja adaptação cinematográfica concorrerá a cinco Oscars neste ano – incluindo melhor filme –, o protagonista abandona a família e distancia-se da profissão para se dedicar à leitura.

Não o faz numa busca por enriquecimento intelectual pessoal, mas para gravar, em voz alta, obras das quais gosta em fitas cassete que envia à mulher que ama – uma ex-oficial nazista analfabeta, que se encontra presa numa cadeia.

Entre os temas que tornam O Leitor uma das produções mais interessantes da corrida pelas estatuetas, o questionamento sobre o quanto a literatura pode fazer com que a vida de alguém seja mais ou menos feliz é o mais envolvente.

Reflexões como esta podem, certamente, ser motivadas por um filme. Mas nada como um mergulho na obra literária que lhe deu origem para desdobrar e aprofundar ideias mais abstratas do que aquelas reveladas pelas imagens na tela.

Por conta disso, vale a pena conferir a lista dos livros que inspiraram os principais concorrentes a prêmios neste ano.

Entre eles, há títulos de considerável qualidade, como o próprio O Leitor e o conto de Scott Fitzgerald que inspirou O Curioso Caso de Benjamin Button, que está na coletânea Seis Contos da Era do Jazz e Outras Histórias, reeditada agora pela José Olympio, acompanhada de oportuna tarja com o logo oficial da produção – candidata a 13 Oscars, entre eles, filme, ator e direção.

Para os editores ouvidos pela reportagem, a publicação de livros que "pegam carona" em filmes de grande repercussão pode ser um filão bastante rentável. Mas a maioria concorda que a regra vale apenas para os bons textos. Em geral, um ótimo filme não consegue salvar um mau livro.

"O leitor iniciado frequenta livrarias, lê resenhas nos jornais e por esses meios escolhe os livros que vai comprar. Mas um público mais amplo, que não segue esse caminho, pode ser atraído a ler por conta da grande divulgação de um lançamento no cinema", diz Maria Amelia Mello, da José Olympio.

Já Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, acredita que cada caso é uma história diferente, mas, em geral, as vendas de um livro aumentam se este já tiver, por si só, uma boa trajetória. "O que vendia bem antes, sozinho, melhora com o filme. O usual é que os títulos já com potencial tenham seu desempenho incrementado depois que a adaptação para o cinema chega às telas", diz.

E dá o exemplo de O Menino do Pijama Listrado, romance juvenil de John Boyne, que não teve muita divulgação pela imprensa, mas que vendeu bastante, na base do boca-a-boca.

Após a estreia do filme, ainda que com resenhas negativas nos jornais, a obra entrou nas listas de mais vendidos.

A Companhia das Letras prepara uma reedição de Sua Resposta Vale um Bilhão, romance do indiano Vikas Swarup que deu origem à Quem Quer Ser um Milionário?, filme de Danny Boyle que está entre os queridinhos da premiação, indicado a dez Oscars, entre eles, os de melhor filme e diretor.

Responsável pela publicação de O Leitor no Brasil, Luciana Villas Boas, da Record, acha que nem toda versão cinematográfica beneficia um livro. "Em geral, o lançamento de um bom filme, com distribuição forte, conta positivamente para as vendas de um livro. Mas o filme tem que ser bom e forte, e o livro, mais ainda", diz.

Roberto Feith, da Objetiva, não crê que bons filmes possam salvar livros ruins. "Um grande filme ajuda a vender o livro no qual foi baseado, da mesma forma que um grande livro ajuda a atrair interesse no filme no qual foi inspirado. O fator fundamental para definir se um ajuda o outro, é, naturalmente, a qualidade, de um e do outro."

A Objetiva/Alfaguara acaba de lançar Foi Apenas um Sonho, no qual o filme homônimo, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, foi baseado. "O romance de Richard Yates é extraordinário, mas totalmente desconhecido aqui. Com o filme concorrendo ao Oscar, com grandes atores, há a possibilidade de uma ampliação no número de leitores do livro, que dificilmente seria alcançada sem o impacto midiático do filme." Foi Apenas um Sonho está indicado a três Oscars.

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