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O Oscar se internacionalizou. Filmes da Argélia, Canadá, Dinamarca, Alemanha e México concorrem ao prêmio de melhor filme em língua estrangeira. Além disso, Cartas de Iwo Jima, filme de Clint Eastwood falado em japonês, e o multilingue Babel vão disputar a estatueta de melhor filme. Sinal dos tempos ou uma estratégia de Hollywood para continuar dando as cartas?

Embora parecesse fora do páreo até o início desta semana, justamente pelo "exotismo" de ser falado na língua dos samurais, Cartas de Iwo Jima parece já ter virado a mesa e desponta como favorito ao Oscar de melhor filme, até porque foi amplamente reconhecido pela crítica norte-americana.

O longa-metragem documenta a Batalha de Iwo Jima do ponto de vista dos japoneses e serve como uma espécie de contraponto para A Conquista da Honra, que narra o mesmo confronto, mas do ponto de vista das tropas norte-americanas.

A produção recebeu o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, mas, por ser norte-americana, não pôde candidatar-se ao Oscar de filme estrangeiro. Se vencer a estatueta de melhor filme, será o primeiro falado em língua não-inglesa a conquistar tal feito. E Clint Eastwood, que já levou a melhor duas vezes na categoria (por Os Imperdoáveis e Menina de Ouro), é o homem da hora em Hollywood. Uma espécie de todo-poderoso para quem nada é impossível.

Além das fronteiras

Os indicados ao prêmio de melhor filme em língua estrangeira, anunciados na terça-feira, são Dias de Glória, da Argélia, Water, filme canadense sobre a Índia, Depois do Casamento, da Dinamarca, A Vida dos Outros, da Alemanha, e o favorito O Labirinto do Fauno, do México, que empatou no terceiro lugar entre todos os candidatos ao Oscar, com indicações em seis categorias. Todos são títulos muito elogiados pela crítica e, como o número de votantes nessa categoria é pequeno comparado ao dos que elegem o melhor filme, tudo pode acontecer.

Dirigido por Rachid Bouchareb, Dias de Glória mostra o sacrifício mal recompensado de tropas magrebinas, do norte da África, para libertar a França ocupada duradial. Seu elenco recebeu um prêmio conjunto de atuação no Festival de Cinema de Cannes, em maio de 2006, e o filme ajudou a provocar uma mudança na maneira como a França trata seus veteranos de guerra. De quebra, lembra ao mundo que muçulmanos, hoje rechaçados no Velho Continente por muitos, já deram sangue e suor em nome do país que os colonizou.

Water, da diretora Deepa Mehta, nascida na Índia mas residente no Canadá, é um drama ambientado nos anos de 1930, quando a Índia buscava sua independência da Inglaterra. Nesse cenário, um grupo de mulheres viúvas luta por seus direitos. Elas são lideradas por uma delas, que quer escapar das rígidas restrições sociais impostas às "mulheres sem homens". Seu objetivo terá o apoio de um homem da classe baixa e seguidor dos pensamentos de Mahatma Gandhi. Mehta começou a rodar o filme na Índia em 2000, mas turbas de manifestantes religiosos a obrigaram a fechar a produção. Ela a retomou cinco anos mais tarde no Sri Lanka, com um elenco diferente.

A Vida dos Outros fez sucesso na Alemanha, o país nativo do roteirista e diretor Florian Henckel von Donnersmarck, formado em Oxford, no Reino Unido. A história se passa em Berlim Oriental na década de 1980. O veterano ator de teatro alemão Ulrich Muehe representa um agente da polícia secreta que grampeia o apartamento de um casal de intelectuais e então se envolve em suas vidas, com consequências trágicas.

Depois do Casamento, dirigido por Susanne Bier (do ótimo Brothers), é protagonizado por Mads Mikkelsen, que faz o vilão em Cassino Royale, no papel de um funcionário de organização humanitária que volta para casa, na Dinamarca, e assiste a uma cerimônia de casamento durante a qual vários conflitos vêm à tona.

O trabalho do diretor mexicano Guillermo del Toro, O Labirinto do Fauno, já exibido em Curitiba, é uma intrigante e violenta fantasia ambientada na fase que se seguiu à Guerra Civil Espanhola. Uma menina faz amizade com o personagem-título, um fauno sinistro, metade homem e metade bode, enquanto seu padrasto malévolo luta contra os combatentes republicanos remanescentes. O também mexicano Alfonso Cuarón, diretor do ótimo E Sua Mãe Também, conseguiu três indicações para Filhos da Esperança, ainda em cartaz no Cine Novo Batel: melhor roteiro adaptado, fotografia e montagem.

E não se pode esquecer o globalizado Babel, já em exibição no Brasil. O filme é falado em inglês, espanhol, árabe, dialeto bérberi, japonês, francês e linguagem de sinais para surdos-mudos, usada pela personagem da japonesa Rinko Kikuchi, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante ao lado da veterana (e excepcional) atriz mexicana Adriana Barraza, que não é a único do idioma de Cervantes na corrida do Oscar. Penélope Cruz, por Volver, compete ao Oscar de melhor atriz falando o próprio idioma. É, o Oscar foi "babelizado". Quem diria!

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