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30 fotografias de autoria dos alunos da oficina, expostas no Beto Batata, revelam um olhar atento e otimista da Vila das Torres, vizinha ao Jardim Botânico, um dos cartões postais de Curitiba | Coletivo Olhares da Vila
30 fotografias de autoria dos alunos da oficina, expostas no Beto Batata, revelam um olhar atento e otimista da Vila das Torres, vizinha ao Jardim Botânico, um dos cartões postais de Curitiba| Foto: Coletivo Olhares da Vila

Cleusa Freitas de Lima entendia mais de agulhas e fios do que de obturadores e diafragmas. A costureira do Clube de Mães da Vila das Torres, apesar de guardar uma porção de fotos simplesmente porque é apaixonada por elas, tem 50 anos e nunca tinha tocado em uma máquina fotográfica. Ainda mais numa dessas modernas, cheia de botões, visores e nove horas, com a qual fotografou dia desses. "Para mim fotografar é registrar os momentos importantes da vida."

Simples assim, como passar a linha no buraco da agulha.

Cleusa foi uma das participantes da Oficina de Fotografia Básica do Clube de Mães União Vila das Torres, destinada a quem mora ali, naquela região judiada do Prado Velho, entre a PUCPR e o Rio Be­­lém. Coordenada pelas fotógrafas Michele Zambon e Constance Pinheiro, o curso culminou com a exposição Olhares da Vila – o coquetel veio de brinde e também foi o primeiro de Cleusa –, em cartaz no Beto Batata. São 30 as imagens expostas.

A oficina começou em abril deste ano. Os encontros, de duas horas diárias, aconteciam às sextas-feiras. Foram seis aulas teóricas e quatro saídas para as ruas, muito bem conhecidas por todos os participantes.

"Ensinamos o básico mesmo. Noções sobre abertura, velocidade, tipos de filmes e câmeras", diz Constance, que, como sua amiga Michele, forneceu o equipamento necessário para o curso: câmeras profissionais, compactas digitais e analógicas.

De todos os cerca de 15 inscritos, só cinco concluíram a oficina. Não se sabem as razões, muitos desistiram. Mas os persistentes revelaram um olhar otimista sobre a região em que moram, invisível aos olhos da maioria, mas que fica ao lado do Jardim Botânico, onde turistas gastam vários cartões de memória de suas máquinas.

Procurar o belo parece que foi o desafio dos novos fotógrafos. Bandeirinhas coloridas ao céu, uma árvore imponente, um cavalo arredio, a cidade verticalizada em seus prédios, ao longe. Tudo isso foi registrado.

"Fui surpreendida pelo esforço dos alunos. Eles eram superinteressados, empenhados e tentavam fugir do óbvio. Nas ruas ali, há muito lixo porque isso faz parte daquele cenário. Mas os alunos não queriam retratar isso, porque achavam ‘feio’. Então, eles procuravam algo bonito", explica Constance.

"Há muitas fotos de animais. E, na primeira sessão, fotografamos uns aos outros, foi uma ótima experiência".

A maioria dos participantes, como Cleusa, nunca havia clicado. Mas a intenção do projeto era mais nobre do que meramente ensinar a fotografar. Era provar que todo mundo é capaz de fazer tudo. "O mais bacana, quando se é instrutora, é provar que o que os alunos têm nas mãos não é um bicho de sete cabeças. É só apertar o botão e tentar. Não tem nada de místico na fotografia", diz Constance. "É como cantar. Todo mundo tem voz. Todo mundo pode", compara.

Quem também estava feliz da vida com sua foto – a de um cachorro que passava em frente à sua rua – era Miguel Rodrigues de Lima Neto. O garoto de 12 anos, filho de Cleusa, mora na Vila das Torres desde que nasceu, mas nunca tinha reparado em alguns detalhes que estavam ali, no caminho da casa para a escola. A máquina fotográfica, então, fez às vezes de lente de aumento.

"Eu saia na rua procurando o que fotografar. Eu tinha que achar algo". Ele achou.

Serviço:

Olhares da Vila – I Mostra Fotográfica dos alunos da Oficina de Fotografia Básica do Clube de Mães União Vila das Torres Espaço Cultural Beto Batata (R. Prof. Brandão, 678), (41) 3262-0840. Na internet: http://olharesdavila.wordpress.com

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