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"Oxigênio", a peça da Companhia Brasileira de Teatro | Elenize Dezgeniski
"Oxigênio", a peça da Companhia Brasileira de Teatro| Foto: Elenize Dezgeniski

No homem, há sempre dois dançarinos, o esquerdo e o direito. Um é o pulmão direito, o outro, o esquerdo. Ambos, dentro do peito, dançam. E se, por alguma questão externa, uma pancada de pá, por exemplo, esses dois dançarinos deixam de dançar – é porque lhes falta oxigênio.

Em linhas gerais, este é o argumento central de "Oxigênio", a peça da Companhia Brasileira de Teatro dirigida por Márcio Abreu que encerrou a mostra Na Companhia de..., que integrou o Fringe, neste fim de semana, com apresentações no sábado e no domingo do Teatro HSBC. A partir dele, o espetáculo torna-se uma sucessão de fatos que se sobrepõem naquilo que se pode chamar de "uma grande discussão" sobre o que é essencial na vida – ou melhor, na experiência – humana, tendo como ponto de partida um crime: Sasha, um homem do interior da Rússia, esquarteja sua esposa com uma pá depois de se apaixonar por uma garota de Moscou que, coincidentemente, tem o mesmo nome que o seu.

Adaptação da obra do autor russo Ivan Viripaev, "Oxigênio" estreou em Curitiba no fim de 2010, sucedendo Vida, a peça que não só firmou a Cia. Brasileira na cena teatral nacional, mas também elevou Márcio Abreu ao panteão dos grandes realizadores teatrais brasileiros, um fato que se confirmou nesta edição do Festival de Curitiba.

Além de "Oxigênio", Abreu assinou a direção do ótimo "De Verdade", peça que teve estreia nacional na Mostra Oficial, com Guilherme Piva e Kika Kalache no elenco, e reapresentou Isso te Interessa?, peça que também integrou a mostra Na Companhia de..., que contou com a curadoria da própria Cia., e foi apontada pela crítica nacional como o grande destaque do festival deste ano – ele ainda assina direção de Cyrk, circo musical do Trio Quintina que também foi exibido na mesma mostra. Na mostra paralela de 2011, Oxigênio já havia sido apontado como um dos destaques de todo o festival, o que impulsionou a carreira nacional do espetáculo, que segue em turnê pelo país neste ano dentro da programação do Festival Palco Giratório do SESC – que chega a Curitiba em agosto.

O espetáculo funciona como que uma espécie de continuação do trabalho de pesquisa do grupo e que já havia sido impresso em Vida: sem as amarras da representação, os dois atores em cena – Rodrigo Bolzan e Patrícia Kamis – contam a história em pequenos capítulos ou composições que partem sempre de algum tipo de pressuposto moral.

A paixão entre Sasha e menina de mesmo nome é somente o pano de fundo para que os atores assumam um papel que não é o dos personagens, mas como que porta-vozes de questões que, aparentemente, sempre leva o público a pensar sobre o que vem a ser essencial para cada um – o que faz os pulmões dançarem –, misturando música e encenação em uma montagem inventiva, algo verborrágica, é verdade, mas impactante – que seria também o adjetivo perfeito para caracterizar a atuação do elenco, principalmente de Bolzan, recentemente eleito melhor ator no 1º Prêmio Questão de Crítica e na etapa São Paulo do Prêmio Shell, eleito o mais importante do país – da mesma forma que uma pá no peito.

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