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Se você estivesse lendo esta matéria há 60 anos, encontraria duas linhas pretas de cada lado da coluna. Uma, à esquerda, separaria o texto da borda branca que circunda a página. Outra, à direita, dividiria o escrito de um outro bloco de texto. Se tivesse imagens, o que é improvável, elas não ocupariam três colunas, como essa foto de que mostra Amilcar de Castro trabalhando. Era essa a cara dos jornais dos jornais da década de 50: atolados de letras miúdas e imagens idem.

O sujeito na foto ao lado foi o homem que ajudou a mudar tudo isso. Quando lançou a nova programação visual do Jornal do Brasil, em 1957, acabou com os fios, valorizou a fotografia, e explorou as possibilidades visuais do texto e do espaço em branco. Sua maior fama, porém, foi a de escultor, um dos mais importantes que o Brasil produziu na segunda metade do século 20. O trabalho na diagramação e na ilustração das páginas de grandes jornais era apenas um ganha-pão, que, felizmente, tornou-se um vício que Amilcar de Castro desempenharia até o fim da vida, em 2002.

Desde sábado, no Museu Oscar Niemeyer, a mostra Amilcar de Castro – Programador Visual e Ilustrador de Publicações explora essa faceta do artista mineiro. A exposição itinerante de curta duração foi lançada no decorrer da 5.ª Bienal do Mercosul, realizada entre setembro e dezembro de 2005, em Porto Alegre. Ficará em Curitiba até o dia 28 de maio, antes de seguir para o Centro Universitário Maria Antônia, da Universidade de São Paulo.

"A atuação de Amilcar de Casto é muito conhecida na área gráfica, mas nunca foi contemplada por uma exposição. Essa é a oportunidade inédita para se conhecer a obra de um dos maiores programadores visuais do Brasil, especialmente na parte de periódicos", conta o curador José Francisco Alves.

Exposição

Na mostra podem ser conferidas as edições da revista Manchete, o primeiro trabalho de Amilcar de Castro com editoração visual. Também constam as diferentes etapas da reforma gráfica do Jornal do Brasil, entre 1957 e 1961. "Foi um trabalho muito ousado para a época. A primeira página do Jornal do Brasil era de classificados, com poucas notícias. Amilcar inverteu essa situação, deu atenção à imagem. Até o logotipo do jornal mudava de posição. Chegava a abrir a página com fotografia e colocar o nome do jornal embaixo", destaca o curador.

A mostra também apresenta fac-símiles, exemplares de jornais e desenhos originais de logotipo e ilustrações do último projeto de programação visual do artista, no Jornal de Resenhas da Folha de São Paulo, entre 1999 e 2002. "Essa foi outra de suas inovações. O logotipo era feito em letra cursiva pelo próprio Amilcar de Castro. Variava a cada edição", conta Alves.

No segmento de livros, pode ser vista a atuação de Castro como capista. "Entre outras peças, constam os originais, acrílicas sobre telas, da célebre série dos livros de Kafka, realizados entre 1997 e 1999", diz o curador. Originais e fac-símiles de outras peças gráficas, como logotipos, cartazes e impressos, além do cartaz de sua primeira exposição individual de esculturas feita no Brasil, em 1983, também podem ser encontrados na exposição.

Serviço: Amilcar de Castro – Programador Visual e Ilustrador de Publicações. Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41)3350-4400. 3.ª a dom. das 10 às 18h. R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas).

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