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Numa cidade onde uma boa parte dos cartões-postais culturais é de arame e acrílico, o teatro com um ar mais inovador de todos é feito de pedra e tem aparência de velho. Não tem cara de lugar para formaturas nem combina com salto alto. O prédio, que está completando cem anos em 2006, foi construído com um propósito bem diferente: armazenar pólvora. Um antigo paiol, que em 1971 se transformou em palco. Agora, no ano de seu centenário, o teatro passa por uma grande reforma, para acabar com o vácuo de apresentações e retomar o título de sede da MPB em Curitiba.

O Teatro do Paiol, inaugurado como espaço de apresentações em dezembro de 1971, foi durante muito tempo símbolo de música popular em Curitiba. Desde a inauguração, que contou com um show de Vinicius de Moraes, Toquinho, Marília Medalha e do Trio Mocotó, diversos nomes importantes da MPB passaram pelo local. Nos anos 90, porém, o ritmo já era outro. Recentemente, o teatro ficou quase esquecido, a não ser por um ou outro projeto, uma apresentação de vez em quando. A fama, portanto, já não era a mesma.

"Acho que a criação do Conservatório de MPB acabou levando para outro lugar uma parte da programação deste gênero", afirma Beto Lanza, diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba. O conservatório, no Largo da Ordem, surgiu como uma escola de música, mas também tem apresentações de música popular regularmente. Por concentrar alunos e professores, e ficar em uma área mais central da cidade, pode ter roubado parte da importância do antigo Paiol. A programação, a partir do começo de março, quando o teatro será reaberto, será feita para retomar a idéia inicial. "Será um grande palco para a MPB", comenta o diretor.

Reforma

A reforma feita pela prefeitura no teatro está mudando quase tudo: só mesmo a aparência da fachada será mantida. "Seríamos presos se mexêssemos nisso", brinca Lanza. Toda a estrutura de madeira do lugar está sendo trocada, desde o palco até os camarins. O telhado também foi feito de novo. As cadeiras, o sistema elétrico, o sistema de drenagem, tudo entrou no pacote. A reestruturação custa em torno de R$ 300 mil, retirados do Fundo Municipal da Cultura.

A reforma foi necessária porque o teatro estava sem grandes mudanças há 17 anos, o que pode ser prejudicial para um prédio centenário. Acabou entrando em um grupo de reformas previstas pela atual administração municipal para os teatros públicos: mesmo caso da Ópera de Arame, do teatro Novelas Curitibanas, da Sala Scabi (no Solar do Barão) e do Teatro Londrina (no Memorial de Curitiba).

Até a Praça Guido Viaro, onde fica o Paiol, ganhará novo paisagismo. Até porque, o lugar é um dos pontos de parada da Linha Turismo, que leva os forasteiros para conhecer a cidade, e deve causar boa impressão. Para o futuro, a prefeitura pretende arranjar um patrocinador que se disponha a manter a praça em boas condições. Em troca, obviamente, de alguma publicidade.

A inauguração, marcada para a semana de 7 de março, prevê uma homenagem ao clássico show de Vinicius que abriu o Paiol em 1971. "Vamos trazer alguém que faça lembrar esse tempo e a participação de Vinicius nessa história", diz Beto Lanza, sem adiantar os nomes que estão sendo contatados para a primeira apresentação. A programação musical deve se estender por mais alguns dias. Depois, o teatro será uma das sedes do Festival de Teatro de Curitiba. Quando acabar o festival, volta a MPB, dessa vez para ficar.

A programação deverá mesclar shows de artistas locais a atrações de outras partes do país. Sempre para apresentações mais intimistas. Até porque, pelo seu tamanho, o auditório só comporta 230 pessoas em cada espetáculo – o que não será modificado com a reforma atual.

Para garantir a programação do teatro, a prefeitura está organizando o projeto Terças Brasileiras, que mantém já há algum tempo as atrações no espaço durante a semana. E apresentou um projeto na Lei Rouanet, que prevê a realização de cinco shows maiores, com maior gasto, durante o ano. A resposta para o projeto ainda não veio, mas o clima na Fundação Cultural é de otimismo.

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