• Carregando...
Cena de "Nosso Estranho Amor" | Divulgação
Cena de "Nosso Estranho Amor"| Foto: Divulgação

O reflexivo Nosso Estranho Amor fez sua primeira apresentação no Festival de Curitiba nesta segunda-feira (22), no Teatro Paiol. Trinta minutos antes do espetáculo, muitos espectadores já esperavam as portas se abrirem. Com um atraso de 20 minutos, exatamente às 21h20, a peça fez sua estreia com o teatro lotado.

Enquanto o público se alocava, os personagens já estavam no palco, à espera. Ele: olhar vago, roupas sujas, sem cor, tem nas mãos uma mala. Ela: cabeça erguida, olhar penetrante, traz consigo seus muitos pares de sapatos. Movido pela amargura, ele leva uma vida sem esperança e sem perspectiva, preso ao passado e às próprias ideias. Ela é uma mulher disposta a torná-lo parte de sua vida. Entre encontros e desencontros, eles descobrem que enquanto desvendam um ao outro, estão descobrindo a si mesmos.

As dúvidas e angústias que o amor traz são discutidas de forma poética em diálogos densos e ao mesmo tempo desconexos. Num cenário simples e opaco, um armário ganha múltiplas funções, uma parede se torna a confidente de um casal. A linguagem metafórica torna-se palpável nesta peça. Movimentos coreografados, seguindo a linha contemporânea, revelam as contradições do amor. A inconstância entre amar e renegar.

Caetano Veloso foi o escolhido para climatizar a obra. Durante toda a peça, cinco das músicas do cantor, entre elas "Nosso Estranho Amor" (a qual deu nome ao espetáculo), ganham vida através de um violino e um violão, enquanto são cantaroladas pela personagem, "Apenas te peço que aceite, o meu estranho amor...". Através do seu canto, ela expressa seus sentimentos e tenta privar o seu amado daquilo que o incomoda.

Os questionamentos e devaneios dos personagens são intensificados por gritos e sussurros. Nesta peça, o indivíduo é tratado como um ser extremo: da insanidade à ponderação. Por meio de conflitos psicológicos e situações trágicas e desesperadoras, o público é convidado a refletir a respeito dos valores da sociedade e da condição humana. Tanto desespero, por vezes torna-se absurdo, provocando risos na platéia.

Sob a influência de perguntas existencialistas e do surrealismo, está enraizado o teatro do absurdo, cujo precursor foi Samuel Beckett, dramaturgo do século 20 que inspirou o roteiro de Nosso Estranho Amor. Durante toda a peça, as referências a esta forma de fazer teatro são nítidas. Seja nos diálogos profundos e aparentemente sem sentido, na simplicidade do cenário ou nas provocações à condição humana.

O público, em geral, reagiu de forma positiva a esta proposta. Ao final do espetáculo, muitos aplausos e sorrisos. Para alguns, mesmo que minoria, uma expressão de desentendimento ficou em seus rostos. Mas talvez, consista em simplesmente isso, o estranho amor seja estranho demais para ser entendido.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]