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Vídeo | Reprodução / Paraná TV
Vídeo| Foto: Reprodução / Paraná TV

Nas lojas

Apenas dois discos de Carmen Costa estão hoje disponíveis no mercado.

• 100 Anos de Música/ Ziriguidum no Sambão – Sony BMG

• Warner 30 Anos – Carmen Costa– Warner Music.

• O último CD gravado por Carmen, Tantos Caminhos, lançado pela Som Livre em 1996, está esgotado e fora de catálogo.

Semana passada saiu de cena mais uma estrela esquecida da música brasileira. Aos 87 anos, comemorados em janeiro último, Carmen Costa, cantora projetada na era de ouro do rádio brasileiro, morreu na manhã do dia 25 de abril, vítima de parada cardíaca e insuficiência renal. O desaparecimento da intérprete, praticamente desconhecida entre os mais jovens, suscita uma discussão tão pertinente quanto necessária: por que a memória cultural dos brasileiros é tão curta?

O último CD de Carmen, Tantos Caminhos, gravado em 1996, pretendia, justamente, dar aos jovens a oportunidade de conhecer uma personagem que teve papel importante dentro da história da música popular brasileiras. A cantora reviveu, ainda com a voz vigorosa dos velhos tempos, alguns dos sucessos que marcaram o auge de sua carreira nos anos 40 e 50. Entre eles, "Quase" (de Mirabeau e Jorge Gonçalves) de 1954, espécie de canção-assinatura da artista. O fato triste, no entanto, é que o disco passou batido, quase ignorado pela chamada grande mídia. Tanto que, menos de dez anos mais tarde, o álbum está fora de catálogo e disponível apenas em sebos e sites de discos usados. Na verdade, há pouquíssimos CDs no mercado com a obra da intérprete (leia quadro).

Esquecidos

Assim como Carmen, outros nomes fundamentais da MPB parecem ser ignorados pelos radares dos cadernos de cultura dos grandes jornais, sem falar da televisão, veículo para o qual a ditadura da juventude tem valor de regra quase inviolável. À exceção de medalhões sessentões da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Milton Nascimento, artistas mais velhos não costumam ser considerados de chamarizes de ibope.

Exemplos de nomes importantes que são praticamente ignorados pelas novas gerações não faltam. O compositor, cantor e pianista carioca Johnny Alf é um deles. Aos 78 anos, o autor de clássicos como "Eu e a Brisa" e "Estamos Sós" é desconhecido por quem tem menos de 40 anos, apesar de ser hoje considerado um dos precursores da bossa nova, movimento fundamental dentro da história da MPB. Criador sofisticado, ele recebeu enorme influência tanto da nata do samba brasileiro (entre eles, Ataulfo Alves e Noel Rosa) quanto de mestres do cancioneiro norte-americano, como George Gershwin e Cole Porter, o que explica a face mais jazzistica dentro da música de Alf.

Outra veterana que não ocupa o espaço que merece dentro do cenário cultural brasileiro é a cantora Alaíde Costa, hoje com 71 anos. Contemporânea de Maysa e Dolores Duran, nunca faltaram elogios rasgados à voz rouca, sussurada e extremamente afinada da artista, uma das favoritas de vários compositores de peso, como o próprio Johnny Alf, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Antonio Maria.

Espera-se que o esquecimento que vitimou Carmen Costa não se repita com Alf e Alaíde, cuja obra é mal representada no mercado fonográfico e corre o risco de se perder na poeira dos dias se depender da mídia, sempre ávida por novidades, mas um tanto ingrata com o passado.

Há quanto tempo, afinal, você não vê Francis Hime, João Bosco, Claudete Soares, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Doris Monteiro, Leny Andrade e outros veteranos em programas da tevê aberta? Só para citar alguns.

Trajetória

Nascida Carmelita Madriaga, Carmen Costa começou a cantar nos anos 30 e foi empregada doméstica até os 15 anos. Adotou seu nome artístico em 1937, por sugestão do compositor Henricão (Henrique Felipe da Costa), com quem a cantora passou a viver e formou uma dupla em 1938.

O primeiro grande sucesso, já de 1942, foi "Está Chegando a Hora", versão de "Cielito Lindo", um dos clássicos absolutos da canção mexicana, regravada em tom de marcha de carnaval.

Outro êxito nessa seara carnavalesca foi "Cachaça", de 1953 ("Se você pensa que cachaça é água/ cachaça não é água, não) – um dos hits do musical carioca Sassaricando, apresentado com enorme sucesso no último Festival de Teatro de Curitiba.

Nos anos 50, Carmen – como grandes cantoras de sua geração – também aderiu ao samba-canção. No gênero, fez sucesso com dolorosa "Eu Sou a Outra", de Ricardo Galeno. "Obsessão"(de Mirabeau e Milton de Oliveira), composição de 1953, é outro hit seu na década marcada pelo apogeu do rádio.

Bem antes, em 1944, Carmen Costa foi historicamente pioneira ao gravar Luiz Gonzaga. "Xamego", parceria do velho Lua com Miguel Lima, deu projeção nacional ao futuro Rei do Baião na voz da boa e afinada cantora carioca.

Carmen Costa, nos anos 90, lutou muito contra a burocracia estatal para ter o direito de receber sua aposentadoria e morreu em condições financeiras bem difíceis. Coisas do Brasil.

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