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Da esquerda para a direita, Fredy Kowertz, Daniela Carvalho, Rosângela Araújo, Bernardo Bravo, Lívia Lakomy e João Felix: grupo quer promover a música autoral de Curitiba | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Da esquerda para a direita, Fredy Kowertz, Daniela Carvalho, Rosângela Araújo, Bernardo Bravo, Lívia Lakomy e João Felix: grupo quer promover a música autoral de Curitiba| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Não há dados oficiais sobre quantas casas disponíveis para aluguel em Curitiba ou no Paraná, talvez no Brasil, têm um palco no quintal. Simples assim, na mesma medida em que outras têm churrasqueira ou bidê. Por isso mesmo, elas nem sempre devem ir parar nas mãos dos inquilinos certos. Mas esse não foi o caso da Casinha, achada por sorte na rua São Sebastião, no Ahú, e que tem sido utilizada para uma série de eventos chamada Levante de Música Curitibana. Trata-se de domingos à tarde com dois shows de músicos com composições próprias que ganharam ares de agitação cultural.

Fascinado pela arte ativista do coletivo curitibano Interlux, inspirado pelas ideias do norte-americano Hakim Bey e despertado pelo efeito "cisne negro" da Banda Mais Bonita da Cidade, o grupo da produtora Tertúlia (foto) já organizou três Levantes desde o dia 12 de junho. Eles querem criar um foco para uma divulgação qualitativa da música autoral em Curitiba. Em ou­­tras palavras, querem estimular o boca a boca, que consideram mais eficaz que um outdoor em tempos de excesso de informação. Eles não imprimem nenhum cartaz e apostam na conversa pública dos sites de rede social como o Facebook, que até já chegou a levar ao evento mais gente do que a pequena estrutura suporta. "Se eu lhe indicar alguma sonoridade, pelo carinho que tem por mim, você vai ouvir", explica Bernardo Bravo, músico e produtor artístico da Tertúlia. Aqui, um primeiro princípio: o que os "formadores de opinião" vão descobrir nos Levantes são composições de músicos curitibanos.

O público de, em média, 200 pessoas, é cativo, mas vem de tribos distintas e é imprevisível. Conta um dos organizadores que um dos membros da banda Real Coletivo Dub teve a particular experiência de contar com a presença da avó engrossando o pú­­blico regueiro. Quem já foi e viu crianças correndo entre as pernas da plateia não duvida. O clima é mais como um piquenique embaixo da espinheira-santa que eles têm no quintal do que o dos principais bares da cidade às duas horas da madrugada. E nada de lama, como alguém mais apressado poderia supor. Até porque, se o tempo fecha, o evento pode nem acontecer.

Tudo é documentado em fotos e vídeos, e o discurso se conecta com ideias sobre sustentabilidade, com as redes sociais na internet e com a tendência – uma necessidade, como a maioria dos músicos vêm percebendo – da autoprodução e suporte mútuo entre músicos. A origem de toda a organização está nesta nova demanda artística. A produtora Tertúlia foi criada para regularizar as atividades do duo Felixbravo, formado por João Félix e Bernardo Bravo. Na esteira, já no ano passado, organizou meia dúzia de eventos de música similares ao Levante, e, com o suporte de um edital público, chegou a atrair 2,5 mil pessoas na Ação Fora da Casinha, evento a céu aberto que aconteceu no Bicicletário Livre do Centro Cívico durante a Virada Cultural, em novembro de 2010. Em todos os eventos, o que está no centro do palco são os trabalhos autorais.

"Precisávamos produzir e manifestar no espaço urbano o que estávamos pensando e nos articularmos onde estávamos inseridos", explica Bravo. O mú­­sico Eduardo Gomide, um dos artistas convidados para o Levante, faz coro. "A gente está um pouco cansado de tocar em bares e casas noturnas e ficar só nisso. A grande saída é compor e ter uma identidade", diz o músico, que participa do evento com os grupos Música de Ruiz, Janaína Fellini, Real Coletivo Dub, Universo em Verso Livre e Serenô. "Só não está na boca do povo porque a gente ainda está encolhido. Mas é uma energia que vem há tempos, desde Paulo Leminski."

Nenhum deles fala em salvação da lavoura. A cena que se encontra na Casinha não é a primeira a ter bons articuladores, nem é definitiva. "E não é um modelo que sustente ninguém", diz Fredy Kowertz, coordenador da Tertúlia, para quem o Levante vai ser seguido por ideias melhores. "A gente faz enquanto aguenta, mas as respostas são a longo prazo." Assim, o evento, que ainda não tem a próxima edição marcada, pode parar de existir a qualquer momento. Mas isso passa longe de ser uma preocupação para o grupo. Bravo explica: "O Levante é isso: uma ocupação temporária e volátil, como quase tudo o que está rolando hoje em dia", diz. "Ele vem, fala, dá o recado e some."

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