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 | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Lançamento

Os Argentinos

Ariel Palacios. Contexto, 368 págs., R$ 49,90. História.

Noite de autógrafos

Livrarias Curitiba ParkShopping Barigui (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600), (41) 3330-5185. Dia 6, às 19h30. Dia 7, às 19h30, no Catuaí Shopping (Rod. Celso Garcia Cid, km 377 – Londrina), (43) 3294-8300. Entrada franca.

Apesar de serem países vizinhos, Brasil e Argentina são muito diferentes. Fora a paixão pelo futebol, os dois povos têm visões e ações díspares sobre áreas como política, economia e cultura. Apesar da proximidade, para muitos brasileiros a Argentina se resume ao tango, Lionel Messi, Buenos Aires e churrasco. O fortalecimento da economia brasileira, que permitiu que muitos turistas daqui invadissem o outro lado do Rio da Prata, e o aumento do comércio bilateral fez crescer o interesse no Brasil pelo que ocorre na Argentina. Os meios de comunicação perceberam isso e atualmente uma dúzia de repórteres trazem diariamente notícias dos vizinhos. Ariel Palacios é o correspondente brasileiro há mais tempo na Argentina. Desde 1995, ele cobre para o jornal O Estado de S. Paulo o dia a dia argentino. Essa experiência de quase 20 anos possibilitou ao jornalista nascido em Buenos Aires, mas que migrou para o Brasil com a família quando tinha apenas 3 anos, conhecer e entender os argentinos. Esse conhecimento é reunido agora em um livro que chegas às livrarias brasileiras pela editora Contexto. Os Argentinos é o primeiro livro de Palacios, que cursou Jornalismo na Universidade Estadual de Londrina. A obra será lançada em Curitiba na próxima quarta-feira, 6, nas Livrarias Curitiba do ParkShopping Barigui. Aproveitando a estadia na capital paranaense para visitar os pais, que moram na cidade, Palacios conversou com a reportagem da Gazeta do Povo.

Como traduzir a Argentina para os brasileiros?

É um país muito complicado. É o país da região com quem o Brasil tem o maior fluxo comercial e vice-versa. É o sócio político [no Mercosul]. Há influências culturais. O cinema argentino causa fascínio aqui. A música brasileira lá é idolatrada. São dois países vizinhos, mas diferentes. Não dá para entender a Argentina com uma ótica brasileira. A Argentina é mais complexa politicamente e economicamente. Às vezes, a falha é quando alguém tenta entender a Argentina dizendo "isso não é lógico". Sim, não é lógica tal coisa no Brasil. Talvez não seja lógico nem na Argentina. Por isso, é muito difícil explicar a Argentina para o Brasil. Você pensa: "Não é possível que um governo tome medidas assim". A explicação é que o pensamento por lá é tomar medidas em curto prazo, para resolver um problema daquela semana, daquele mês.

Como eles enxergam o Brasil?

Os argentinos agora idolatram o Brasil. O Brasil virou o paradigma a ser seguido na Argentina. Há 100 anos, eles seguiam o que a França e a Inglaterra faziam. Nos anos 1990, na época do [presidente Carlos] Menem (1985-1999), os Estados Unidos. Quando caiu a conversibilidade econômica [o governo argentino mantinha o peso com o mesmo valor do dólar], quando veio a crise, o modelo americano não servia mais. Em 2000, 2002, a ideia foi imitar a Espanha. A Espanha antes da crise, quando estava no apogeu do consumo. A crise pesou e perceberam que o caminho deveria ser sul-americano. Pensar a Argentina não como um país que teria um futuro europeu, mas dentro da realidade sul-americana. O modelo a seguir foi o Brasil. A imagem que existe na Argentina é que o Brasil é um país sério, institucionalmente sólido. Os empresários argentinos morrem de inveja do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os sindicatos argentinos morrem de inveja que houve por aqui um presidente de origem sindicalista [Luís Inácio Lula da Silva – 2002-2010]. A direita argentina admira Lula e Dilma [Rousseff], porque eles, apesar de serem da esquerda, têm aliados na direita. Os políticos admiram a oposição brasileira. Eles acham muito interessante a ideia do consenso dentro do Brasil. Acho que essa é a diferença básica entre os dois sistemas. Na Argentina, em 200 anos de história, nunca houve consenso. Não existe a negociação na cultura política argentina.

Como está o momento cultural na Argentina?

Desde a crise econômica [situação financeira que afetou a economia argentina durante a década de 1990 e início da década de 2000], o país está vivendo um momento interessante. Muitos jovens foram estudar cinema fora nos anos 1990, puderam fazer cursos bons no exterior e voltaram. Apesar da crise, eles tinham know-how e puderam fazer trabalhos muito legais. O cinema está conquistando mercados fora da Argentina, como é o caso do Brasil, da Espanha e do México. Na literatura não há grandes nomes. Samatha Schweblid é um caso à parte, pois além de ser bonita e simpática, escreve muito bem. É uma promessa sólida. Mas são raros os casos. Na música tem o tango, que foi renovado com o tango tecno. Você tem uma renovação depois de muitos anos, a primeira após o fenômeno de [Ástor] Piazzolla (1921-1992). A crise acabou com um monte de preconceitos dos argentinos e possibilitou a abertura para o tango tecno. Antes da crise seria impossível. Eles começaram a revalorizar a produção cultural nacional, mas houve espaço para a cultura de vanguarda e aí o tango tecno teve chance. Foi um setor que se consolidou e também ajudou a revalorizar o tango tradicional. Mas o boom cultural argentino não é equitativo entre todas as áreas.

O seu livro faz parte de uma série que tenta explicar alguns povos aos brasileiros. Fale um pouco sobre ele.

Os livros não seguem um padrão específico. É uma espécie de manual sobre o povo/para o brasileiro, mas cada autor teve liberdade de dar um tom pessoal. Quando eu terminei de escrever, o livro ficou três vezes maior do que tinha de ser. Tive de cortar. Não é que tinha capítulos adicionais. É basicamente a mesma coisa, mas eram capítulos mais detalhados. No livro, explico a paixão dos argentinos pelos cães, pela carne, o fascínio pela psicanálise. Tem as partes óbvias: História, Economia, Política. Achei interessante também explicar poderes que não são mais tão poderosos, como os militares e a Igreja Católica. Muitos brasileiros ainda pensam que os militares e a Igreja Católica ainda são muito importantes na Argentina. Tentei explicar quais são os poderes atuais, como os piqueteiros e os sindicatos, que voltaram a ter força. Dentro deste panorama, falo sobre gírias, sexualidade e peculiaridades dos argentinos.

Para encerrar, poderia falar sobre o seu encontro com Piazzolla?

Quando meus pais mudaram para Curitiba, eles faziam alfajores [doce típico argentino]. Eles tiveram uma confeitaria em frente ao Canal 12 [quando ainda era no Castelo do Batel]. O Piazzolla estava em Curitiba, mas eu estava sem dinheiro para ver o show dele. Eu peguei um disco do Piazzolla que eu tinha e uma caixa de alfajores e fui até o Hotel Mabu, onde ele estava hospedado. Eu tinha 19 anos, estudava em Londrina, fazia Jornalismo, e estava de férias na casa dos meus pais. Me apresentei e entreguei a caixa de alfajores. Ele ficou estupefato com o presente. Não acreditou que tinha alfajores em Curitiba. Não era comum na época. Ele autografou o disco e me convidou para acompanhar uma entrevista que ele daria para a Veja. O repórter da revista não sabia falar espanhol e eles não estavam conseguindo se entender. Acabei servindo de tradutor. Depois acabei vendo o ensaio do show. Anos depois, emprestei o disco para um amigo. Quando fui buscar o álbum na casa dele, voltávamos pela Rua XV quando vimos um movimento na antiga Livraria Ghignone. Era uma noite de autógrafos com o desenhista Carlos Zéfiro, que tinha sido redescoberto. Isso foi em 1991, 1992. Decidi pedir um autógrafo para ele, mas não tinha papel. Acabei pedindo para ele autografar no disco do Piazzolla. Com isso, eu tenho um LP com o autógrafo do Piazzolla e do Zéfiro [os dois artistas nasceram em 1921 e ambos morreram no dia 5 de julho de 1992]. O disco está guardado na casa dos meus pais.

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