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Acaba de ser lançada edição revista e ampliada de um livro que, 24 anos após sua primeira publicação, ainda é uma revelação incômoda sobre um período da história brasileira pouco elucidado: a ditadura militar. Batismo de Sangue – Guerrilha e Morte de Carlos Marighella (Editora Rocco, R$45, 448 págs.), de Frei Betto, traça o perfil e a trajetória política de um dos maiores inimigos do regime militar, o baiano Carlos Marighella, até sua morte, em uma emboscada armada pelos agentes do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e So-cial), em 1969.

O autor também conta como os Freis da Ordem Dominicana – da qual faz parte – apoiavam a Ação Libertadora Nacional Libertadora (ALN). Eles escondiam guerrilheiros, facilitavam sua fuga para fora do país, cuidavam dos feridos e guardavam armas e material subversivo. O próprio Frei Betto ajudou a exilar fugitivos facilitando sua travessia pela fronteira do Rio Grande do Sul e, por isso, foi preso por quatro anos, entre 1969 e 1973. Embora não tenha sido torturado, testemunhou inúmeras atrocidades cometidas aos presos políticos nos presídios por onde passou. Entre as vítimas, narra no livro o sofrimento de seus colegas dominicanos Frei Fernando, Frei Ivo e Frei Tito. Este último suicidou-se após ser submetido à notória crueldade do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Nesta nova edição do livro, que foi premiado com o Prêmio Jabuti em 1982, o autor reescreveu alguns trechos e acrescentou informações que obteve nos anos posteriores à primeira publicação. Como exemplos destas mudanças está a correção do nome de um torturador, apontado erro-neamente nas edições anteriores; dados sobre os últimos momentos de Ma-righella; e a identificação de alguns dos protagonistas do movimento contra a ditadura.

A reedição deste documento histórico antecipa sua versão para o cinema, prevista para o pró-ximo ano, sob direção de Helvécio Ratton e com Daniel de Oliveira no papel de Frei Betto. É um livro que acende a necessidade de passar a limpo a memória do Brasil, cujos governantes ainda não se empenharam para identificar os restos mortais de centenas de desaparecidos e mantêm impune os responsáveis por torturas e assassinatos "em nome da lei". "Uma nação precisa digerir seu passado. E a dita-dura militar ainda é um osso atravessado na garganta do Brasil", diz Frei Betto.

Autor de 48 livros, Frei Betto é um dos mais importantes articuladores dos movimentos sociais no Brasil. Para ele, já não faz sentido falar em luta armada, mas em organização da sociedade civil. "Só assim passaremos da democracia representativa para democracia participativa", diz ele.

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