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Justin Quayle, o protagonista do thriller político O Jardineiro Fiel, não é um herói típico de filmes do gênero. Tímido, mais interessado em jardinagem do que em salvar o planeta, Quayle (Ralph Fiennes) encara o mundo ao seu redor com poucas palavras e rígidos princípios. Por conta dessa natureza, a jornada que empreende ao longo dos 129 minutos do filme instiga e surpreende.

Indicado a quatro Oscars, O Jardineiro Fiel tem grandes chances de dar à atriz britânica Rachel Weisz (de O Grande Garoto) a estatueta de melhor atriz coadjuvante. E com todo o merecimento. Tessa, sua personagem, é a alma da produção, dirigida pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles (de Cidade de Deus). Mulher forte, voluntariosa, ela entra na vida de Quayle para virá-la do avesso e tirá-la do rotineiro, do previsível. Quando é assassinada como conseqüência de sua militância contra os desmandos da indústria farmacêutica no Quênia, o trauma gerado por sua ausência tira o diplomata da inércia, colocando-o numa busca frenética pela verdade e por justiça.

Na superfície, O Jardineiro Fiel, baseado em um best seller do britânico John Le Carré, pode ser descrito como uma história de suspense e intriga internacional com uma maciça dose de crítica à atuação predatória das forças capitalistas do primeiro mundo no continente africano. Enquanto "filme sério", faz denúncias importantes sobre como a população do continente negro é usada como cobaia pelos laboratórios farmacêuticos impedidos de testar, sem quaisquer critérios, suas drogas no chamado Primeiro Mundo.

Meirelles, na qualidade de artista oriundo de um país em desenvolvimento, não se rende ao exotismo e ao colorido da paisagem de miséria que encontra em terras africanas. Consegue dar-lhe generosas doses de vida real, também graças ao primoroso trabalho do diretor de fotografia uruguaio César Charlone (indicado ao Oscar por Cidade de Deus), que confere tanto contemporaneidade quanto pulsação às imagens de um território que mistura o belo ao caótico, o primitivo ao moderno.

A grande força de O Jardineiro Fiel, no entanto, não está em sua trama política. O que o diferencia de outros filmes do gênero é o extremo detalhismo com que o roteiro e a direção constrói a complexa relação entre Justin e Tessa, duas pessoas teoricamente díspares, essencialmente diferentes e fadadas ao desencontro. É uma tragédia de amor e morte que transcende a urgência de sua temática para adentrar o território da universalidade.

Tanto Ralph Fiennes quanto Rachel Weisz, por jamais buscarem o óbvio e o unidimensional em seus personagens, têm desempenhos que devem marcar suas carreiras. Num mundo em desordem, no qual o senso de Justiça e cidadania estão cada vez mais sujeitos aos interesses das grandes corporações e grupos econômicos, Quayle e Tessa são heróis ao mesmo tempo frágeis e mortais, mas dotados de extrema força, até porque não precisam prevalecer para serem ouvidos. Merecem permanecer na memória. GGGG

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