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Em 29 de março de 1693, o povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais foi elevado à categoria de vila, mais tarde Curitiba. Frases como essas – além de datas, números e nomes – costumam ser decoradas sem muita reflexão nos bancos escolares. Isso talvez explique por que muitos paranaenses torcem o nariz quando se fala em História do Paraná.

"Atribuo isso a um período em que se estudava História somente com gráficos, estatísticas econômicas ou a partir de seqüências intermináveis de nomes de presidentes e governadores. Não que os aspectos políticos e econômicos não sejam extremamente importantes, mas a forma como se tratava desses assuntos era maçante", diz a professora Maria Cecília Pilla, da PUCPR.

O professor Sergio Odilon Nadalin, do Departamento de História da UFPR, vai mais longe, colocando em xeque a questão sobre o desconhecimento dos paranaenses sobre sua própria história. "Admitindo que, de fato, conhecemos pouco (e mal) a história regional, a questão poderia estar relacionada ao fato de que conhecemos pouco e mal a própria História e, principalmente, a História do Brasil."

A ignorância sobre o próprio passado, na opinião do professor Dennison Kursk, também da UFPR, não pode ser entendida como um fenômeno isolado. "É resultado da incultura geral do povo paranaense. Nunca é demais lembrar que nosso estado tem o mais alto índice de analfabetismo e o mais baixo nível de diplomação em nível superior dos três estados da Região Sul", afirma.

A apatia, no entanto, não é percebida nas universidades, a julgar pelo grande número de pesquisas sobre temas ligados à História do Paraná. "Nas universidade públicas, a pesquisa sobre temas de História do Paraná sempre foi enfatizada. O problema é que o regime de trabalho nas faculdades privadas não estimula a pesquisa (exceto as que têm um evidente e imediato fim lucrativo) e, nesse contexto, pouco ou nada é investigado, inclusive a História do Paraná", opina Kursk.

Mas, se há tanta produção, por que pouca gente fica sabendo? Na opinião dos historiadores entrevistados pelo Caderno G, falta uma política editorial que possibilite a divulgação do conhecimento. "As universidades públicas têm pouca ou nenhuma chance de divulgar para um público mais amplo o resultado das suas pesquisas", diz Kursk.

"Infelizmente, o que ocorre é que grande parte dessa produção, quando não dorme nas prateleiras das bibliotecas, não circula entre o público maior (somente nos meios acadêmicos), o que daria a impressão de desinteresse", justifica Nadalin.

O historiador Renato Augusto Carneiro Junior observa o interesse pela História, revelado pelo crescente número de estudantes interessados em prestar vestibular para o curso. "As editoras daqui não publicam, dizem que o público não tem interesse. É uma política editorial tímida e burra", diz.

A professora Etelvina Trindade, acena para uma mudança. "O mercado editorial brasileiro ainda está voltado para outro tipo de produção, embora haja editoras que já se dedicam a esse setor. Por outro lado, esse mesmo mercado privilegia as produções oriundas dos grandes centros e das grandes instituições de cunho nacional, considerando que o setor denominado História regional – caso da História do Paraná – não se configuraria como partícipe da História do Brasil. História essa que, para a maioria dos editores, ainda está muito ligada à documentação produzida no período colonial, imperial e da República brasileira no eixo Rio-São Paulo, e, por vezes, em outras regiões, como Minas Gerais."

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