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Paranóia e antiamericanismo

Wim Wenders apresenta sua visão sobre o 11 de Setembro em Medo e Obsessão, filme de 2004

Vôo United 93, de Paul Greengrass, e As Torres Gêmeas, de Oliver Stone, lançados no ano passado, foram as primeiras grandes produções de cinema a tratar do 11 de Setembro, mas o atentado terrorista acontecido em Nova Iorque, em 2001, já havia sido tema de alguns filmes como Medo e Obsessão, de Wim Wenders. Produzida em 2004, a fita expõe as primeiras percepções do diretor alemão sobre o fato que mudou o mundo no século 21. A produção, que está sendo lançada este mês em DVD no Brasil, teve carreira curta nos cinemas brasileiros, passando apenas no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, com lançamento comercial restrito às duas capitais.

Pode-se dizer que Medo e Obsessão é outro filme menor na carreira de Wenders, um dos principais cineastas do mundo nas décadas de 70 e 80, mas que passou a década de 90 e o início dos anos 2000 patinando em projetos sem muita expressão – com exceção do premiado documentário Buena Vista Social Club. O diretor só retomou o vigor de outrora recentemente, com Estrela Solitária (lançado no Brasil no ano passado), feito em parceria com o ator e dramaturgo Sam Shepard, com quem dividiu os créditos do espetacular Paris, Texas (1984).

Mas Medo e Obsessão é um pouco superior a filmes anteriores recentes de Wenders, como O Hotel de Um Milhão de Dólares, O Fim da Violência e O Céu de Lisboa. Realizado no período em que o projeto de Estrela Solitária ficou parado por problemas de produção, o filme mantém, na realidade, a obsessão de Wenders pelos EUA – presente em vários de seus trabalhos e algo comum a alguns cineastas estrangeiros como o dinamarquês Lars Von Trier, que inclusive faz filmes sobre a América (Dançando no Escuro, Dogville, Manderlay) sem nunca ter pisado nela.

A história se passa em Los Angeles e começa exatamente dois anos depois dos atentados às torres gêmeas do World Trade Center. Em um carro cheio de parafernálias eletrônicas de vigia, o ex-veterano de guerra Paul (John Diehl) patrulha as ruas em busca de árabes suspeitos, que a qualquer momento (na sua cabeça) podem lançar um novo ataque contra os EUA. Na mesma época, chega à cidade a jovem e engajada Lana (Michelle Williams, de O Segredo de Brokeback Mountain), que passou boa parte da vida em países da África e em Israel e decide voltar ao país natal para prestar serviços comunitários. Lana irá cruzar com Paul e descobrirá que ele é na verdade o tio com quem perdera o contato há muitos anos. Os dois se aproximam, mas a jovem, que voltou aos EUA para resgatar sua identidade com o país, não entende a paranóia que tomou conta da América e do próprio tio.

Um clima de perplexidade dá o tom de toda a trama, com o discurso de Wenders casando exatamente com o esperado pelo público que vive atualmente fora dos EUA – mostrando a paranóia americana e o antiamericanismo aflorando pelo mundo. Não que essas visões não sejam válidas, mas o filme não acrescenta muito ao que já se sabe ou se pensa sobre o tema. Por sua trajetória e importância no cinema, pelo tempo que observa e analisa os EUA e pela riqueza do tema tratado, o diretor poderia ter assumido alguns riscos e se aprofundado mais nas questões que levanta. GGG

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