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Retrospectiva

Os melhores filmes da carreira de Wim Wenders foram realizados nos anos 70 e 80. Os principais Paris, Texas (1984) e Asas do Desejo (1987), que deram prêmios em Cannes ao diretor estão fora de catálogo em DVD há algum tempo – algumas locadoras especializadas em filmes de arte têm cópias. Outros, como Alice nas Cidades (1974) e O Estado das Coisas (1982), sequer foram lançados no formato digital. O Amigo Americano ganhou edição nacional recentemente pela New Line Home Video. Para este ano, a Europa Filmes promete colocar no mercado DVDs de 20 trabalhos do diretor alemão, incluindo os títulos citados acima (menos Alice nas Cidades). Os discos serão lançados em caixas ou em versões separadas. É aguardar para apreciar a importante obra do cineasta alemão.

Vôo United 93, de Paul Greengrass, e As Torres Gêmeas, de Oliver Stone, lançados no ano passado, foram as primeiras grandes produções de cinema a tratar do 11 de Setembro, mas o atentado terrorista acontecido em Nova Iorque, em 2001, já havia sido tema de alguns filmes como Medo e Obsessão, de Wim Wenders. Produzida em 2004, a fita expõe as primeiras percepções do diretor alemão sobre o fato que mudou o mundo no século 21. A produção, que está sendo lançada este mês em DVD no Brasil, teve carreira curta nos cinemas brasileiros, passando apenas no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, com lançamento comercial restrito às duas capitais.

Pode-se dizer que Medo e Obsessão é outro filme menor na carreira de Wenders, um dos principais cineastas do mundo nas décadas de 70 e 80, mas que passou a década de 90 e o início dos anos 2000 patinando em projetos sem muita expressão – com exceção do premiado documentário Buena Vista Social Club. O diretor só retomou o vigor de outrora recentemente, com Estrela Solitária (lançado no Brasil no ano passado), feito em parceria com o ator e dramaturgo Sam Shepard, com quem dividiu os créditos do espetacular Paris, Texas (1984).

Mas Medo e Obsessão é um pouco superior a filmes anteriores recentes de Wenders, como O Hotel de Um Milhão de Dólares, O Fim da Violência e O Céu de Lisboa. Realizado no período em que o projeto de Estrela Solitária ficou parado por problemas de produção, o filme mantém, na realidade, a obsessão de Wenders pelos EUA – presente em vários de seus trabalhos e algo comum a alguns cineastas estrangeiros como o dinamarquês Lars Von Trier, que inclusive faz filmes sobre a América (Dançando no Escuro, Dogville, Manderlay) sem nunca ter pisado nela.

A história se passa em Los Angeles e começa exatamente dois anos depois dos atentados às torres gêmeas do World Trade Center. Em um carro cheio de parafernálias eletrônicas de vigia, o ex-veterano de guerra Paul (John Diehl) patrulha as ruas em busca de árabes suspeitos, que a qualquer momento (na sua cabeça) podem lançar um novo ataque contra os EUA. Na mesma época, chega à cidade a jovem e engajada Lana (Michelle Williams, de O Segredo de Brokeback Mountain), que passou boa parte da vida em países da África e em Israel e decide voltar ao país natal para prestar serviços comunitários. Lana irá cruzar com Paul e descobrirá que ele é na verdade o tio com quem perdera o contato há muitos anos. Os dois se aproximam, mas a jovem, que voltou aos EUA para resgatar sua identidade com o país, não entende a paranóia que tomou conta da América e do próprio tio.

Um clima de perplexidade dá o tom de toda a trama, com o discurso de Wenders casando exatamente com o esperado pelo público que vive atualmente fora dos EUA – mostrando a paranóia americana e o antiamericanismo aflorando pelo mundo. Não que essas visões não sejam válidas, mas o filme não acrescenta muito ao que já se sabe ou se pensa sobre o tema. Por sua trajetória e importância no cinema, pelo tempo que observa e analisa os EUA e pela riqueza do tema tratado, o diretor poderia ter assumido alguns riscos e se aprofundado mais nas questões que levanta. GGG

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