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Piadas atuais

Ao interagir com o público e abordar temas atuais, o espetáculo flertou com o stand-up comedy.

A piada que provocou a risada mais ruidosa da plateia fazia menção ao papa Francisco. "Desde quando argentino tem consciência?", provocou o artista ao ser indagado sobre se até sua Santidade tinha consciência pesada.

O comercial de Tom Zé para a Coca-Cola, a morte do cantor Chorão e a eleição do pastor Marco Feliciano para a comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal também não passaram impunes. Mas também houve momentos com referências mais remotas, para quem tem mais de 30 anos. Afinal, quem mais saberia o que é Modess?

Paraná no palco

Não faltaram ironias mais locais no texto do espetáculo.

Um comediante criticou a comida de um bar da capital. Em outro momento, a quantidade de pessoas vestindo camisa xadrez na plateia fez os personagens comentarem: "Curitiba parece uma grande festa junina".

Até a Gazeta do Povo esteve em cena – o jornal foi simuladamente lido por um ator que interpretava Angeli.

O público se divertiu, mas certamente percebeu que faltou mais tempo de ensaio para que a peça "Parlapatões revistam Angeli" conseguisse uma estreia nacional em altíssimo estilo. Na noite desta terça-feira(26), os personagens de um dos mais relevantes cartunistas do Brasil ganharam vida e movimento no palco. E falaram, como falaram! Desta vez sem balõezinhos de diálogo.

Foi uma experimentação de comédia costurada em vários formatos: cenas curtas alternadas por esquetes mais complexas, improvisações, partes cantadas, stand-up e textos lidos. No horário previsto para o início da peça, 21 horas, o público ainda estava do lado de fora do auditório. O espetáculo começou com pouco mais de meia hora de atraso porque havia vários "últimos detalhes" a serem revistos no ensaio que aconteceu poucos instantes antes da estreia.. Ficou evidente que os artistas não estavam completamente seguros quanto ao texto e que os dois meses para montar toda a produção foram insuficientes. Especialmente as partes musicadas pareciam pouco profissionais.

No início da peça são as esguichadas de muita saliva do personagem Bob Cuspe que arrancaram gargalhadas da plateia. Desenhos estáticos ou animados de Angeli serviam de cenário, projetados em um telão, servindo de ponte para a interação com o elenco. A peça foi fruto de um desafio apresentado pela produção do Festival de Curitiba ao grupo teatral. A intenção era misturar vários elementos artísticos, como cartum, musical e comédia.

Espectador Angeli

Da plateia, Angeli se viu no palco – e não apenas através de seus personagens. O cartunista foi retratado de várias formas, ora como um velho numa cadeira de rodas, ora como um tubarão. E também foi interpretado por diversos atores da peça. Os Skrotinhos foram os mais hilários e Rê Bordosa, a mais parecida com o original. Os narizes artificiais usados pelos atores funcionaram bem no palco – deram o ar caricato aos personagens dos quadrinhos. Era bem perceptível a inclusão de cenas que lembravam as tirinhas em três tempos, formato típico de publicação de cartum em jornal. Elas serviam de passagem de cena, entre histórias mais elaboradas, tiradas basicamente da revista "Chiclete com Banana".

"Foi um impacto", resumiu Angeli, sobre a alegria de ver suas criaturas em ação. Ele confessou que não tinha visto nem os ensaios. "Foi uma das melhores estreias da minha vida", disparou o diretor Hugo Possolo ao abraçar Angeli no final da peça.

Com o timing do humor e o jogo de cintura próprios dos comediantes, os atores buscaram brincar com as pequenas falhas em cena. Até o objeto cênico usado para diminuir o tamanho dos atores a ponto de ficarem do tamanho esperado para os Skrotinhos foi uma deixa para o improviso. A dificuldade para andar pelo palco dentro da caixa de madeira virou motivo de piada. Não poucas vezes os atores acabaram rindo de si mesmos. Mas também aconteceram problemas que realmente interferiram no andamento do espetáculo. Algumas falas estavam bem difíceis de entender: ou o texto ficou enrolado na boca dos atores ou em som baixo demais para se ouvir a distância.

O humor sujo, os palavrões e a atitude sexo, drogas e rock'n roll estavam bem presentes. As músicas, aliás, foram compostas pelo integrante dos Titãs Branco Mello e por Emerson Villani, da banda Funk Como Le Gusta. "Foi um prazer muito mais do que uma dificuldade", respondeu Branco sobre o desafio de criar o repertório. "Tenho uma certa intimidade com o Angeli. Somos de uma geração muito próxima", comenta. Não é a primeira experiência do titã com montagens cênicas. O filme "Vai que dá certo", em cartaz nos cinemas, tem trilha feita por ele. A peça "Jacinta" contou com 20 músicas de Branco e até mesmo os Parlapatões, no espetáculo Oceano, já lançaram mão das partituras escritas pelo músico.

Depois das apresentações no Festival, a montagem segue para uma temporada paulistana. Passada a rebordosa da estreia (com o perdão do trocadilho), São Paulo verá melhor o que Curitiba viu primeiro.

Serviço Parlapatões revistam AngeliDireção de Hugo Possolo. Elenco: Hugo Possolo, Paula Cohen, Rodrigo Mangal, Hélio Pottes e Raul Barretto. Última apresentação dia 28/03, às 21 horas. Auditório do Colégio Marista Santa Maria: Rua Joaquim de Matos Barreto, 98 – São Lourenço, (41) 3074-2531Ingressos disponíveis a R$ 60 e R$ 30 (meia).

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