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Já era hora. O pernambucano Paulo Freire acaba de receber uma biografia à altura do legado que deixou para a educação mundial. A autora é uma profunda conhecedora da vida e da obra de seu protagonista e encarou como missão os sete anos que levou para escrever o livro. Pudera. Ela é Ana Maria Araújo Freire, viúva de Paulo Freire. Hoje à noite, Nita – como gosta de ser chamada – estará em Curitiba para o lançamento de Paulo Freire – Uma História de Vida (Editora Villa das Letras, 655 págs., R$50), na livraria Arte & Letra.

Nita era criança quando conheceu Paulo Freire. Sem condições de pagar os estudos secundários do filho, o futuro educador conseguiu uma bolsa com o proprietário da Escola Oswaldo Cruz, Aluízio Pessoa de Araújo, pai da menina. Quando se casou, Nita mudou-se para São Paulo, mas sempre que visitava os pais em Recife encontrava Paulo e sua mulher. "Paulo tinha um grande sentimento de gratidão pelo meu pai. Estava sempre presente lá em casa", conta. A sucessão de encontros e desencontros ao longo da vida terminaria em casamento, na década de 80, quando os dois já eram viúvos. Ela conta que ele costumava dizer, em tom de brincadeira: "Mudamos a natureza de nossas relações. De alunos e amigos nós nos tornamos marido e mulher".

A paixão comum pela educação fez com que o casal passasse a exercitar uma parceria profícua. "No primeiro livro que escreveu após o casamento, Pedagogia da Esperança, ele me convidou para fazer as notas explicativas", conta Nita. Quando morreu, em 1997, o educador deixou um testamento que a nomeava como sucessora legal de sua obra. A educadora assumiu prontamente a responsabilidade e, desde então, vem publicando textos inéditos do marido, como Pedagogia da Indignação e Pedagogia dos Sonhos. Neste ano, o livro Pedagogia da Tolerância ganhou o Prêmio Jabuti em Educação.

Amor com rigor

Nita escreveu as 655 páginas do livro em primeira pessoa. Não teve medo de deixar transparecer seus sentimentos. "Contei a história de Paulo com muito rigor científico, mas há o lado afetivo, as emoções à flor da pele. Ninguém tem neutralidade quando escreve. Deixei fluir meus sentimentos, sem os podar. Isso não significa que não fui objetiva na análise dos fatos", conta. Ela narra a trajetória do educador em ordem cronológica, desde seu nascimento até os últimos instantes de vida. Mas não esquece de mencionar o lado "livre, brincalhão, bem-humorado, generoso e coerente" do homem Paulo Freire.

A autora reuniu farta documentação, como cartas (entre elas, a que Indira Gandhi escreveu para o educador), fotografias e a transcrição do inquérito policial que Paulo Freire respondeu quando foi preso, em 1964, durante a ditadura militar. O educador tornou-se conhecido mundialmente pelo seu método pedagógico a serviço da alfabetização e da conscientização política de jovens e adultos operários. Suas idéias fortaleceram a ação dos principais movimentos sociais do país. "Frei Betto (ele próprio, articulador de movimentos sociais), costuma dizer que Lula chegou ao poder muito mais pela pedagogia de Paulo do que pelas lutas marxistas em sindicatos", diz Nita. E completa: "Paulo dizia que a chegada do povo ao poder é para mudá-lo. Mas a gente vê que isso ainda não aconteceu". Ela tenta imaginar os pensamentos do marido se ele estivesse vivo. "Às vezes acho que ele ficaria meio desesperançado, mas, por outro lado, estimulado a construir novos sonhos para mudar o amanhã".

Serviço: Sessão de autógrafos e lançamento do livro Paulo Freire – Uma História de Vida (Ed. Villa das Letras, 655 págs., R$50), de Ana Maria Araújo Freire. Arte & Letra Livraria (Al. Presidente Taunay, 40, dentro do Lucca Cafés Especiais), (41) 3039-6895.

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