
Desde o dia 22 de agosto de 2002, ou seja, há mais de oito anos, a peça Nosso Lar está em cartaz no Teatro Rodrigo dOliveira, em Curitiba. A versão dramática do texto de Chico Xavier já foi apresentada mais de 600 vezes. Atualmente, a montagem segue em temporada permanente, encenada todo domingo, às 19 horas.
O diretor, ator e proprietário do teatro, Rodrigo dOliveira, de 49 anos, acredita que o filme homônimo recém-lançado deve levar ainda mais gente ao seu espaço cênico, que tem apenas 42 cadeiras. "Afinal, o espiritismo está atraindo cada vez mais pessoas, que estão em busca de transformar as suas próprias existências", diz.
O espiritismo mudou a vida de Oliveira, nascido em Marilândia do Sul, no interior do Paraná. Ele veio para Curitiba na década de 1970 com o objetivo de fazer e sobreviver de teatro. O sonho, hoje realidade, demorou mais de três décadas para se concretizar. Antes de atuar e dirigir, ele fez um pouco de tudo. Trabalhou em praticamente todas as pastelarias da capital, e se tornou cabeleireiro.
Em 2005, levou a montagem de Nosso Lar para o Nordeste e, a partir de então, as benesses do mundo físico começaram, mesmo que em proporções tímidas, a se materializar ao seu redor.
A curiosidade fundamental
Naquela turnê, que rendeu dinheiro para Oliveira fechar o salão de corte de cabelo e investir toda a energia no teatro, a veterana atriz Regina Bastos estava no elenco de Nosso Lar. Ela participou de apresentações para "muitas milhares" de pessoas em Fortaleza, Teresina, Salvador, Natal e Maceió e tem uma tese a respeito do porquê da boa aceitação do espetáculo.
"Uma das grandes questões do ser humano é a respeito do que será depois da morte, e o texto do Chico Xavier trata justamente desse assunto. Se o que acontece em Nosso Lar é verdade, não sei. Mas seria muito bom se tudo aquilo (que o Chico Xavier psicografou) viesse a acontecer", comenta.
Regina diz encontrar satisfação profissional tanto ao fazer A Vida Como Ela É, em cartaz até amanhã no Mini-Guaíra, quanto naquele período em que atuava em Nosso Lar. Afinal, para ela, o ceticismo de Nelson Rodrigues tem o seu encanto, mas a esperança de Chico Xavier é necessária. "O texto de Nosso Lar é uma maravilha. Para mim, foi um privilégio poder dizer coisas bonitas, com mensagens positivas, no palco", afirma a atriz, que não é espírita, mas diz acreditar, depois de 40 anos de experiência com teatro, em uma das máximas do espiritismo: "A gente colhe aquilo que planta".
Impasses da transcendência
Nos dias 17 e 18 de agosto, a trupe de Oliveira apresentou Nosso Lar durante a 8.ª Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza. A exemplo do que aconteceu durante a primeira turnê nordestina, nesta viagem recente também houve calorosa recepção do público.
Carolina Ramos, que interpreta uma mentora espiritual, analisa que o sucesso da montagem é reflexo da perturbação que "reina" no mundo contemporâneo. "De modo geral, as pessoas, por mais que consigam bens materiais, estão sentindo falta de reflexão sobre a vida espiritual. A peça apresenta boas explicações sobre a vida depois da morte", diz.
A atriz é evangélica e experimenta algum desconforto por participar da montagem. A Congregação Cristã do Brasil, a igreja que ela frequenta, não admite a ideia de vida depois da morte, assunto central de Nosso Lar. Carolina entende que, diante dos inevitáveis obstáculos que aparecem no caminho de todos os seres humanos, "é reconfortante saber que, após a morte, pode haver uma cidade como a descrita em Nosso Lar".
Existe acaso?
Rodrigo dOliveira costuma repetir ao longo do dia a frase "nada é por acaso", que ele enunciou mais de 20 vezes durante a entrevista concedida à Gazeta do Povo. Ele interpreta que a exibição do filme, a ótima repercussão da peça e o interesse da população pelo espiritismo não é algo aleatório. "É um sinal dos tempos. Nessa atual crise mundial, apenas a prática da doutrina espírita pode salvar os humanos de um completo colapso que parece estar anunciado", finaliza o ator e diretor que é convicto da missão de difundir as "boas-novas" espíritas.
Serviço
Nosso Lar. Teatro Rodrigo dOliveira (R. Carlos de Carvalho, 418), (41) 3223-2205. Texto de Chico Xavier. Adaptação e direção de Rodrigo DOliveira. Com Rodrigo DOliveira, Carolina Ramos e Luthero Almeida. Dom. às 19h. R$20 e R$10.




